“Depois eu faço”. Se você é uma pessoa que diz essa frase com frequência ou convive com pessoas que vivem sempre deixando as coisas para depois, cuidado! Você pode estar sofrendo com a procrastinação e pode estar se prejudicando com as constantes tentativas de autocontrole em função das respostas do ambiente. Entenda.
Procrastinação é um termo amplamente utilizado para descrever o adiamento de tarefas, projetos e obrigações. Culturalmente o termo é utilizado para referir-se àquelas pessoas que deixam tudo para depois ou fazem tudo na última hora.
O procrastinar é uma classe de comportamento presente nos mais diversos contextos e ambientes, como na educação (adiar até o último instante o ato de estudar para a prova, fazer o trabalho pedido pelo professor, se inscrever no vestibular… tudo no último instante). Na saúde (adiar os exames, consultas, procurar ajuda médico-profissional…), no trabalho (atrasar relatórios, não cumprir tarefas no prazo, não cumprir horários…), dentre outros contextos e situações.
Porém, é importante destacar que o procrastinar não é necessariamente uma característica generalizada, isto é, uma pessoa pode procrastinar em determinados ambientes e não em outros. Por isso é importante ter um olhar especializado sobre esses aspectos.
Um excelente sinal para perceber se você está procrastinando algo é perguntar a si mesmo com frequência: “por que não realizo logo essa atividade em vez de ficar adiando?”. O mesmo vale para quando você reparar que outras pessoas estão adiando as tarefas e compromissos: “Por que fulano não realiza logo essa atividade e fica só deixando para depois?”
Auto controle e a procrastinação
Quando procrastinamos algo, nosso comportamento está sendo guiado e controlado por diversas variáveis, dentre elas o autocontrole e as respostas do ambiente. Isso significa que, embora a procrastinação seja algo que pode trazer sofrimento, há uma função para ela e paralelamente pode haver ganhos nesses adiamentos que nem sempre são enxergados.
Para você compreender melhor a procrastinação e sua função através das variáveis, é importante termos em vista o conceito de autocontrole.
O autocontrole ocorre com a ativação de mecanismos ou comportamentos específicos para evitar situações que provocam conflitos e sinalizam consequências ruins. Ou seja, é a tentativa de evitar problemas, poupar energia psíquica e permanecer naquilo que convencionamos chamar de zona de conforto.
Outra coisa que você precisa saber é que o autocontrole é aprendido. Ele se desenvolve quando alguém se comporta tentando driblar as consequências de eventos de maior magnitude que já são considerados pela pessoa como “atrasados”. Por exemplo, uma pessoa que se considera velha para iniciar um novo relacionamento, prestar um vestibular ou deixar a casa dos pais, pode entender que não valeria a pena investir tanto na mudança e assim tenta driblar e procrastinar ao máximo suas decisões. Por isso é que chamamos isso de evento de grande magnitude: o investimento emocional é visto como algo muito oneroso. Porém, tudo isso é “compensado” com os ganhos de menor magnitude.
As recompensas de menor magnitude são aqueles pequenos ganhos que mantém ou justificam a procrastinação. Ou seja, são ganhos imediatos ou de menor espera, que envolvem esforços bem menores e a pessoa tende a fixar sua atenção exclusiva ou preferencialmente neles, distanciando-se cada vez mais dos propósitos (já atrasados) e que tendem a ficarem cada vez mais distantes à medida que o foco é direcionado para os de pequenos ganhos.
Por exemplo, uma pessoa que deseja muito estudar, mudar de emprego, ganhar mais dinheiro. Mas, ao analisar o percurso que precisa fazer até atingir esse objetivo, termina se rendendo aos “encantos” e “facilidades” do pequeno salário ao final do mês do emprego atual. Ou mesmo aquela pessoa que sofre num relacionamento frustrado, mas se rende aos pensamentos e ideias de que “não tenho mais idade para começar algo novo”, “é muito difícil arrumar alguém”.
Observe que tudo isso é visto como resposta do ambiente ao nosso comportamento e muitas vezes as pessoas se apegam a essas respostas rápidas para adiar ao máximo que puderem suas decisões, tarefas e compromissos mais importantes.
Se você sofre com a procrastinação, saiba que – mesmo sem perceber – você pode estar investindo em estratégias e comportamentos de autocontrole que podem estar a serviço de te manter no foco apenas dos pequenos resultados e nas respostas de pequena magnitude dadas pelo ambiente.
É importante você entender que quanto mais você privilegiar essas respostas rápidas mais você tenderá a se distanciar do seu grande – e talvez necessário – objetivo. Além disso, quadros de ansiedade, baixa autoestima, melancolia, estagnação e até depressão são os passos seguintes. Evite isso e procure ajuda profissional o quanto antes.