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Reagir a assalto – Hoje recebi no consultório a equipe da Record Bahia para gravarmos uma entrevista sobre reações instintivas em situação de assalto e perigo.
A matéria vai ao ar amanhã na programação da emissora e foi motivada pelos recentes e constantes casos de pessoas que são assassinadas em situações e reações a assaltos. Durante a entrevista procurei destacar dois pontos.
Primeiro levar para as pessoas um entendimento das razões que podem levar alguém a “reagir” em uma situação de assalto. Em seguida, destaquei como ocorrem os traumas e a importância de sabermos identificar as situações de risco para agirmos adequada e preventivamente.
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Os riscos de reagir a assalto.

Constantemente ouvimos e fomos ensinados que nunca se deve reagir a um assalto. Porém, muitas vezes, temos notícias de casos em que as pessoas reagiram e o resultado não foi nada bom. Mesmo sabendo que não se deve reagir a assalto, há várias razões que levam uma pessoa a isso durante uma abordagem, porém, um desses motivos é pouco destacado nessas situações que é o comportamento reflexo ou comportamento inato.
O comportamento reflexo ou instintivo é aquele que faz parte da bagagem filogenética (história de vida da humanidade), no qual temos um padrão de comportamental próprio para reagir em situações específicas como: início da interação do indivíduo com o ambiente, sua adaptação, sobrevivência e reações diante de situações de perigo.
Ou seja, é inerente ao nosso organismo o comportamento de defesa e isso supera, inclusive, nossas aprendizagem mais racionais.
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Nesse sentido é que as pessoas, principalmente algumas mídias que divulgam as notícias sobre reações a assaltos, precisam considerar que mais do que um ato impensado ou irresponsável com a própria vida/segurança, aquilo que chamamos de “reação a assalto” pode ser um ato reflexo, uma reação à mudança do ambiente ou presença de um sinal de perigo; algo da mesma categoria da resposta que emitimos quando levamos um susto trivial.
Isso significa que são respostas do organismo e mesmo que tenhamos orientações e aprendizados para não nos comportarmos dessa forma, a bagagem filogenética tende a “falar” mais alto nessas horas.
A ameaça de um assalto, por exemplo, é uma mudança brusca no ambiente e por isso as pessoas apresentam respostas reflexas a essa alteração. Isso é comum a todos os organismos, humanos e não-humanos.

Risco de reagir a assalto

Considerar essa bagagem nos ajuda a entender por que muitas dessas ações de assalto terminam em tragédias. Ao ser abordada durante um assalto, uma pessoa pode (reflexivamente) por uma das mão dentro da bolsa, talvez num ato de tentar preservar os documentos, por exemplo.
Todavia, reflexivamente, também, o assaltante pode entender aquele ato como uma tentativa de apanhar uma arma e com isso pode disparar em defesa de sua crença. Em outras palavras, essas respostas são padrões fixos de ação e fazem parte do repertório comportamental de todos os seres, e podem, também, ser chamados de instintos, em que todos os envolvidos estão sujeitos às mesmas leis.
Por isso é importante que as pessoas busquem ajuda antes mesmo de se depararem com situações desse tipo, para poder agir de forma mais adequada.
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Traumas de assaltos

Muitas pessoas me perguntam (e também procurei destacar isso na entrevista) sobre os traumas para quem sobrevive aos assaltos ou presenciam cenas chocantes e assustadoras nessas situações.
Nesses casos, acontece um fenômeno chamado de generalização respondeste, que é o fenômeno em que situações parecidas com um evento traumático também provoca uma resposta tal qual a vivida na hora do trauma devido a similaridade física e ambiental que possuem.
A magnitude da resposta, neste caso, dependerá do grau de semelhança entre os dois estímulos em questão e na psicoterapia fazemos um processo de dessensibilização para que a pessoa volte a viver normalmente.
As informações instintivas podem ser trabalhadas e aprimoradas em psicoterapia, e as informações de nunca reagir a assaltos são altamente importantes.
Uma dica que costumo passar para meus pacientes é que somadas a outras estratégias, nós devemos saber identificar os comportamentos e contextos que nos oferecem perigo preventivamente, para termos maior controle sobre nossas respostas reflexas.
Como estamos sujeitos a leis do nosso organismo que trazem consigo aprendizados do desenvolvimento humano, vale lembrar que nossa história também tenta nos ensinar que a prevenção é o melhor remédio para muitos males que vivemos nos dias atuais. Por isso, previna-se.

Elídio Almeida

Psicólogo em Salvador, formado pela Universidade Federal da Bahia (UFBA) e especializado em Terapia de Casal e Relacionamentos (CRP). Possui também pós-graduação em Psicologia Clínica pela Universidade do Estado da Bahia (UNEB). Dedica-se à prática clínica, oferecendo acompanhamento terapêutico a casais, famílias e atendimento individual para adultos. Além disso, ministra cursos e palestras na área.

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