Skip to main content

No filme “Sim Senhor” (2008), o ator Jim Carry vive Carl Allen. Na trama, após participar de um evento de autoajuda, a personagem passa a dizer sim para tudo que lhe aconteça. Desse modo, a vida de Carl muda radicalmente. No entanto, ele não demora a perceber que concordar com tudo e com todos não é tão produtivo como parece. De maneira idêntica ao ocorrido no filme, muitos brasileiros enfrentam diversos problemas ao adotarem a conduta de dizer ‘sim’ indiscriminadamente. Na verdade, o problema reside inassertividade. Isto é, na dificuldade para posicionar-se e dizer não.

Dizer não- por que é tão difícil? Elídio Almeida psicólogo em Salvador

Dizer ‘não’ tem lá suas dificuldades

Somente quem vive dilemas semelhantes ao de Call Allen sabe como é difícil dizer não. Geralmente, ao se posicionar de forma contrária às expectativas de terceiros,  alguns indivíduos sofrem uma série de retaliações. Por exemplo, não raro essa parte da sociedade é julgada e taxada como intransigente. De maneira idêntica, também são expelidas dos grupos sociais e das relações. Assim, aqueles que têm dificuldade para “dizer não”, acreditam que esse comportamento fere, magoa e é ofensivo. Não por acaso criam regras as quais evitam a qualquer custo frustrar o outro. Tais comportamentos desacertados apresentam a intenção de evitar que as pessoas se afastem delas. Ou seja, as experiências corroboram erroneamente com a previsão de que “dizer não” é prejudicial às relações. 

Justamente por essa previsibilidade equivocada das consequências que o ato de “dizer não” é mais complexo do que muitas pessoas pensam. De fato, é esperado que a outra parte se frustre diante de uma negativa à sua expectativa. No entanto, não é apenas essa perspectiva que deve ser considerada na escolha entre um sim ou um não. Torna-se fundamental que também sejam incluídas nessa análise o sentimento e as emoções daquele que está na iminência de se posicionar. Ou seja, é necessário questionar todos os resultados dessa tentativa de evitar uma frustração no outro. Inclusive, e principalmente, se implicando em tal investida. 

como aprender a dizer não - Elídio Almeida psicólogo em Salvador

Expectativa versus frustração,

Muitas vezes o aparentemente inofensivo ato de dizer ‘sim’ pode gerar uma frustração ainda maior para o emissor. Isso ocorre mesmo quando a intenção é dar um exemplo com vistas a ter uma reciprocidade no futuro. Em muitos casos, esse gesto de querer agradar o outro desencadeia a intensidade do binômio expectativa versus frustração, sem garantias de reciprocidade. Além do mais, nenhuma relação se mantém viva por muito tempo diante desse modo de existência pautado em vantagens unilaterais.

Tem de ser bom para todos

Alguns modelos de formação religiosa, social e moral pregam a premissa basilar de sempre fazer o bem para o próximo. Isso é muito bacana. No entanto, essa lógica deve ser acrescida da ideia de que o bem para o próximo deve ser benéfica ao emissor também. Na prática, lamentavelmente, poucas pessoas levam esse complemento em consideração. Não por acaso, criam distorcidas regras que visam o bem-estar do outro sem se implicarem nessa satisfação. Assim, nasce o principal fator de frustração e comprometimento de qualquer relação, seja ela social, profissional ou amorosa. Afinal, a adoção e emissão de qualquer comportamento deve ser benéfica para todos. Ou seja, jamais uma mera moeda de troca ou um ato de investimento sem maiores garantias de retorno.

Em muitos casos, “dizer não” é muito mais que imprimir frustração no outro. Tampouco é uma ação que representará rechaçamento ou exclusão. Na maioria das situações, a negativa, quando apresentada de forma segura e contextualizada, favorece o estabelecimento dos limites essenciais ao desenvolvimento saudável da relação. Por exemplo, uma amizade verdadeira não deve terminar somente pelo fato de você ter negado um empréstimo. De maneira similar, não se pode esperar que a outra parte fique saltando de alegria quando sua expectativa é quebrada. Na verdade, esses episódios devem servir para que os envolvidos dessa conexão se conheçam melhor. Por conseguinte, tal postura contribui significativamente para que elas consigam estabelecer as fronteiras do convívio com solidez, trazendo seguranças e prosperidade à relação. 

Dizer não- por que é tão difícil? Elídio Almeida psicólogo em Salvador

“Dizer não” aumenta a admiração

Você acha que isso soa de maneira estranha, não é verdade? Mesmo assim, vamos fazer um rápido teste para compreender que tipo de pessoa você admiraria mais: 

(1) Você aprecia mais aquela pessoa segura de si, que consegue dizer não e ser assertiva, que posiciona-se sem ofender aos demais? 

Ou

(2) aquela que se mostra insegura, vive em cima do muro e diz ‘sim’ para todos? Que faz tudo para agradar aos outros, mesmo que ela precise se anular para tentar obter algum retorno dos demais?

Provavelmente, sua escolha foi a primeira opção. Assim, da mesma forma que você, as outras pessoas também admiram as pessoas assertivas: aquelas que ao dizer “não”, fazem isso de forma segura e não ofendem as demais. 

Dizer não- por que é tão difícil? Elídio Almeida psicólogo em Salvador

“Dizer não” é um comportamento necessário

Por isso que a personagem de Jim Carry errou ao acreditar que dizer “sim” para tudo seria solução para todos os problemas da sua vida. Similarmente, aqueles que procuram sempre dizer sim para conquistar a admiração ou respeito acabam percebendo que essa não é a fórmula do bem-estar pessoal e o sucesso das relações. Em vista disso, considere que “dizer não” é um comportamento necessário.Em suma, fazê-lo pode ser confortável para você, para a outra pessoa e, principalmente para a relação. Engana-se aqueles acreditam que dizer ‘sim’ a tudo é a melhor opção, inclusive para fugir dos problemas. Pense nisso!

Elídio Almeida

Psicólogo em Salvador, formado pela Universidade Federal da Bahia (UFBA) e especializado em Terapia de Casal e Relacionamentos (CRP). Possui também pós-graduação em Psicologia Clínica pela Universidade do Estado da Bahia (UNEB). Dedica-se à prática clínica, oferecendo acompanhamento terapêutico a casais, famílias e atendimento individual para adultos. Além disso, ministra cursos e palestras na área.

Deixe uma resposta