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Na década de 90 o grupo de pagode Molejo fez sucesso em todo o Brasil. Dentre as canções do grupo uma das mais repercutidas, sem dúvidas, foi a música“Cilada”. Nela, é narrada a história de um rapaz que teria criado expectativas unilaterais em um relacionamento, porém sua teimosia não permitiu enxergar o engano que estava se envolvendo. Assim como a personagem do Molejo, muitas pessoas tentam construir um relacionamento observando apenas o próprio desejo e expectativas pessoais. Isto é, deixam de considerar e analisar o comportamento do par; supervalorizando o ideal de sucesso da relação. Tal atitude é equivocada. Por isso, muitos relacionamentos aparentam amor, mas não passam de cilada e teimosia.

A teimosia e a incompatibilidade da relação

Na tentativa de construir um relacionamento amoroso bem-sucedido, algumas desconsideram que qualquer relação é formada por pares. Tal postura faz com que elas adotem uma conduta de sustentação unilateral desse convívio. Isto é, na prática, investem no namoro ou casamento de modo a negligenciar dissabores e incompatibilidades da relação. Tudo isso no intuito de evoluir, tentando fazer o relacionamento dar certo. Por isso, aqueles que apresentam esse comportamento são vistos como cabeça dura ou teimosos. Dito em outras palavras, são pessoas com ideias e posições muito rígidas a respeito de tudo, especialmente na crença que elas próprias criaram, em que o investimento na relação terá que valer a pena, não importa o custo que isso represente. Justamente por essa conduta inadequada elas têm dificuldade em ouvir, enxergar e compreender quem está ao seu lado. Ou seja, um perfil completamente oposto ao que se espera de uma relação saudável.

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Insistir demasiadamente num relacionamento que não é recíproco pode indicar algum transtorno emocional.

Muito além da teimosia

Apesar da frustração iminente que a pessoa teimosa impõe a todas as partes da relação, é importante atentar para alguns fatores. Em primeiro lugar, é comum que, apesar das adversidades presentes na relação, reine na pessoa teimosa o desejo de que aquilo seja ou se torne amor. Esta lógica conduz a posturas como: fazer vistas grossas aos conflitos do relacionamento, renegando ao par o mero papel de figurante deste enredo. Em segundo lugar, essa visão unilateral da relação, associada a posturas rígidas e autoritárias, podem ser vistas como um comportamento de teimosia. Porém, a frequência dessa postura pode ter como base certos quadros patológicos, a exemplo do TOC e outras obsessões. Ou seja, não é apenas uma questão de pensamento positivo, alguém com alto grau de determinação ou teimosia. Tudo isso pode ser sinal de uma pessoa com sérios transtornos psicológicos. 

Separando joio do trigo

Todos podem ter o genuíno desejo de construir uma relação amorosa bem-sucedida. Para isso, é indispensável que tal propósito esteja em sintonia com a outra parte. Isso quer dizer que não vale a pena se apegar à regra particular e unilateralmente construída e mantida para dar sustentabilidade à relação. Apesar do anunciado fracasso desse método, muitas pessoas hipervalorizam essa intenção de evolução e sucesso do convívio pautado na construção da vivência do desejo pessoal. Além disso, conforme dito acima, pessoas muito rígidas e intuídas nesse propósito podem camuflar transtornos emocionais e psicopatológicos. Por isso, é importante lançar luz sobre a relação e o perfil das pessoas que formam esse convívio. Somente assim, são identificados e separados aquilo que é amor e o que é teimosia. Afinal, há pessoas que querem tanto que uma relação seja amor, embora as atitudes denunciam sucessivos atos de teimosia e ciladas.

Elídio Almeida

Psicólogo em Salvador, formado pela Universidade Federal da Bahia (UFBA) e especializado em Terapia de Casal e Relacionamentos (CRP). Possui também pós-graduação em Psicologia Clínica pela Universidade do Estado da Bahia (UNEB). Dedica-se à prática clínica, oferecendo acompanhamento terapêutico a casais, famílias e atendimento individual para adultos. Além disso, ministra cursos e palestras na área.

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