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Quando eu era criança, meu primeiro livro de ciências ensinava sobre as fases do desenvolvimento: nascer, crescer, reproduzir-se e morrer. Simples e direto. De certa forma, estava ali a base de uma lógica que reflete o modo pelo qual se estrutura nossa vida e como a gente segue à risca esse processo. Desse modo, sem perceber, aplicamos essa lógica a todas as esferas da nossa vida, seja na perspectiva pessoal ou profissional. Ou seja, passamos nossa vida acumulando verbos e mais verbos: estudar, trabalhar, ganhar, ter… postar.

Inclusive, você já parou para se perguntar quantos verbos compõem e sustentam o seu relacionamento amroso? Sim, porque muitas pessoas, seguindo essa cultura de verbo após verbo, estão construindo e sustentando seus namoros ou casamentos à base de conjugação de verbos, deixando de aproveitar a experiência de vida que um relacionamento e cada uma de suas fases pode oferecer.

Assim, passamos nossa vida conjugando verbos, mesmo sabendo, desde sempre, que o último deles é morrer. Por isso, a reflexão que proponho neste post é pensarmos sobre como passamos a vida acumulando verbos em todas as perspectivas; e como isso, nem sempre, significa realmente viver.

O acúmulo de verbos no relacionamento: a vida como uma lista de tarefas

Essa semana, me deparei com uma música maravilhosa de Karina Buhr, chamada “A Pessoa Morre”. A canção é uma pedrada no nosso automatismo. Mais do que poesia, ela é um espelho desconfortável, com uma reflexão potente sobre como precisamos melhorar nossa experiência de vida.

A partir dessa música, fiquei pensativo sobre como, no dia a dia, a gente é condicionado a conjugar uma série de verbos: estudar, trabalhar, comprar, existir, postar. Nesse sentido,a vida parece uma lista de tarefas infinitas — como se viver fosse apenas cumprir obrigações..

Mas a verdade é que, ao longo do tempo, vamos acumulando verbos sem sequer nos darmos conta. Sem consciência do peso e da real importância que carregam para o nosso bem-estar, eles vão se impondo sobre nós como tarefas, metas e obrigações. E, por mais que alguns sejam inevitáveis — ou até desejáveis —, o acúmulo sem consciência pode nos afastar da própria experiência de viver. Assim, vivemos na expectativa de dar conta de tudo: os verbos se impõem e, nesse processo, a gente se apaga.

É por isso que esse refrão — “Depois de tantos verbos, a pessoa morre…” — ecoa tanto.
Mas a grande pergunta é: Será que estamos mesmo vivendo… ou apenas conjugando?

Quando o amor vira verbo: relações sustentadas, não vividas

Infelizmente, a mesma lógica que usamos para estruturar a vida também se manifesta nos relacionamentos amorosos. E, nesse caso, ela pode ser ainda mais sutil e igualmente perigosa.
Para muitas pessoas, construir e manter um namoro ou casamento significa seguir um roteiro de conjugações verbais: paquerar, conquistar, casar, manter… postar. Ou seja, para esse grupo de pessoas, tudo parece obedecer a uma sequência obrigatória de ações a cumprir; como se o amor e o relacionamento amoroso fosse um cronograma a ser seguido, e não uma experiência singular a ser sentida e vivenciada em sua plenitude.

Casal brasileiro tenta equilibrar bolas com verbos como “suportar”, “insistir” e “perdoar”, simbolizando a sobrecarga relacional discutida por Elídio Almeida, psicólogo de relacionamentos e terapeuta de casal em Salvador.
“Quando os relacionamentos são sustentados apenas por esforço, é sinal de que os verbos precisam ser revistos.”
— Elídio Almeida, psicólogo e terapeuta de casal em Salvador.

Os verbos e os relacionamentos amorosos

Por isso, frequentemente, encontramos homens e mulheres que vivem seus relacionamentos à base de verbos pesados: suportar, resistir, ceder, insistir, trair, seguir. Verbos que, sozinhos, já dizem muito sobre o tipo de vínculo que está sendo construído e sustentado. Justamente por isso, quando recebo em meu consultório pessoas inseridas nesse modo de funcionamento relacional, procuro orientá-las a seguir caminhos mais personalizados e emocionalmente adequados.

Por exemplo: quando um relacionamento se apoia apenas em ações de contenção, isto é, quando tudo gira em torno de manter, apesar do cansaço, apesar da dor, apesar do vazio, procuro mostrar que algo precisa ser revisto. Não porque perdoar ou insistir sejam, por si só, sinais de fracasso. Mas porque, quando esses verbos se tornam o alicerce da relação, eles revelam que talvez o “amor” inexista de fato, ou esteja sendo apenas mantido por conveniências e expectativas de melhora, à base de muitos esforços, e não realmente experienciado e vivido.

É claro que nenhum relacionamento está isento de esforço. Mas não é sustentável que verbos de esforço sejam a principal característica de uma relação amorosa. Por isso, considero bastante inadequada a ideia de permanecer em uma relação apenas por verbos de resistência. Afinal, há outros verbos e modos mais saudáveis de se construir e manter uma vida a dois.

Revisar os verbos e sustentar o relacionamento com sentimentos e vivências

Não tenho dúvidas: é fundamental refletir sobre a importância de viver cada fase da vida de forma mais consciente. Também, é essencial construir relacionamentos em que possamos realmente estar vinculados a vivências e experiências significativas, em vez de apenas cumprir uma lista de verbos. No fim das contas, como aprendi lá na infância — e como a música da Karina Buhr nos lembra —, A vida é mais do que acumular verbos — é sobre realmente viver.

Por isso, te pergunto: você já parou para pensar em quantos verbos têm sustentado a sua vida e os seus relacionamentos?

Talvez seja hora de fazer uma pausa. Não para abandonar todos os verbos, mas para revê-los.
Quem sabe, assim, possamos identificar quais verbos realmente fazem sentido para você neste momento? Quais você tem conjugado apenas por obrigação, medo ou regra? Afinal, como eu disse: viver não é seguir um roteiro pronto. É escolher, na medida do possível, os verbos que nos representam. Verbos que apontem para uma vida com mais sentido, menos repetição. Mais bem-estar, menos sobrecarga. Você concorda?

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