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Recentemente a PUCRS, por meio do grupo de pesquisa Famecos, divulgou os resultados de uma pesquisa que mostra que o uso de aplicativos de relacionamento é cada vez mais comum. Em paralelo, outros levantamentos apontam que no Brasil, somente durante a pandemia, os aplicativos de relacionamento tiveram um crescimento de até 400%. Obviamente que as pessoas que utilizam esse recurso estão procurando conhecer e se relacionar com alguém. No entanto, uma dificuldade encontrada pelos usuários é compreender exatamente o que as pessoas buscam nos encontros intermediados pelos aplicativos de relacionamento. Diante disso, no intuito de otimizar a paquera, muitos homens e mulheres adotam uma conduta chamada hardballing. Embora esta pareça ser uma estratégia objetiva e prática, trata-se, na verdade, de uma postura arriscada e pode, de forma precipitada, comprometer o encontro ou a evolução do relacionamento.

Hardballing: não perder tempo conhecendo pessoas

Não restam dúvidas quanto a popularidade dos aplicativos de relacionamento. Afinal, eles se tornaram, na atualidade, o principal recurso utilizado por aqueles que almejam encontrar um par amoroso. Entretanto, muitos usuários relatam encontrar dificuldades para compreender exatamente o que as pessoas estão buscando. Isto, pois, alguns querem só sexo casual, outros desejam realizar fantasias ou lidar com angústias; embora a maioria se apresente na intenção de firmar um relacionamento. Por isso, na tentativa de mitigar os mal-entendidos e na expectativa de otimizar o processo de paquera, muitos usuários dos aplicativos de relacionamento adotam uma conduta chamada hardballing. Em português o termo seria traduzido para algo como “jogar pesado” e propõe posturas mais objetivas para os encontros virtuais. 

A ideia principal da prática do hardballing é, além de ser sincero, explicar logo de cara todas as intenções e expectativas. Dito em outras palavras, a proposta é fazer, de antemão, um check list com tudo aquilo considerado fundamental para que o papo ocorra e os pares avancem para o encontro ou tentem firmar o relacionamento. Por exemplo, alguém que deseja namorar um médico, sem filhos e que tenha uma casa de praia, vai descartar qualquer pessoa que não contemple tais critérios. A lógica seria não perder tempo conhecendo pessoas. A intenção é ser objetivo para encontrar o parceiro ou a parceira idealizada.

Aqueles adeptos ao hardballing agem como o outro fosse um mero objeto a ser escolhido para atender as necessidades do "escolhedor"
Aqueles adeptos ao hardballing agem como o outro fosse um mero objeto a ser escolhido para atender as necessidades do “escolhedor”.

Falsa sensação de controle

O termo hardballing pode ser novo para aqueles que frequentam os aplicativos de relacionamentos. No entanto, a atitude de fazer um check list com critérios básicos quando se está diante do crush é antiga e não é exclusividade das paqueras feitas por meios digitais. Associado a esta ideia, reside o fato que ninguém almeja fracassar na investida amorosa. Assim, seja online ou offline, é comum que as pessoas adotem o hardballing, sob a falsa pretensão de estar no controle, na tentativa de evitar frustrações. Quanto a isso, em linhas gerais, não há problemas. Porém, muitas pessoas se equivocam por supervalorizar tal estratégia. Ou seja, checam apenas meia dúzia de características do pretendente, julgam conhecer a pessoa e mergulham de cabeça naquilo que acreditam ser uma relação segura. Para todos aqueles que pensam desta maneira fica uma alerta: conhecer, efetivamente, uma pessoa demanda tempo e outras estratégias mais adequadas.

Relacionamento é equilíbrio

Por isso, a proposta do encontro entre duas pessoas, de maneira virtual ou não, perpassa, necessariamente, pela construção de conexões seguras entre as partes. Tal propósito não deve se resumir a uma atitude pragmática, descontextualizada e pontual de “jogar pesado”, o hardballing. Ainda assim, é importante destacar que uma checagem inicial é importante, afinal algumas condutas são inegociáveis. Logo, não haveria razão de insistir na flexibilização destas constatações. Porém, agir com flexibilidade em outros quesitos é fundamental. Afinal, a construção de um relacionamento envolve o equilíbrio entre duas partes.

Assim, nada deveria impedir uma pessoa de investir num encontro com a mentalidade aberta, de modo que se o crush não se encaixar em todas as expectativas, um segundo ou terceiro encontro pode confirmar as impressões iniciais, bem como trazer descobertas agradáveis. Ou seja, não se deve perder de vista o fato que o relacionamento de sucesso se dá por meio da convivência, ajuste e equilíbrio adequado das diferenças. Desse modo, enganam-se aqueles que tentam substituir essa lógica por um mero questionário. 

Elídio Almeida

Psicólogo em Salvador, formado pela Universidade Federal da Bahia (UFBA) e especializado em Terapia de Casal e Relacionamentos (CRP). Possui também pós-graduação em Psicologia Clínica pela Universidade do Estado da Bahia (UNEB). Dedica-se à prática clínica, oferecendo acompanhamento terapêutico a casais, famílias e atendimento individual para adultos. Além disso, ministra cursos e palestras na área.

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