Conflitos na Relação. A diferença de comportamento entre os pares em um casamento, se não for compartilhada e compreendida de forma plena, pode causar altos níveis de estresse na relação. Quando essas distorções atingem altos níveis de estresse, a comunicação entre o casal fica extremamente prejudicada, podendo até levar o casal a separação.
Nossa cultura é altamente habilidosa em ditar padrões de comportamento que muitas vezes não refletem ou trazem bons resultados na prática vivencial das relações. Esses padrões culturais vão desde a noção de que homens e mulheres são diferentes na demonstração de sentimentos e emoções (menino não chora, mulheres são frágeis…), até o extremo de considerar que ter uma relação afetiva (leia-se casamento) é um referencial de sucesso na vida de alguém.
Ao que parece, de forma geral, tanto homens quanto mulheres são educados desta maneira e muitos visam a realização desses mitos no casamento.
As diferenças culturais nos conflitos na relação.
É praticamente impossível falar sobre relacionamento amoroso sem levar em conta essas diferenças culturais como sendo um fator de configuração das personalidades e papéis em uma relação.
Segundo muitos modelos da nossa cultura, a percepção entre homens e mulheres difere em relação ao sexo, à condição financeira, amor, casamento, filhos, carinho, afeto e à intimidade. A maneira como os pares aprendem a interpretar esses aspectos e as diferentes expectativas que ambos têm a respeito do amor dão origem a inúmeros conflitos que levam a desentendimentos na relação.
No convívio diário da relação os parceiros vão percebendo a distância entre o relacionamento idealizado e o que realmente vivenciam. Assim, os valores transmitidos através da cultura, que no geral são modelos de casais ou representação deles (filmes, novelas, livros…) que, geralmente, privilegia a relação perfeita na qual cada um tem seu papel [principalmente emocional] bem definido. Assim, essas repetições, atreladas as reais dificuldades de expressar sentimentos e emoções podem ser os grandes causadores de estresses e conflitos na relação conjugal.
Esses momentos de estresses e conflitos muitas vezes refletem o encontro com a realidade do casal na relação, por vezes muito distante do que aprenderam em toda a vida. Nesse momento, normalmente, um dos pares já está altamente magoado por que o outro já não é tão carinhoso e presente [emocionalmente] como antes, enquanto o outro acredita que essa falta de carinho ou de presenca emocional esteja sendo suprida por outros atividades, como o trabalho. Para muitas pessoas, esse encontro com o real acarreta tanta frustração que, às vezes, ocorre a busca da realização de novos sonhos traduzidos em aventuras extraconjugais ou a possibilidade de um término para não enfrentar a realidade.
Antes mesmo do casal chegar ao extremo de trair ou terminar a relação ou o casamento, é importante que procurem ter mais conhecimento sobre o que de fato está acontecendo, o que causou efetivamente as dificuldade e, principalmente, as consequências de tais ações.
Uma terapia individual ou uma terapia de casal pode contribuir significativamente para visualização de comportamentos mais adequados à situação. Ademais, compreender as diferentes percepções também pode ajudar muito.
Eis algumas das principais diferenças, fruto dos valores culturais, que são confrontadas e normalmente desmistificadas na relação:
- muitas vezes, a autoestima da esposa está muito relacionada com o fato de doar-se à relação. Ocorre que, por outro lado, ela se questiona se houve uma doação suficiente por parte de si mesma. Assim, tende a se estressar, sofrendo com altos níveis de cobrança e insatisfação, que se potencializam na medida em que o parceiro passa a lhe fazer mais exigências;
- via de regra, ao contrário da mulher, o senso de identidade dos homens está baseado na realização de objetivos econômicos e sociais, mais do que nas realizações pessoais, e dessa forma, doar-se emocionalmente à relação não é prioridade em sua vida. Por outro lado, o sucesso na área profissional exige repressão dos sentimentos e, por isso, os homens tendem a desenvolver um comportamento controlado. Muitas vezes as mulheres interpretam esta atitude como ausência de amor, tornando-se mais vulneráveis aos conflitos;
- há falta de clareza em relação à comunicação entre os cônjuges, pois não conseguindo lidar com a emotividade das parceiras os homens optam por se afastar, na tentativa de lidar à distância com a situação que se tornou muito estressante;
- enquanto as mulheres buscam mudanças, os homens procuram restabelecer o equilíbrio interior, levando suas queixas para o nível das discussões lógicas, gerando inúmeros conflitos quando não há entendimento.
Os casais precisam compreender que a maioria dos conflitos ocorrem devido às dificuldades de uma comunicação objetiva e clara entre eles. Frases e palavras omitidas, meias verdades, pontos-de-vista categóricos transformam-se em barreiras que povoam os pensamentos do casal e colaboram para que o relacionamento permaneça sob tensão constante. Por outro lado, os desajustes e as diferenças nas relações podem estar relacionados às expectativas irreais e às exigências exageradas mantidas por cada um acerca do casamento, fazendo com que avaliem a interação de forma extremamente negativa quando estão insatisfeitos.
Não é demais lembrar que uma terapia individual ou uma terapia de casal pode contribuir significativamente para compreensão dos conflitos na relação, enfrentamento e melhores soluções para o casal. Pois, além das dificuldades do relacionamento conjugal, existem os mitos conjugais, isto é, as crenças errôneas que o casal tende a desenvolver frente ao relacionamento amoroso e que podem desequilibrar a harmonia conjugal.