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No filme espanhol “Donde caben dos”, lançado no Brasil com o título de “Se organizar direitinho…”, ocorre um feito inusitado. Na trama, após diversas experiências durante sua despedida de solteira, a noiva chega à conclusão que não deveria se casar. Assim, na tentativa de comunicar sua decisão ao noivo, vai à despedida de solteiro dele e o flagra trasando com outra mulher. Contudo, ao invés de terminar o relacionamento, ambos concluem que experiências sexuais com terceiros não comprometeria o convívio do casal. Na vida de muitos pares amorosos, obviamente, os encaminhamentos e o desfecho de tal situação certamente não seriam os mesmos. Por isso, é importante compreender que a traição é uma escolha e esta pode trazer muitos danos ao relacionamento. Além disso, é fundamental considerar que as pessoas têm conceitos muito distintos acerca do que seria considerado uma traição; razão pela qual o tema deve estar esclarecido e alinhado na relação.

Sim, traição é uma escolha

Até onde se sabe, nenhum homem ou mulher foi obrigado ou forçada a trair. Mesmo assim, aqueles que afirmam o contrário certamente estão mentindo. Isto, pois, toda traição é uma escolha na qual sempre existe a opção de agir de modo a não cometer este ato tido como infracional para muitos relacionamentos amorosos. Assim, além de compreender que todos podem, a qualquer momento, contar com diversas rotas para fugir ou se esquivar do ato de trair, é fundamental compreender que a infidelidade costuma trazer muitos danos ao namoro ou casamento.

No entanto, lamentavelmente, muitos desconsideram os danos que uma traição pode impor ao relacionamento. Por isso, é imprescindível que o casal discuta o tema e estabeleça um entendimento acerca da infidelidade. Tal atitude contribui para a construção de um possível consenso ou código de conduta para a relação. Também, por outro lado, alinhar os entendimentos acerca da traição contribui para que os pares se conheçam melhor, especialmente nas fases iniciais do relacionamento. Assim, será possível estabelecer previamente as possíveis consequências para o caso de uma das partes escolher quebrar a confiança da relação.

Considerar que a traição é uma escolha ajuda na compreensão da questão em sua origem.
Considerar que a traição é uma escolha ajuda na compreensão da questão em sua origem.

O conceito de infidelidade varia

A construção de um relacionamento saudável passa pela discussão, alinhamento e entendimento a respeito de temas importantes para o casal. Por exemplo da possibilidade de uma traição. Mesmo assim, algumas pessoas evitam abordar temas desse tipo na relação amorosa, enquanto outros consideram que tal abordagem seja completamente desnecessária. Por isso, cabe alertar que o conceito de infidelidade varia de pessoa para pessoa, de relação para relação. A título de ilustração, há pessoas que entendem que uma traição ocorre desde o momento que o par escolhe dar vazão ao desejo ou admiração por outra pessoa. Outros, contudo, acreditam que a infidelidade acontece apenas se houver contato físico/sexual com terceiros. Ainda nesse sentido, existem aqueles que consideram a existência de uma traição apenas quando há, além dos envolvimentos citados anteriormente, o envolvimento sentimental entre o par e outra pessoa.

Assim, justamente pela gama de conceitos sobre o que seria traição, é fundamental que o casal tenha um entendimento consensual sobre tal conduta e sua ocorrência no relacionamento. Afinal, aquilo que pode ser “bobagem” para um, pode ter um significado completamente distinto para o outro. Do mesmo modo, o impacto e os estragos podem ser bastante dissonantes. Por isso, algumas pessoas se sentem mais à vontade para escolher a traição. Para elas, conforme o próprio julgamento, a traição é uma escolha que trivial, sem importância ou impacto na relação. Por fim, o filme citado no início deste texto mostra, de maneira lúdica, como a traição é uma escolha. Recomendo, sem dúvidas a experiência vai gerar algumas reflexões.

Elídio Almeida

Psicólogo em Salvador, formado pela Universidade Federal da Bahia (UFBA) e especializado em Terapia de Casal e Relacionamentos (CRP). Possui também pós-graduação em Psicologia Clínica pela Universidade do Estado da Bahia (UNEB). Dedica-se à prática clínica, oferecendo acompanhamento terapêutico a casais, famílias e atendimento individual para adultos. Além disso, ministra cursos e palestras na área.

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