Por que sentir culpa não resolve os problemas? – No post O que causa o sentimento de culpa? falei sobre alguns comportamentos – nossos e de outras pessoas – que fazem surgir o sentimento de culpa.
A culpa é um sentimento que acompanha muitas pessoas e precisamos levar este problema a sério para trazer mais qualidade de vida para nosso dia a dia. O principal caminho para isso é compreender que sentir culpa não ajuda em nada a resolver os problemas de nossa vida. Ao contrário, se sentir culpado(a) nos deixa, na maioria das vezes, inertes diante da situação, sem ânimo ou motivação para fazer o que deve ser feito.
Por isso devemos descobrir uma alternativa que nos dê mais condição de ação e resultados mais eficazes para lidar com os problemas.
Não sofrer com a culpa.
Uma alternativa para não sofrer com o sentimento de culpa é procurar substituí-la pela responsabilidade que você tem em cada questão em que se sente ou é levado(a) a se sentir culpado.
Ou seja, antes mesmo de abraçar e introjetar a culpa, você deve refletir sobre a situação, de modo a identificar sua RESPONSABILIDADE sobre o ato, em detrimento da tradicional e punitiva culpa.
Outra dica é refletir que a culpa sempre esteve a serviço das instituições de poder, das autoridades e, especialmente da religião.
Quando alguém ou alguma instituição aponta o dedo e diz que você é culpado, isso faz com que você – na maioria das vezes – sinta-se inferior e impossibilitado de questionar a sentença ou procurar implementar alguma ação para que este ato não se repita. E a primeira consequência disso é o desenvolvimento de algum comportamento compensatório para “sua falha”.
Compensar a culpa resolve?
Compensar é uma maneira que aprendemos culturalmente (este é um dos indicativos da instalação do TOC), mas ela não nos ajuda a resolver os problemas, especialmente por – frequentemente – nos colocar numa situação circular onde a cada vez que nos sentirmos culpados ou nos culpabilizarem por algo, tendemos a procurar algo para compensar este “erro”.
Por exemplo, se magoamos alguém, tendemos a lhe fazer um agrado para compensar a mágoa; se cometemos um pecado, tendemos a fazer uma caridade para compensá-lo; ou, se estamos em dívida com nossa consciência e isso afeta nosso bem-estar, tendemos a fazer algo para melhorar nossa autocensura.
Quando compenso sinto um alívio. Isso é bom?
Esse modelo de compensação pode até trazer algum benefício imediato para seus usuários, no entanto ele, além de nos colocar numa tremenda circularidade (faz-compensa, faz-compensa…) não resolve efetivamente o problema, pois é uma forma inadequada de lidar com a questão.
Uma dica – com falei acima – que costumo sempre passar para meus pacientes é que devemos encarar esses fatos de forma segura, substituindo a culpa (que tem a função de nos punir e nos por pra baixo) pela responsabilidade (que não isenta nossos feitos, mas nos coloca em condição de reflexão segura e de adoção de novos comportamentos e escolhas).
Como substituir a culpa pela responsabilidade? Isso funciona como?
Pensar em responsabilidade como referencial substituto à culpa nos ajuda a ter um maior potencial de ação para lidar com o problema, favorecendo o desenvolvimento de atitudes mais adequadas nesse enfrentamento.
Por exemplo, quando um homem trai sua esposa e se sente culpado (ou é levado a sentir culpa) ele tende a não ter muitas ações resolutivas para esta questão. No entanto, se, ao invés da culpa, ele se sentir responsável pela ação, poderá rever sua postura na ação ou junto com as outras partes, ir em busca de causas e possíveis acordos sobre o segmento ou não da relação.
Em outras palavras, o simples fato de olhar os eventos pela ótica da responsabilidade nos mostra que fizemos escolhas que podem ser revistas futuramente, assumimos nossos erros e procuraremos uma forma de não repetir isso novamente se julgamos adequado.
No entanto, quando simplesmente nos sentimos culpados, nada mais nos resta a fazer do que aguardar o dia do juízo final, a sentença da questão ou formas e formas equivocadas de compensar nossa culpa. Pense nisso!