Skip to main content

Atire a primeira pedra quem nunca quis dizer algo e acabou falando outra coisa completamente diferente. Para algumas correntes da psicologia, tal acontecimento recebe o nome de ato falho. Ou seja, é uma “falha” no comportamento que pode revelar dados essenciais da situação na qual ela ocorre. Para melhor entender esse ato, é possível refletir sobre a seguinte situação:

José está num ponto de ônibus, aguardando ansiosamente o transporte, pois já está super atrasado para a faculdade. De repente, outro ônibus para no local e, neste, está um rapaz que José considera arrogante e falso. O rapaz avista José e acena, dando um tchauzinho. José pensa: “que cara de pau!” e resolve acenar também, só que, ao invés do comportamento planejado, aponta o dedo do meio para o rapaz, com um gesto obsceno. Situação embaraçosa, não é verdade? Do mesmo modo, uma garota, depois de um beijo super apaixonado, abraça o namorado e diz: “Eu te amo, Rafael”. Porém, o nome dele é Lucas! Esses são exemplos de ato falho.

Desconstruindo o Ato Falho

Claro que qualquer pessoa pode cometer esse tipo de falha e não necessariamente o gesto é sinônimo de grosseria intencional ou uma traição. Contudo, em determinadas condições, o estresse emocional, a dúvida, o medo ou o cansaço contribuem para que essas falhas ocorram com mais frequência. Seja como for, o ato falho pode ter uma função ou significado que diz algo muito importante para o contexto e para a análise do comportamento. Por isso, esses deslizes são pontes para compreender melhor determinada ocorrência.

Para que não reste dúvida acerca do ato falho, pense em um malabarista. Veja que ele está manipulando vários objetos simultaneamente. Agora, de modo a tornar a atividade mais complexa, pense que esses objetos são mais pesados ou que têm formatos diferentes. Para deixar o experimento ainda mais desafiador, suponha que alguém está distraindo o malabarista e que ele está cansado, pois não dormiu bem na noite anterior. Assim sendo, certamente as chances dele cometer uma falha serão muito maiores, concorda? Em outras palavras, o ato falho, como nos exemplos do ônibus ou da namorada, poderia ocorrer por motivos parecidos. Afinal, diversos fatores podem ter contribuído para os atos falhos apresentados.

O ato falho é fruto de eventos distintos que competem pela audiência.
O ato falho é fruto de eventos distintos que competem pela audiência.

Por isso, na psicologia comportamental, o ato falho não é tratado exclusivamente como um evento revelador dos pensamentos ocultos das pessoas. Normalmente, é considerado que a pessoa que cometeu o ato falho pode estar sob controle de vários estímulos e, de repente, as informações saem do controle e uma delas acaba escapando. Ou seja, é fruto de eventos distintos que competem pela audiência.

Tudo junto e misturado competindo pela audiência

Cometer um ato falho seria, portanto, um problema relacionado ao controle de estímulos. Na prática, podem ser pensamentos ou comportamentos internos que muitas vezes a pessoa tenta disfarçar ou esconder para evitar más interpretações e julgamentos. Por exemplo, quando alguém está nervoso ou “com muita coisa na cabeça”. Nesses contextos, a pessoa tenta controlar os diversos comportamentos internos (como pensamentos, raciocínios, imaginação, etc.). Com isso, eventualmente um ato falho pode ocorrer e a resposta inadequada pode ser emitida.

Deste modo, o ato falho é um indicativo de que a pessoa tenta controlar (sem sucesso) comportamentos diversos e conflitantes, cujas respostas associadas concorrem pela emissão. É um comportamento que, conforme os exemplos acima, traz muitas informações adicionais à análise e ajuda a compreender melhor o contexto e as situações.

Você conhece alguém que cometeu um ato falho recentemente? Este texto te ajudou a refletir sobre isso? Comente abaixo, siga minhas redes sociais ou agende uma consulta para abordarmos mais a fundo essa questão. Lembre-se, buscar ajuda é o primeiro passo para compreender e superar os desafios emocionais da vida pessoal. ;D

Elídio Almeida

Psicólogo em Salvador, formado pela Universidade Federal da Bahia (UFBA) e especializado em Terapia de Casal e Relacionamentos (CRP). Possui também pós-graduação em Psicologia Clínica pela Universidade do Estado da Bahia (UNEB). Dedica-se à prática clínica, oferecendo acompanhamento terapêutico a casais, famílias e atendimento individual para adultos. Além disso, ministra cursos e palestras na área.

5 Comments

  • Alex disse:

    O ato falho também poderia estar representado quando o marido trai sua esposa com uma pessoa próxima? Digamos que ele quisesse, inconscientemente, que a esposa descobrisse a traição, se não quisesse trairia com uma pessoa distante do seu relacionamento.

    • Olá Alex!
      Obrigado pela pergunta. Na verdade o ato falho é caracterizado por uma informação que é emitida sem a intensão ou controle da pessoa. Então, se a gente pensar que o marido arrumou uma amante e, intencionalmente, ele cria as condições para a esposa descobrir, isso não pode ser caracterizado como um ato falho. Qualquer dúvida fique à vontade para perguntar mais.

  • Alex disse:

    O ato falho também poderia estar representado quando o marido trai sua esposa com uma pessoa próxima? Digamos que ele quisesse, inconscientemente, que a esposa descobrisse a traição, se não quisesse trairia com uma pessoa distante do seu relacionamento.

  • carol disse:

    Ato falho pode ser quando vc encontra Um conhecido no supermercado e finge que nao o viu? Depois que ele te ve tb finge que nao te viu tambem. Que situacao!!!
    Por favor, responder no meu email.
    Grata.

  • Olá Carol.
    Não. Isso sim seria um ato falho: http://www.youtube.com/watch?v=3_lfOTQ-LQk
    A situação que você descreve se aproxima muito mais de algo não resolvidos entre essas pessoas que pode levar um ignorar a presença do outro. Outro fator pode ser a timidez ou receio das consequências deste contato.

Deixe uma resposta