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Paixão: conflito no relacionamento e no sentimento – O post de hoje é especialmente dedicado a uma leitora assídua que me escreveu um e-mail sugerindo que eu falasse sobre paixão aqui no blog. Ela sugeriu esse tema porque está “passando por algo enlouquecedor” e seus sentimentos estão confusos.
Seu e-mail foi muito bacana e ela relata que está num relacionamento há alguns anos, ama seu companheiro, mas, de repente, se apaixonou por outro rapaz de uma forma que nem ela mesma consegue explicar. Ela e o rapaz moram em cidades distintas, não se conhecem pessoalmente, se comunicam apenas pelas redes sociais e ela questiona se tamanha intensidade afetiva seria amor, paixão ou loucura.
Ela resume esse sentimento com a seguinte frase: “Nunca o vi e sempre o amei” e finaliza: “Conflito no relacionamento amoroso: eis o seu próximo tema. Boa sorte!
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Querida leitora, obrigado pela participação, pelas palavras gentis e pela sugestão que certamente será ilustrativa para tantas outras pessoas que viveram, vivem ou viverão episódios tal qual este que você está passando neste momento.
Quase que diariamente lido com questões como essa em meu consultório e, por isso, ficarei bem a vontade para falar da minha experiência clínico-terapêutica e como estudioso do tema.
Gostei muito de como você tentou descrever seu sentimento por este rapaz: um misto de “amor, paixão, loucura…” e esse será nosso ponto de partida para entendermos a questão.
Você deve recordar que recentemente escrevi sobre como é difícil nomearmos algo que somente nós sentimos de forma ímpar e como, muitas vezes, nos faltam palavras para transmitir isso para as outras pessoas. Esse pode ser o principal sintoma da paixão: algo que não conseguimos expressar claramente em palavras e que podem nos levar a cometer loucuras (de amor, paixão). Mas é fundamental pensar nas consequências de tudo isso antes mesmo de decisões precipitadas.
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Conflito no relacionamento: você sabe diferenciar amor e paixão?

Não é muito fácil diferenciar amor e paixão, não é verdade? Apesar de conhecermos bem intimamente estes sentimentos, diferenciá-los não é tão simples como muitos acreditam ser.
Em minha opinião, paixão é aquele sentimento difícil de ser traduzido em palavras, gestos, comportamentos… e qualquer tentativa de expressá-lo nunca será suficiente para descrevê-lo. Quando uma pessoa está apaixonada, ela perde a noção do senso, dos limites, da realidade e tudo passa a ser visto pela ótica da hipérbole.
Segundo o magnífico Cazuza, a paixão é aquele amor inventado, idealizado, repleto de exagero, que faz com que a pessoa pense em deixar de respirar, perca a vontade de comer, de viver… largar tudo em prol do outro. A paixão é tão avassaladora que chego a pensar que, se fosse por uma questão de mera interpretação, alguns transtornos mentais descritos no Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-IV), classificação a paixão como transtorno psicológico transitório. Por esta razão provoca tanto conflito no relacionamento.
Mas antes que você se convença de que a paixão seja algo ruim, quero que saiba que ele é extremamente salutar para qualquer relação e, via de regra, ocorre em todos os relacionamentos.
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Na grande maioria das relações, a paixão é tida como o primeiro estágio de um grande amor.

Alguns estudos apontam que, antes mesmo de virar amor, os sentimentos afetivos desenvolvidos numa relação experimentam uma fase de paixão.
Já que perguntei há pouco a diferença entre amor e paixão, podemos neste momento, observar duas diferenças básicas:
(1) a paixão tende a ser  o primeiro estágio do amor, mas um não depende do outro para existir; e
(2) não existe tempo ou duração padrão para que a paixão perdure num relacionamento, às vezes ela pode durar apenas um minuto, um dia, um final de semana, um mês, um verão… enquanto que um amor pode durar a vida toda.

Não saber distinguir a paixão do amor pode conduzir você ao erro.

Essa condução ao erro ocorre porque – como a paixão é algo mais intenso, fantasioso, idealizado – faz com que ela seja vista sempre como mais tentadora, mais empolgante… perfeita. Quando, na verdade, essa percepção e avaliação é feita sobre a lente nebulosa do exagero. E é aqui que mora o perigo.
Imagine o conflito que é para alguém mensurar dois sentimentos distintos como se fossem a mesma coisa, ou seja, um fato é você amar seu marido, que – inclusive já pode há muito ter passado pela fase da paixão – é uma pessoa que você já conhece os prós e contras, méritos e deméritos. Outro fato é compará-lo com alguém que se conhece tão pouco e tudo que é apresentado ou buscado tende a ser posto da melhor forma possível, pois, nitidamente há o interesse comum da conquista e até mesmo as frustrações daquele amor que você conhece tanto e, obviamente, constrói-se expectativas e projeções para a nova paixão.
Por isso, minha cara leitora, peço que avalie se você está dando a dimensão adequada às comparações entre a paixão e o amor. Isso ajudará a resolver o conflito no relacionamento.
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Vou tentar ilustrar o que estou dizendo através de um conto de um pernambucano que amo muito (e ainda sou apaixonado, claro!), Nelson Rodrigues.
No conto “A fraldinha ameaçadora” Nelson apresenta o caso da paixão confundida com amor entre Genival e Abigail. Ele, quarentão, médico, casado, filhos. Ela, dezessete anos, morava com os pais e um dia foi se consultar com o Dr. Genival. Nesta consulta se conheceram e também se apaixonam. A partir daí passaram a se encontrar até que a família da jovem descobre o romance e mandam Abigail para o Canadá. Depois de algum tempo o médico descobre o paradeiro de Abigail, abandona emprego, família e parte em busca da moça para viver aquele amor, paixão. Para surpresa de todos, após poucos dias, ele volta para o Brasil e à sua rotina e em seguida ela também volta, porém grávida, abandonada e temendo a família. Em suma, a paixão de Genival e Abigail não evoluiu para o amor que eles se propuseram a viver e certamente fizeram erros de cálculos e avaliações que, ao investirem de tamanha forma numa paixão, ainda que pensando tratar-se de amor.

Você sabe identificar se está apaixonado ou amando?

Essa dúvida entre amor e paixão, entre arriscar tudo por algo novo, aquela vontade de jogar tudo por algo que parece ser a melhor opção é muito comum na vida real, nos contos da história, nos romances, nas poesias e nas músicas. Por isso gera tanto conflito no relacionamento. As pessoas largarem tudo por uma paixão e pouco pensam nas consequências de seus atos.
Na realidade, também é muito comum estas mesmas pessoas irem em busca de uma fantasia e se depararem (quando não logo de cara, após algum tempo) com uma realidade totalmente distinta daquilo idealizado na fase da paixão. Não quero aqui desestimular sonhos e mudanças nas relações, ao contrário. Essa reflexão tem a função principal de nos levar a avaliar melhor os riscos e investimentos necessários a estas questões.
A ideia é que, mesmo no turbilhão da paixão, dure ela quanto tempo durar e independente de quem ela envolva, devemos sempre pensar nas consequências de qualquer investida ou mudança. Por isso, é sempre recomendado que você procure ajuda profissional para compreender melhor os acontecimentos e receber suporte para analisar adequadamente a questão com vistas a obter consequências mais vantajosa, menos onerosas e viver mais feliz.

Elídio Almeida

Psicólogo em Salvador, formado pela Universidade Federal da Bahia (UFBA) e especializado em Terapia de Casal e Relacionamentos (CRP). Possui também pós-graduação em Psicologia Clínica pela Universidade do Estado da Bahia (UNEB). Dedica-se à prática clínica, oferecendo acompanhamento terapêutico a casais, famílias e atendimento individual para adultos. Além disso, ministra cursos e palestras na área.

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