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Traumas vivenciados pelos pais e que alcançam os filhos

Em entrevista recente, o médico húngaro-canadense Gabor Maté — especialista em desenvolvimento infantil e autor do livro O Mito do Normal — compartilhou uma reflexão poderosa que pode nos ajudar a pensar os benefícios da terapia de casal:

“O trauma não tratado nos pais se torna a dor inconsciente dos filhos.”

Essa afirmação, além de sensível, é um chamado à consciência. Isso porque convida, especialmente, pais e mães a olharem para dentro de si, reconhecerem seus traumas e tratarem suas feridas dores emocionais. Tudo isso com um propósito que vai além dos benefícios pessoais: não comprometer o desenvolvimento emocional dos filhos.

A reflexão de Maté é, além de genial, urgente — e precisa ser ampliada. Afinal, assim como os traumas pessoas, os traumas e conflitos vividos dentro do casamento também afetam profundamente a experiência emocional dos filhos, especialmente durante a infância e adolescência. Mais do que isso, esses padrões podem se tornar um modelo disfuncional de afeto e convivência, transmitido como herança emocional. Ou seja, um jeito de se relacionar que se repete de geração em geração — mesmo que sem intenção dos pais.

Como os traumas do casal impactam os filhos

É comum encontrar casais que permanecem juntos com o argumento de proteger os filhos de um possível trauma da separação. Como psicólogo e terapeuta de casais, frequentemente me deparo com casos assim. Mas o que muitas dessas pessoas não percebem é que manter um relacionamento desgastado, sem resolver os conflitos, também pode ferir — e profundamente — todos os envolvidos, inclusive os próprios filhos.

Mesmo que essa escolha tenha como base o bem-estar e amor por eles, a convivência dos pais, marcada por conflitos, crises, instabilidade, tensões e afastamentos constantes acaba oferecendo um modelo de relacionamento distorcido e inadequado para quem se inspira no exemplo dos pais. Ou seja, em nome de um benefício para os filhos, muitos pais propagam uma ideia de casamento moldada pela dor, pela frieza e por conflitos e desentendimentos constantes.

Afinal, muitos pais não se dão conta de como esses padrões moldam a forma como os filhos vão amar, se relacionar e construir suas próprias famílias. Mas, sem dúvidas, aquilo que é vivido no dia a dia se transforma, inevitavelmente, em referência emocional — e, mais adiante, no próprio modo de se relacionar. Inclusive, esta é uma das razões que levam tantas pessoas a repetirem — mesmo sem querer — os mesmos comportamentos do relacionamento dos pais que testemunharam na infância.

“Lidar com suas questões emocionais não é apenas um ato de autocuidado, é um legado de amor para seus filhos.”

Terapia de Casal e o modelo afetivo que ensinamos sem perceber

Nenhuma criança cresce imune ao ambiente emocional da casa. Muitas vezes, mesmo sem compreender os detalhes dos conflitos, elas percebem as tensões, os silêncios tensos, os olhares cortantes, o afeto que falta — ou que transborda de maneira agressiva e desregulada. É nesses cenários que se molda a forma como a criança vai aprender a amar — ou temer amar — no futuro.

Desse modo, filhos de casais que evitam o diálogo tendem a se tornar adultos que não sabem conversar em momentos de crise. Já aqueles que cresceram em meio a brigas constantes acabam normalizando o conflito como sinônimo de intimidade. Portanto, a transmissão desses padrões não se dá apenas por palavras ou ensinamentos diretos. Ela acontece no cotidiano:

  • Na convivência silenciosa e tensa
  • Nas emoções mal resolvidas
  • Nos gestos ausentes ou excessivos
  • Nas cenas repetidas, ano após ano

Assim, a filha que vê a mãe se anulando para manter um relacionamento pode repetir isso futuramente. O filho que cresce com um pai emocionalmente ausente pode, sem perceber, naturalizar vínculos frios e distantes. E assim, os traumas do casal se transformam em uma herança afetiva silenciosa — mas profundamente presente.

Crianças tristes observam os pais discutindo na sala de estar
O que os filhos aprendem com os conflitos entre os pais?

Terapia de casal: rompendo ciclos, protegendo gerações

Cuidar dos traumas emocionais dentro do casamento é um ato de amor — não só por si mesmo ou pelo relacionamento, mas também pelos filhos e pelas futuras gerações. Romper ciclos exige coragem, mas também suporte profissional e consciência sobre o que ocorre na relação e sobre o alcance dessas experiências.

A terapia de casal é um caminho potente para essa transformação. Ela não serve apenas para “salvar” uma relação em crise, mas para repensar o modo como os afetos estão sendo vividos — e transmitidos. Sabemos que muitos casais continuam juntos pelos filhos. Mas será que permanecer em um relacionamento adoecido também não os prejudica?

A partir da reflexão de Maté, fica o convite:

Que tal não apenas superar os traumas e conflitos do relacionamento, mas também impedir que eles se tornem herança emocional para seus filhos?

A terapia de casal pode trazer benefícios que ultrapassam o casal. Ela alcança a saúde emocional de toda a família — especialmente dos filhos, que hoje podem estar crescendo e aprendendo formas distorcidas de como o amor é vivido.


Você já percebeu padrões no seu relacionamento que parecem repetir o que viveu na infância?
Como você acredita que os conflitos dos pais influenciam a forma como os filhos se relacionam?

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