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Imagine que você está no supermercado com seu filho, ele pede um chocolate, você diz não. Daí ele se joga no chão gritando: “eu quero, eu quero, eu quero…”. Em seguida, seu filho começa a destruir tudo que encontra, chamando a atenção de todos. Você, de certa forma, fica morrendo de vergonha e sabe que nesse momento precisa fazer algo, pois todos ao redor estão esperando uma atitude sua. Seja no supermercado, no shopping, na praia, na casa de amigos e até mesmo em sua casa, a criança pode fazer o maior escândalo para conseguir o que deseja. O que muita gente não sabe, é que na maioria das vezes são os adultos que contribuem para o surgimento e manutenção do comportamento de birra nos menores. Por isso, este é um tema bastante frequente nas clínicas e consultórios de psicologia e precisa ser melhor compreendido.

Entendendo o comportamento de birra?

O comportamento de birra é uma tática manipulatória que as crianças aprenderam a utilizar para ter seus desejos atendidos. Elas usam vários artifícios como: gritos, choros, escândalos ou autoagressão, de modo a constranger os pais e induzi-los a atender seus desejos. Os pais, por sua vez, por não aguentarem a cena do filho gritando e se debatendo em público, acabam reforçando o comportamento de birra da criança. Ou seja, de imediato, atendem os desejos para a criança ficar quieta.

Os pais se sentem como se estivessem sendo julgados como péssimos pais pelas outras pessoas. Não suficiente, para acabar com a cena rapidamente, terminam fazendo a vontade da criança, criando assim um círculo vicioso. Por isso que muitas vezes os adultos contribuem para que o comportamento de birra aconteça. Por exemplo, quando o pai resolve dar o chocolate para a criança ficar quieta; ele dá, também, uma dica muito clara: “toda vez que se comportar com birra e fazer bastante escândalo, vai ganhar o que quer”. Tal atitude condiciona a criança. Consequentemente, acaba fortalecendo ainda mais o comportamento de birra, favorecendo que ele se repita outras vezes.

Sem perceber, muitos pais contribuem para que seus filhos tenham o comportamento de birra.
Sem perceber, muitos pais contribuem para que seus filhos tenham o comportamento de birra.

Como agir para eliminar o comportamento de birra?

O ideal nesses casos é usar uma técnica comportamental chamada extinção. Isto é, progressivamente, inibir as birras até que as crianças aprendam uma forma assertiva e eficaz de se comunicar com os pais e, sobretudo, saber lidar melhor com sua frustração. Para isso, é preciso um treino com os pais para que a técnica seja aplicada com sucesso, pois, muitas vezes, os responsáveis não conseguem ir até o fim por não suportarem o “sofrimento” do filho. Ou seja, acabam reforçando o comportamento depois de algum tempo.

Elídio Almeida

Psicólogo em Salvador, formado pela Universidade Federal da Bahia (UFBA) e especializado em Terapia de Casal e Relacionamentos (CRP). Possui também pós-graduação em Psicologia Clínica pela Universidade do Estado da Bahia (UNEB). Dedica-se à prática clínica, oferecendo acompanhamento terapêutico a casais, famílias e atendimento individual para adultos. Além disso, ministra cursos e palestras na área.

6 Comments

  • Tatiana disse:

    A tática que utilizei com meu filho foi não ceder aos seus caprichos. Se ele utilizasse de artifícios como birra para tentar me convencer, eu olhava bem em seus olhos, explicava o motivo e dizia simplesmente não. Sempre procurei validar o não para que acreditasse que ao dizer o não, era não mesmo. Em alguns momentos, quando observava que estava tendo uma postura rígida, autoritária, procurava contornar de uma maneira que não retirasse a minha palavra, mas que flexibilizasse com alguma negociação. Acredito que tenha funcionado, pois ele nunca me passou vergonha. Sempre tive na mente, por ver crianças agindo de maneira tão agressiva,desrespeitosa, que tais crianças agiam dessa forma por falta de limites, muita flexibilidade e não queria passar pela mesma situação. Claro que ele sempre tenta conseguir o que quer, mas não com atitudes que me faça passar por situações constrangedoras. Têm coisas que ele já sabe que apenas diz: Mãe eu nem vou pedir porque já sei que você não vai deixar. Sei que isso também pode ser um artifício e quando percebo o que se trata eu apenas respondo: Ainda bem que você sabe, então nem peça. Outras vezes pergunto e a depender da resposta e vejo que posso ser flexível sem tirar minha palavra ou autoridade, eu deixo.
    Espero que esteja agindo adequadamente para ser uma criança e um adulto saudáve, pois educar é uma tarefa árdua de acertos e erros.

    • Olá Tatiana!
      Obrigado pelo comentário. Achei muito interessante a forma como você lida com o comportamento de birra com seu filho, principalmente pelo fato de você ter consciência que precisamos ser flexíveis em alguns momentos sem perder de vista posicionamentos primordiais da relação mãe-filho. Parabéns por essa atitude! Achei interessante, também, a forma como seu filho lida com a situação. Vejo que ele aprendeu que não precisa fazer birra para conseguir o que deseja de você, isso demonstra que é bastante esperto. Observe como “indiretamente”, mesmo negando, ele faz o pedido: “Mãe eu nem vou pedir porque já sei que você não vai deixar”. E “indiretamente” você entende o pedido e responde “não”. No geral vejo que você está agindo corretamente, mas, como vocês demonstram ter condições e ferramentas para fazer negociações (ou como costumo dizer, fazer combinados), o que acha de deixar claro para ele que sempre poderá pedir o que quiser e juntos vocês negociarão se você vai concordar ou não com o pedido? Agindo dessa forma você poderá contribuir de forma mais assertiva para que ele não sinta vergonha ou medo de manifestar seus desejos e opiniões. O que acha? Lembre-se que esses ensaios de acertos e erros poderão acontecer primeiramente contigo e poderão ser ampliados com outras pessoas e em outros contextos. Se desejar, poderemos conversar mais sobre o tema.

  • ANA PAULA disse:

    ELIDIO TENHO UMA FILHA DE 8 ANOS E UMA DE 2 ANOS,tenho me preocupado com a mais velha pois tem manifestado comportamento de autoagressao acompanhada de escandalo diante de situaçoes como exemplo: eu sair com o pai.Ela liga varias vezes aodia quer que liguemos qdo chegamos ao trabalho e quer estar junto o tempo todo.Porem esse comportamentocomeçou há 2 meses,sendo que antes brincava o dia inteiro com as amigas docondominio e nem queria sair muito conosco.Percebo que é um ataquede birra porem me preocupei com essa atitude de se bater.

  • Olá Ana Paula!
    Obrigado pelo comentário.
    Observe que na própria descrição da situação você já sinaliza pontos importantes como: quando e em que circunstâncias a birra ocorre, tempo e consequências que isso vem acarretando. A sua preocupação com o bater é muito válida e pode ser um um comportamento que sua filha pode aumentar se for reforçado pelos resultados das situações ou se for coerente com a regra criada por ela. Por isso, recomendo que procure compreender melhor a situação para que não precisem passar exposições à birra.
    Um abraço.

  • Joana Santos disse:

    Ola’ Edilio,
    Gostei muito do seu post!
    Eu tenho duas criancas, e ha’ pouco tempo descobri uma tecnica chamada Sistema de economia de fichas, voce tem alguma experiencia com o sua desta tecnica? Sera’ que devo utilizar com minhas duas criancas (6 e 8)?
    Um abraco

    • Olá Joana, obrigado pelo comentário!
      Conheço sim e penso que bem administrada pode ser uma estratégia bacana e acessível para a garotada aprender novas possibilidades de comportamentos mais adequadas. Às vezes utilizo essa técnica, com algumas adaptações, votada aos comportamentos que desejamos implementar. Eu costumo montar um jogo, baseado no sistema de economia de fichas, bastante participativo que chamo de “Comportamentômetro” e os resultados são bastante promissores. Penso que bem planejada pode sim ser um recurso que você pode utilizar com seus filho, mas deixo a dica que a “premiação” ou a “recompensa” não deva ser o principal para a participação e o comprometimento da garotada, pois do contrário estaremos criando um sistema de “pagamento” que poderá ser generalizado em outras situações e contextos que poderão fugir às expectativas da proposta. Sucesso!

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