Em diversas postagens aqui no blog, abordei a relação das pessoas com o celular, a internet e as redes sociais. Na maioria dessas publicações, destaquei as dificuldades e prejuízos que o uso desmedido desses recursos poderia ocasionar às relações sociais, profissionais, familiares e amorosas. Ainda assim, muitas pessoas valorizam cada vez mais a interação com os algoritmos e realidades virtuais. De maneira similar, investem massivamente em relações intermediadas por aparelhos eletrônicos, a exemplo dos aplicativos de mensagem instantânea. Esse conjunto de ações relacionadas ao uso excessivo da tecnologia ocorre em detrimento do cultivo e manutenção das relações interpessoais diretas. No entanto, a pandemia em curso, bem como o isolamento social para lidar com o COVID-19 mostra o contrário: o convívio presencial e direto com outras pessoas é insubstituível e fundamental ao bem-estar humano.
Nem só de celular viverá o homem
Brasil é o segundo país do mundo a passar mais tempo na internet (fonte). A partir desse índice, é possível inferir que grande parte dos brasileiros dosam a rotina e relações interpessoais por meio dos smartphones e computadores. Agora, devido ao isolamento social imposto pelo novo Coronavírus, a fração efetiva do convívio com as demais pessoas ficou altamente limitada. Ou seja, trancados em casa, sem escolas, faculdades, academia ou trabalhando remotamente, a quarentena trouxe uma realidade que muitos já estavam desacostumados: perceber a importância das relações sem o uso da tecnologia.
Com isso, é notório tanto o crescente relato das queixas acerca da solidão, quanto a dificuldade diante do convívio familiar tão intenso.
A pressão psicológica do isolamento social na pandemia
Mais do que nunca, a população tem à sua disposição as redes sociais – WhatsApp, Instagram, Facebook e serviços de streaming. Recursos estes, comumente defendidos como substitutos ou necessários às relações interpessoais. De acordo com essa lógica, era de se esperar que as pessoas estivessem muito bem, obrigado! Contudo, não é o que se vê. Ou seja, apesar de ter várias ferramentas à disposição, todos queixam-se quanto ao isolamento social. Na prática, sentem falta dos beijos, abraços, encontros e confraternizações físicas. Afinal, emojis, sticks, chats e videoconferências não são suficientes para suprimir as necessidades humanas, especialmente nesse momento.
Nessa mesma perspectiva, constata-se que parte da população não está preparada ou saberá lidar com a pressão psicológica desse isolamento social. Em outras palavras, o quadro imposto pelo novo Coronavírus requer não apenas o enfrentamento do potencial letal do COVID-19. É necessário, também em nome da sobrevivência, manter a sanidade emocional e psicológica preservadas. Contudo, tal necessidade é diretamente impactada por pelo menos dois aspectos:
- O distanciamento social arbitrado pela pandemia do Coronavírus. Afinal, a quarentena implica em distanciamento físico e isolamento.
- A soma de prejuízos decorrente da falta de prática no exercício de interação direta entre as pessoas. Deve-se tal prática à praxe do uso indiscriminado dos recursos tecnológicos nas relações.
Com isso, muitos estão se dando conta que não sabem ou perderam o know-how nas relações interpessoais diretas. Ou seja sem o auxílio da internet, computadores, celulares e afins. Outros estão frustrados ao perceber que recorrer às redes sociais, passar horas a fio, dia após dia, na internet não é suficiente ao bem-estar emocional e psicológico.
Lamentavelmente, tal constatação ocorre justamente num momento tão delicado como este: uma pandemia sem precedentes na história recente da humanidade.
O legado do coronavírus
Embora ainda saiba-se muito pouco acerca do Codiv-19, é certo que haverá um legado de sua passagem pelo mundo. Até então, é precoce fazer qualquer prognóstico preciso. Contudo, é inegável o papel dos smartphones, da internet, dos streaming e das redes sociais durante e após esse processo. Especialmente, no que tange à constatação que o convívio presencial e direto com outras pessoas é insubstituível e fundamental ao bem-estar humano.
Talvez, a partir de agora, as pessoas saibam dosar a interação por meio dos recursos tecnológicos. Quem sabe a pressão psicológica, a solidão e ansiedade vividas nesse momento apontem para um novo futuro: mais pessoal e humano. Com isso, se devidamente processados e internalizados, a humanidade pode ter um novo futuro pela frente. Este talvez seja o principal legado desse episódio de calamidade.