Rede Social – Quem acompanha meu blog sabe que já fiz severas críticas a alguns comerciais e propagandas de TV. Por, muitas vezes, eles levam ao público informações preconceituosas, desnecessárias, sem relevância e com desserviço social (veja algumas 1, 2, 3).
Hoje, por um acaso, me deparei com uma propaganda que achei fantástica e imediatamente desejei comentá-la aqui no blog. De início relutei, pois de alguma forma estaria promovendo uma marca ou um produto, mas ponderei que seria justo. Afinal, se crítico algumas propagandas e ideias ruins no intuito que elas sejam melhoradas, acho, que também é válido reforçar aquilo que de, algum modo, contribui para melhoramos nossos comportamento.
O comercial que tanto gostei foi produzido pela Arcos Comunicação para a marca Vitarella, empresa fabricante do Biscoito Treloso. Juntas, apresentaram a campanha “Rede Social de Verdade”. Veja:
Rede social de verdade: E você o que achou?
Depois que assisti ao comercial na TV, vi o vídeos várias vezes na internet. Confesso que o pensamento foi longe, um misto de nostalgia, com doses de reflexão acerca do modelo de vida atual de tantas pessoas que tiveram suas vidas e/ou interações interpessoais reduzidas às redes sociais de mentirinha.
Parece que, aos poucos, muitas pessoas estão desaprendendo as habilidades sociais, que (também) nos distingue das demais espécies. E mais pessoas mostram um déficit de repertório tão grande que já não sabem mais olhar nos olhos de outra pessoa, iniciar uma amizade, iniciar um namoro, viver em grupo e até mesmo conviver com as diferenças.
Você é viciado em celular? Cuidado, você pode ter déficit em suas habilidades sociais.
O perigo de se expor demais nas redes sociais. Se sua vida inteira está na internet, ela poderá ser usada contra você!
Talvez, se fossemos aprofundar a questão do impacto atual das redes sociais e dos hábitos cibernéticos na vida das pessoas, certamente teríamos prós e contras. De um lado, enxergaríamos a velocidade das informações, a segurança diante da violência urbana, das relações sociais conflitantes, o conforto e a comodidade de “tudo” ao alcance da ponta dos dedos – seja num mouse, teclado ou nas telas touch screen.
Por outro lado, parece que, geração a geração, estamos cada vez mais acomodados diante das nossas telas. Vivendo um mundo que, embora se assemelhe ao mundo efetivamente humano e social, não passa de uma projeção dos comportamentos e habilidades que estão muito aquém da potencialidade humana. Se formos mais adiante nos contras, entenderemos melhor porque nossa população está a cada dia mais sedentária, obesa, doente, com medo, tímida, em pânico, ansiosa e com extremas dificuldades nas emoções, nos relacionamentos amorosos, sociais e profissionais.
Existem alguns autores na psicologia e na sociologia que afirmam que nós somos seres sociais e precisamos da interação com as demais pessoas para, dentre outros fatores, construirmos nossa identidade, subjetividade e nosso repertório, para assim nos desenvolvermos orgânica, social e cognitivamente. Se considerarmos que as relações e a vida online – que imperam nos dias atuais – simulam essas etapas e aprendizados, podemos entender que em algum momento esse padrão virtual pode estar comprometendo funções vitais em nossa vida, como a relações interpessoais reais no mundo offline.
Como disse antes, existem prós e contras nessa necessária vida online que vivemos. Mas devemos ponderar que nossa vida não deve estar restrita a ela. Viver sem todas as facilidades e recursos tecnológicos existentes hoje seria inviável, mas não por isso devemos abrir mão das relações offline e dos comportamentos que, geração após geração, fizeram de nós seres humanos mais habilidosos e com vasto repertório comportamental.
O ideal neste momento é intercalar e conviver harmonicamente com os comportamentos primordiais da base das relações humanas, juntamente com as novas expressões e recursos tecnológicos das tão populares redes sociais da internet. E isso em nada seria sinônimo de retrocesso na progressão da humanidade. Ao contrário, tornaria a vida, as relações, o mundo… tudo mais simples e divertido.
Diversão, simplicidade, espontaneidade: elementos que parecem estar faltando na vida de muitos adultos, que desaprenderam como iniciar uma relação, fazer uma amizade, conviver. Talvez muitos adultos precisem analisar com urgência suas redes sociais, pois muitas delas estão longe de serem classificadas como redes verdadeiras.
A cada postagem, comentário, foto, check-in, é compartilhado um mundo onde as pessoas se esforçam para mostrar que são perfeitas, felizes, socialmente responsáveis, politicamente comprometidas, fortes, populares. Quando, na verdade, muitos casos não passam de cenários que podem estar escondendo muita dor e sofrimento de pessoas que precisam de suporte psicológico para aprender a encarar a realidade. Uma certa vez, soube de um rapaz que fez um empréstimo a juros exorbitantes para poder fazer fotos profissionais, apenas para postar na sua rede social e conquistar mais likes entre seus amigos. Penso que isso já foge a muitos critérios de normalidade e necessita de intervenção.
Penso também que até mesmo os mais resistentes devem concordar que é mais legal curtir e viver uma rede social de verdade do que viver na bolha de uma rede social virtual que age como se abduzisse as pessoas a um padrão distante da realidade e, principalmente, da necessidade humana. Creio que a marca acertou no comercial e na campanha, não somente pelo tema apresentado, mas, especialmente, por tentar despertar nas crianças (o eterno futuro da humanidade) o quão legais (e necessário) são as interações offline. Além do convite para a reflexão dos adultos. Por isso, deixo aqui o registro dos meus parabéns pela idéia e pela investida em resgatar nossa essência. =]