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Pesquisa sobre Ciúmes! Ciúme é um comportamento que já foi discutido várias vezes aqui no blog.
O ciúme sempre traz prejuízos aos relacionamentos. Muito embora, algumas pessoas ainda insistem em enxergar o ciúme como “o tempero da relação”. Ou acreditam que ele é “sinônimo de amor/cuidado” e que traz benefícios ao relacionamento”. Para mim, isso é pura bobagem!
E por isso devemos saber mais sobre esse comportamento maligno, que tem afetado e prejudicado muitos relacionamentos.
pesquisa sobre ciúmes psicólogo em salvador Elídio Almeida

Causas e consequências do ciúme

Um fato facilmente percebido na ampla literatura – especialmente a não acadêmica – sobre o ciúme é que há muitos relatos e informações sobre as consequências (raiva, separações, brigas, desentendimentos, ofensas…) ou sobre as possíveis causas do ciúme nos relacionamentos (motivos reais ou imaginários para desconfiança; regras culturais que dizem que todo homem ou toda mulher trai; a própria traição em si, mesmo que ela tenha sido herdada de relações anteriores ou experiências de terceiros).
O que se percebe, no entanto, especialmente na prática clínica nos consultórios de psicologia, é que, embora estas causas possam ser validadas nos históricos de muitos pacientes, elas não são, necessariamente, o foco do objetivo terapêutico no tratamento contra o ciúme. Ou seja, muito embora os pacientes busquem atendimento psicológico para melhorar questões dos relacionamentos amorosos relacionados ao ciúme, nota-se que o que eles precisam efetivamente é trabalhar no que causa e no que mantém o ciúme no relacionamento.
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Outro fato é que, geralmente, as pessoas já chegam aos consultórios sabendo o que gera nelas ciúmes, mas, raramente, elas percebem o que mantém esse comportamento ou como tratá-lo. Assim, a hipótese é que após a instalação do ciúme num relacionamento – independente da causa – ele é mantido em função de, pelo menos uma pessoa na relação, sentir-se insegura. Isso representa que a restauração da segurança, confiança e credibilidade são os elementos principais da intervenção terapêutica durante o tratamento. Os dados da nossa breve pesquisa sinalizam exatamente isso. Confira!
Participaram da pesquisa 200 pessoas, que responderam ao questionário eletrônico disponibilizado através das redes sociais; mala direta (por e-mail) e também aqui pelo blog, entre 31/10/2015 e 16/11/2015. Responderam a pesquisa 71 homens e 129 mulheres. Veja figura e breves considerações abaixo:
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A idade dos participantes variou entre 14 e 65 anos e revelou idade média entre os participantes de 29,5 anos. A faixa etária que mais prevaleceu entre os participantes variou entre 20 e 36 anos. Isso pode demonstrar, em função da distribuição etária, que são as idades em que há uma maior frequência do comportamento de ciúmes na vida destas pessoas. Não por acaso, este intervalo compreende o universo em que as pessoas procuram estabelecer relacionamentos amorosos mais sólidos. E é um período em que há uma insegurança latente sobre o futuro afetivo, formação de vínculos, pares e famílias, dentre outros aspectos. 

Você namoraria uma pessoa ciumenta?

Agora, imagine que você está conhecendo uma pessoa com quem você pode vir a desenvolver um relacionamento afetivo-amoroso. Certamente, se ela se apresentar ou afirmar ser uma pessoa ciumenta, provavelmente, você interpretará essa informação de forma negativa, não é verdade? Isso pode demonstrar que o ciúme não é uma das características mais valorizadas num relacionamento e que, normalmente, as pessoas procuram omitir essa informação, pois entendem que podem ser julgadas ou mal interpretadas. No intuito de verificar essa informação, esta pesquisa quis saber se os participantes se consideram pessoas ciumentas e quase 60% deles afirmaram que sim.
A pesquisa teve interesse em saber também se os participantes estavam envolvidos em algum relacionamento afetivo-amoroso. E 74,8% responderam que sim, contra 25,2% que não estavam se relacionando na ocasião da pesquisa.
A priori, este dado pode parecer irrelevante, se considerarmos que o ciúme pode atingir qualquer pessoa, independente do seu envolvimento em alguma relação amorosa. No entanto, se considerarmos que o ciúme de fato traz prejuízos ao relacionamento afetivo-amoroso e que ele pode estar diretamente relacionado a como as pessoas se sentem inseguras em suas relações, podemos verificar que existem muitos relacionamento contaminados com o ciúme. Ou, conforme apontam os dados da pesquisa, em média, cada relação é formada por pelo menos uma pessoa ciumenta.
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Isso se torna ainda mais relevante com os dados de que 84,2% dos participantes concordam que sentir segurança no relacionamento diminui a incidência do ciúme. Daí, se fizermos a correlação entre as pessoas que estão envolvidas em algum relacionamento, a existência do ciúme e o fato deste ciúme demonstrar que estas pessoas estão inseguras em seus relacionamentos, podemos compreender o impacto altamente prejudicial do ciúme nos relacionamentos afetivo-amorosos e como ele pode ser considerado um sinalizador (sintoma) de que a relação não está bem. Seria o mesmo que afirmar que a maioria das pessoas temem que seus pares possam ter algum tipo de envolvimento com outra pessoa. Logo, são inseguras.

Pesquisa sobre ciúmes realizada pelo psicólogo Elidio Almeida

Mas o que torna as pessoas inseguras em seus relacionamentos? Que comportamentos de seus parceiros ou parceiras ativam a insegurança nas relações? O que acontece para que as pessoas manifestem o comportamento de ciúme? Obviamente que, para tentar responder a estas perguntas, precisamos saber, dentre outras coisas, o que os pares fazem para desencadear o ciúme na relação. E, claro, isso varia sempre de pessoa para pessoa e de relacionamento para relacionamento

Perfil mais grave de ciúmes

A pesquisa apontou que 38% das pessoas não iriam tolerar que seu parceiro ou parceira sequer desejasse ou fantasiasse (sem nenhum contato físico) algum comportamento com outra pessoa. Essas são as pessoas que são consideradas as mais ciumentas, controladoras e, certamente, as mais inseguras. Elas se sentem ameaçadas por um comportamento primário na escala da gradação do ciúme. Isso significa que uma resposta extremada pode surgir se esta pessoa se perceber numa relação em que tenha acontecido (ou possa acontecer). Ademais, esse público, tende a se enquadrar no perfil que os estudos apontam como o ciúme doentio. Aquele extremado e fora de controle.

Perfil intermediário de ciúmes

No segundo item da escala de gradação dos elementos que podem desencadear o ciúme na relação, está o envolvimento com algum tipo de contato físico com outras pessoas – beijar ou transar, por exemplo. Esse perfil figurou com 55,5% dentre o universo pesquisado.
Esse comportamento mostra-se coerente com alguns estudos e com a verificação empírica em consultório clínico, especialmente por serem comportamentos que trazem alguma instabilidade à relação, mas que, em condições mais contextualizadas, os envolvidos tendem a relevar com mais naturalidade. Ou seja, por ser algo configurado geralmente por um envolvimento apenas de ordem física, as pessoas se sentem mais seguras para retomarem a relação. No entanto, o grande desencadeador do ciúme nas relações afetivo-amorosas, e, consequentemente, das crises, brigas e separações dos casais é, sem dúvidas, o temor que os pares tenham envolvimento sentimental com outras pessoas. Este também é um dado bastante coerente com a prática clínica. Sua incidência ou descoberta representa a quebra de um acordo, ainda que tácito, do vínculo afetivo e no relacionamento de muitos casais.
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Existe alguém que não seja ciumento? 

Vamos lembrar que mais de 40% dos participantes informaram que não eram ciumentos. No entanto, quando foram convocados a se posicionar refletindo sobre as situações que podem desencadear a insegurança no relacionamento. O resultado apresentado foi outro e apenas 9,5% daquele universo permaneceu coerente e sustentou a ausência de ciúme em seu repertório.
Essa diferença entre o primeiro dado e outro, pode corroborar com aquilo que foi apresentado acima, onde foi posto que possuir uma identidade ciumenta é algo não valorizado e que tende a ser punido numa relação afetiva ou até mesmo em outras relações interpessoais. No entanto, isso pode demonstrar que existe muita relação com ciúme velado e é nesse ponto que também mora um grande perigo, uma bomba relógio ou um vulcão que pode entrar em atividade a qualquer momento, trazendo muitos estragos. Por isso, devemos tratar o ciúme antes que fatos mais graves ocorram na relação.
Imagino que deve ser impactante para algumas pessoas conceber que existam pessoas tão desapegadas aos seus pares afetivos, ainda que possam representar menos de 10% do universo pesquisado. Talvez pensar sobre esses comportamentos ou em suas práticas pode gerar uma série de críticas pautadas nos modelos propagados em nossa sociedade e em muitas culturas. Todavia, é importante ter em vista que esse dado também revela que existem pessoas seguras de si e imunes ao ciúme, à posse e ao controle de seus pares. Revelando que, buscar o equilíbrio ou, pelo menos sair do modelo unilateral de enxergar os comportamentos, pode significar um grande ganho para a relação.
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Bem, obviamente esta pesquisa teve caráter investigativo inicial, mas muito mais ainda precisa ser interpretado, correlacionado e, claro, investigado a partir destes e de novos dados que serão colhidos. Até aqui, de fato, parece ser a insegurança o fator causal, a raiz do ciúme. E essa percepção precisa ser mais investigada para que métodos mais estratégicos possam ser aprimorados nas psicoterapias, especialmente nas terapias de casal.
Espero que você tenha gostado de ter participado e que o conjunto das informações possa trazer novos questionamentos, insights e atitudes mais confortáveis em sua vida. Lembrando sempre que devemos tratar o ciúme, construir a segurança nas relações, antes surjam os prejuízos difíceis de serem reparados.
Dúvidas, críticas e sugestões serão bem-vindas nos comentários abaixo. Terei satisfação em dialogarmos mais sobre o tema.

Elídio Almeida

Psicólogo em Salvador, formado pela Universidade Federal da Bahia (UFBA) e especializado em Terapia de Casal e Relacionamentos (CRP). Possui também pós-graduação em Psicologia Clínica pela Universidade do Estado da Bahia (UNEB). Dedica-se à prática clínica, oferecendo acompanhamento terapêutico a casais, famílias e atendimento individual para adultos. Além disso, ministra cursos e palestras na área.

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