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Punição. Dia 19 de março, o Jornal Massa! publicou uma matéria no caderno de esportes, com citações do psicólogo Elídio Almeida, focando as estratégias que os técnicos do Bahia e do Vitória utilizam para motivar suas equipes. Segundo a reportagem, os técnicos costumam gritar:

“Você tá um merda! O próximo passe errado, você não joga mais no meu time!”
Vagner Benazi – técnico do Bahia

“Se não acertar o cruzamento, vai voltar pro juvenil!”
Antônio Lopes – técnico do Vitória

“Se você perder um gol deste, eu te degolo!”
Antônio Lopes – técnico do Vitória

Essa estratégia de “motivação” que ambos utilizam não é recomendada. Um amigo que leu a matéria até me ligou e disse que “todos os técnicos fazem isso e que é assim que os jogadores entendem”. Pode até ser assim que as coisas aconteçam por lá, mas, de fato, não é a maneira recomendada para motivar.
Esta prática pode até fazer que os atletas, diante das ameaças, tragam respostas que os técnicos esperam naquele momento. Porém, na medida em que isso se torna frequente, o jogador pode passar a se sentir ofendido, ter sua autoestima diminuída e jogar cada vez menos.
Punição e motivação psicólogo Elídio Almeida terapi de casal
E os técnicos não sabem disso? Certamente, devem saber. O grande lance da punição está entre o estímulo e a resposta. Parece que na lógica dos técnicos as coisas funcionam assim
O técnico tenta “motivar” com a ameaça e o jogador, por medo de perder sua posição, reage com uma melhora naquele momento. Esta “melhora” do jogador faz com que o técnico se sinta mais confiante e este ameaça cada vez mais. E o jogador melhora… e por aí vai.
Acontece que ninguém consegue viver durante muito tempo sob ameaças. Então, pode ser que o atleta não encontre mais motivação para fazer boas jogadas e nem mesmo a maior das ameaças: “eu te degolo” vai surtir efeito.
Toda essa questão é muito parecida com situações que sempre surgem no consultório: pais que não conseguem fazer que seus filhos cumpram determinadas obrigações, chefes que não conseguem motivar suas equipes, professores que não conseguem conduzir suas turmas e relacionamentos que estão à beira de um colapso.

Punição não resolve

No jornal, deixei uma dica para os técnicos. Para motivar os jogadores ao invés das broncas, chantagens e ameaças, o recomendado seria elogiar os acertos, dar cada vez mais ênfase às coisas certas que os atletas fazem. Além disso, os técnicos poderiam trocar a ameaça de voltar para o juvenil por uma possibilidade de se tornar jogador titular da equipe. Com isso, os jogadores poderiam se sentir mais motivados, poderiam jogar cada vez melhor e o técnico evitaria todas as questões emocionais negativas envolvidas na questão.

Elídio Almeida

Psicólogo em Salvador, formado pela Universidade Federal da Bahia (UFBA) e especializado em Terapia de Casal e Relacionamentos (CRP). Possui também pós-graduação em Psicologia Clínica pela Universidade do Estado da Bahia (UNEB). Dedica-se à prática clínica, oferecendo acompanhamento terapêutico a casais, famílias e atendimento individual para adultos. Além disso, ministra cursos e palestras na área.

2 Comments

  • Amanda Reis disse:

    Olá Elídio,
    Eu queria lhe parabenizar pelos temas abordados e por sua visão privilegiada de psicológo! Sobre o tema da vez, eu acho tudo muito bonito na teoria, mas na prática nem sempre acontece. Hoje em dia, as pessoas deletaram dos seus vocabulários as palavras gentileza, respeito e educação. Elogiar então… nem se fala! Tudo o que fazemos, é obrigação. Elogiar para que?
    Um abraço,
    Amanda Reis.

  • Olá Amanda!
    Obrigado pelo comentário. Concordo contigo quando diz que as palavras de gentileza, o respeito, os hábitos de educação e cordialidade são bonitos na teoria. De fato, lamentavelmente, vemos cada vez menos esses comportamentos sendo praticados em nossa sociedade e talvez por isso vivemos tantas situações desagradáveis, tantos isolamentos, tanta agressividade, estresse, ansiedade, depressão… em fim, tanto sofrimento. Mas sabia que tem algo mais bonito que a teoria desses comportamentos? Sim, é a prática. Embora eu também reconheça que não seja fácil agir com assertividade no mundo atual, este desafio particularmente me move e os resultados são bem mais agradáveis para todos os envolvidos. Sei que é um trabalho de conta-gotas para apagar um incêndio que já atinge grandes proporções, mas juntos podemos mais.
    Aproveitando, vou elogiar seu comentário mais uma vez. Não por obrigação, mas por que sei que foi sincero, muito pertinente e me motivou a falar mais sobre o tema. Muito obrigado e abraços!

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