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Recentemente fiz um texto comentando sobre uma pesquisa do IBGE acerca do aumento no número de divórcios na Bahia. Veja aqui. Segundo o levantamento do instituto, a cada três casamentos realizados no estado, um termina em separação. Contudo, outra constatação do levantamento merece destaque. Dentre a amostra investigada, a maior parte das justificativas para as dissoluções dos enlaces, versa sobre algum tipo frustração. Isso é, muitos dos casamentos foram desfeitos porque as “expectativas do relacionamento não foram atendidas. Desse modo, com o propósito de compreender a  questão para além da superficialidade, é necessário elucidar as razões para tamanhos desapontamentos. De maneira similar, compete trazer à tona os impactos das projeções nos relacionamentos. 

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Por mais otimista que você seja, uma hora será obrigado a enfrentar os problemas do relacionamento

Quando as expectativas no relacionamento não são atendidas

Conforme já abordei em outros textos aqui do blog, reafirmo que a expectativa é um prenúncio para a frustração. Tal afirmação é tautológica pois raramente o ato especulativo está calcado em dados reais ou sólidos, por conseguinte, comumente termina em decepções. Embora isso não seja novidade, grande parte do corpo social constrói seus relacionamentos dessa maneira: repletos de expectativa. Não por acaso, este mesmo grupo tende a se frustrar com maior frequência.

No entanto, o erro não está apenas na dialética expectativa-frustração. Em outras palavras, no início do convívio, não existem conhecimentos e informações suficientes sobre a outra parte. Apenas tal fator, por si só já configura o terreno fértil à criação de expectativas no relacionamento. Porém, este também é um contexto propício às desilusões amorosas. Embora paradoxal, consciente ou inconscientemente, a escolha geralmente é pela expectativa. Em contrapartida, criar esperanças acerca de uma pessoa ou relação, diante de tão pouco conhecimento e/ou convivência, gera um equívoco ainda maior: a projeção.

O termo projeção possui um conceito amplo dentro da Psicologia. Em síntese, seu significado versa sobre um processo através do qual um conteúdo pessoal é transferido para terceiros. Em outras palavras, elementos como culpa, raiva, expectativas, desejos, frustrações são apresentados de tal maneira que parece pertencer a outra pessoa. Por exemplo, diante de um desejo de ser ouvida, alguém pode se manifestar dizendo: “ninguém me escuta?”. Perceba que dessa maneira, a “falha” é apresentada como sendo do outro. Na verdade, essa pessoa poderia manifestar seu desejo de fala de forma direta, de modo ao interlocutor prestar mais atenção. Por isso, a projeção comumente é vista como um mecanismo de defesa no qual a pessoa tenta se esconder de eventuais retaliações ou decepções. 

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Ao criar expectativas no relacionamento, corre-se o risco de não conhecer o companheiro(a) como realmente ele(a) é.

Frustração e o impacto das projeções

Conforme visto anteriormente, projetar desejos e sonhos noutra pessoa ou num novo relacionamento, assemelha-se a atirar no escuro. Na prática, aquele que age dessa maneira possui apenas sua própria trajetória como base para essa expectativa. Ou seja, não há garantias palpáveis que qualifiquem a outra parte a suprir tamanhas demandas. Pelo contrário, à medida que se  conhece alguém, as projeções que lançamos são apenas os próprios conteúdos, não quem a outra pessoa é de fato. Justamente por isso, criar expectativas em relacionamento ou projetar questões pessoais na outra parte traz sérios impactos e danos preocupantes. Em virtude disso, agravam-se a frustração, aversão e mágoas. Porém, acredita-se s que a culpa é sempre do outro, jamais de quem projeta os próprios desejos. 

De mais a mais, cabe lembrar que às vezes expectativas no relacionamento e projeções são criados nem sempre conscientemente. Não raro, agir sem questionar configura-se a principal razão pela qual expressiva parcela do corpo civil  comporta-se desta ou daquela maneira. Assim, com frequência, adotam-se comportamentos de forma automatizada, sem sequer indagar sua utilidade e/ou consequências para nós, para ao outro e para o relacionamento. Dessa maneira, são cooptados pelo “efeito manada”. Em suma, repetem ações feitas por outras pessoas ou pelo grupo social, de forma alienada.

Por isso, ao se deparar com uma frustração – especialmente no relacionamento – evite responsabilizar somente o outro. Lembre-se que a origem desse desfecho pode ter partido de você. Reveja sua postura, bem como a esperança depositada em terceiros. Isso, por si só já vale uma reflexão. No entanto, a recomendação supracitada é diferente do rotineiro ato de colocar as mãos na cabeça e perguntar: “E agora?”. Lembre-se que as experiências, devem servir como aprendizados e utilizadas em prol de uma convivência mais harmônica e melhor. 

Elídio Almeida

Psicólogo em Salvador, formado pela Universidade Federal da Bahia (UFBA) e especializado em Terapia de Casal e Relacionamentos (CRP). Possui também pós-graduação em Psicologia Clínica pela Universidade do Estado da Bahia (UNEB). Dedica-se à prática clínica, oferecendo acompanhamento terapêutico a casais, famílias e atendimento individual para adultos. Além disso, ministra cursos e palestras na área.

2 Comments

  • Claudia disse:

    Bom dia. Achei muito interessante o tema abordando. Sou casada e estou vivendo esse “dilema”. Meu marido está passando por esse processo de buscar prazer pelas rede social, foto, whatsapp e t.c. isso tem balançado o nosso relacionamento, e o mais interessante nesse texto que fala profundamente coisas que alguns relacionamentos passa…. Muito obrigada pelo escrarecimento.

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