Relacionamento – De repente me percebi olhando para os prédios da fotografia abaixo e comecei a pensar em quão grande é a responsabilidade dos engenheiros e suas equipes na construção civil, especialmente em edificações como essas, que parecem ter requerido ainda mais cautela, maiores comprometimentos e responsabilidades.
A partir dessa imagem, em analogia, também comecei a pensar nos relacionamentos existentes em nossa sociedade e como estes variam com bases de sustentação e formas de construção tão distintas e, por vezes, igualmente questionáveis. Algumas relações como demonstram ser os prédios da imagem, parecem ter bases frágeis, mas são fortes e trazem estabilidade e segurança; outros relacionamentos, no entanto, evidenciam possuir fundações de altíssima qualidade, quando, na verdade, não passam de palafitas que ameaçam desmoronar a qualquer momento. Há, ainda os relacionamentos que parecem ter sido construídos em terrenos perigosos, sem bases, planejamentos ou projetos e, por isso, estão sempre vulneráveis às mudanças climáticas.
Assim como os prédios, os relacionamentos também dependem de suas bases de sustentação. Por isso questiono:
Como são suas construções afetivas?
O que sustenta seu relacionamento?
Se assim como eu, você também não entende de construção civil, certamente – ainda que por um breve momento – ficaria com alguns receios de, por exemplo, morar em edifícios com bases e colunas de sustentação tão finas e expostas como as mostradas acima, não é verdade?
Pois bem, tendemos a crer que os engenheiros responsáveis pela construção de prédios como esses levaram em consideração estudos do solo, estabilidade do terreno, adequação do projeto, planejamentos, análises e, é claro, condições de segurança para erguer seus projetos.
Talvez o critério estético tenha sido privilegiado apenas na parte visível aos moradores e transeuntes da frente dos prédios, mas isso não deve ter trazido prejuízos à segurança do empreendimento, pois, parece que as construções em questão já possuem décadas e pelo visto goza de muita tranquilidade e segurança.
Já pensou se os relacionamentos afetivos em nossa sociedade seguissem esses mesmos critérios e procedimentos?
Relacionamentos de fachada
Pois bem, como psicólogo clínico e terapeuta de casal, tenho acompanhado muitos relacionamentos que são construídos em bases de sustentação tidas como regras que funcionam como motivadores ou justificativas para levar o relacionamento adiante.
Uma regra pode ser entendida como a razão de ser ou existir que dá validade a uma ação. Por exemplo, muitas pessoas ou segmentos da nossa cultura acreditam que “o casamento deve ser para sempre”, e por conta disso, custe o que custar, entendem que nada pode desfazer um relacionamento.
Acontece que muitas regras amplamente difundidas em nossa sociedade fogem aos objetivos de felicidade e bem estar do próprio casal, além de, também, fugir à curva normal para as ações e atitudes esperadas num relacionamento estável e eficaz.
Regras de sustentação como as que dizem que nada pode desfazer um relacionamento podem levar o casal a passar por cima de coisas que realmente incomodam e prejudicam a relação e o que deveria ser a razão da existência de uma relacionamento, termina ficando preterido: a felicidade.
O perigo disso é que, embora haja um bem-estar momentâneo na relação, possíveis incômodos são postergados e podem (acumulados) explodir com muito mais gravidade no futuro, ou seja, a decisão de sustentar uma relação em algo tão frágil pode ser extremamente nociva à felicidade do casal.
Como já disse em diversos posts aqui no blog, a terapia de casal pode ajudar você a enfrentar adequadamente os problemas da relação. Resolvendo as questões etapa por etapa, podemos verificar melhor as reais consequências que muitas regras genéricas trazem para seu namoro ou casamento. Entenda:
Relacionamento em crise
Muitos casais constroem seus projetos de vida em terrenos perigosos e não adotam critérios adequados e seguros para o bem-estar da relação, como provavelmente um engenheiro planeja e executa sua obra. Se as pessoas, mesmo diante de terrenos aparentemente impróprios, construíssem seus relacionamentos e vidas amorosas com os mesmos mecanismos que um engenheiro constrói um edifício, certamente teríamos mais pessoas felizes e relações amorosas bem menos complexas.
Observe que as estruturas visíveis – tanto num prédio como em uma relação – podem até sugerir alguma insegurança ou favorecer críticas. Todavia, se mesmo diante de opiniões adversas, sua base de sustentação for sólida, a estrutura estará segura e terá estabilidade e força para suportar as adversidades.
Essa estrutura amorosa que estamos tentando entender aqui funciona mais ou menos como uma regra que dá sentido a um relacionamento. Como falei a pouco, ter uma regra para dar sentido a uma relação nem sempre é algo que funciona bem ou traz bons resultados. Por isso você precisa aprender a diferenciar as regras e conhecer mais profundamente suas funções num relacionamento e que consequências elas trazem.
Talvez você conheça alguém que afirme que a base de sustentação de um relacionamento sejam os filhos ou a família (no sentido mais amplo da palavra). As dificuldades vividas e superadas no passado devem ser menores que as leis explícitas e implícitas; reais ou imaginárias; sociais ou pessoais que ditam os rumos que uma relação deve tomar.
Quando uma relação é guiada dessa maneira, tendemos a empurrar a poeira para debaixo do tapete e não nos damos conta de que, ao invés de buscar soluções eficazes, estamos criando ilusões e vivendo em fantasias que nos cegam para a realidade, atitude que um bom engenheiro jamais iria cometer.
Independente do que aconteça, as situações adversas devem ser superadas com planejamento, ponderações e enfrentamentos adequados à realidade do casal e não exclusivamente por ideias generalistas de terceiros. Embora muitas pessoas tendem a concordar com o que estamos discutindo aqui, sabemos que “na prática a teoria é outra”, não é verdade?
Minha sugestão é que você pense nas consequências (não só as imediatas e mais práticas), que as decisões duradouras trazem e os impactos que estas causam à relação. Com isso, seguramente, você terá melhores condições de estruturar as bases de sustentabilidade da sua relação e viver mais plenamente e feliz. Por isso, pergunte-se agora mesmo se realmente vale a pena sustentar sua relação baseada apenas em regras genéricas e descontextualizadas dos acontecimentos reais, vividos pelo casal. Quer um exemplo?
Mulher ciumenta
Vamos supor que um casal, após ter vivido um episódio de traição, decidiu continuar a relação por conta dos filhos. De início essa regra (que tornou-se a base de sustentação do casamento) acalmou os ânimos e fez com que eles colocassem a poeira para debaixo do tapete, principalmente para não promover exposições do caso, não levar “sofrimento” para os filhos e preocupação para os demais familiares.
Veja que a ideia de família bem sucedida, unida e sólida pode ter sido adotada como a regra e base de sustentação daquela decisão; quando, na verdade, não passaria de mais “edifício” construído em terreno instável e inseguro, repleto de armengues e gambiarras, prestes a desmoronar a qualquer momento.
Nesse caso hipotético, embora muito comum nas relações contemporâneas, podemos perceber quão clara é a sustentação – a regra – desta relação, porém, a função e as consequências disso parecem não estar trazendo benéficos e bons resultados para o relacionamento do casal.
Quando falo em benefício não me refiro apenas à manutenção do relacionamento, mas sim das questões como segurança mútua, confiança, respeito, exemplo, harmonia, realização pessoal, comprometimentos, responsabilidades e, principalmente, a felicidade para o casal. Motivos estes que deveriam ser as reais bases de sustentação da vida pessoal e conjunta das pessoas em um relacionamento.
Casamento pelos filhos
No geral, alguns casais acreditam que devem superar qualquer obstáculo, ignorar qualquer possibilidade de risco, mágoa ou infelicidade para manter o relacionamento de pé. Na verdade, o ideal é que o casal possua um planejamento, uma assessoria técnica de qualidade, análise adequada da situação e das reais possibilidades de ação, para que seja erguido um relacionamento que, independente das aparências, possa oferecer estabilidade, segurança, paz e tranquilidade para viver a vida com a mesma estabilidade da qual acredito que devem sentir os moradores dos prédios mostrados acima.
Viver dessa forma significa que, mesmo nos terrenos desacreditados (como são muitos relacionamentos), podemos estudar e analisar o terreno, enfrentar e superar adequadamente os problemas e viver tendo como base de sustentação do relacionamento a confiança, a sinceridade e o respeito a si próprio e mútuo.
Pense nisso com carinho e procure encontrar as bases e razões da sua relação, tentando mensurar as consequências que isso tem trazido para sua vida e para a vida do seu companheiro ou companheira. Como sempre digo aos meus pacientes: para resultados diferentes, comportamentos diferentes. Sucesso!