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Selfie e egocentrismo! De repente essa palavra nova se tornou popular entre nós. Para quem ainda não sabe, “selfie” é o comportamento de tirar autorretratos ou fazer autovídeos, usando smartphones, tabletes, câmeras digitais e webcams, e compartilhá-los nas redes sociais.

Um selfie pode ser tirado com apenas uma pessoa, uma dupla ou um grupo. Alguns selfies costumam fazer tanto sucesso na rede que acabam estimulando outras pessoas a repetir, cada vez mais, esse comportamento.

Desde que começou a se popularizar, os selfies ganharam até categorias. Algumas bem-humoradas (ou ridículas), como o “duck face” ou “cara de pato”.

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Outras flagram, às vezes, alguma coisa inusitada ou hilária que aparece no plano de fundo, ou simplesmente porque algumas pessoas parecem estar tão preocupadas em registrar sua presença naquele momento/situação que todo o resto parece não ter importância. Quando nos deparamos com casos assim, provavelmente estamos diante de pessoas com altos níveis de egocentrismo, falta de controle emocional e consideráveis índices no déficit habilidades sociais e empatia.

O egocentrismo é uma característica da personalidade humana, que remete ao indivíduo que prioriza a si e a seus desejos diante da realidade, tornando-se imerso em uma fantasia apropriada a esse padrão de aceitação e não enxergando a realidade da vida social e das necessidades de outros indivíduos em relação às suas. Quando age nesses parâmetros, a pessoa costuma apresentar falta de habilidade para conduzir situações sociais cotidianas, mostrando dificuldade em se colocar no lugar das demais pessoas (falta de empatia) e demonstrando pouco vínculo com o contexto e com quem nele convive.  Todavia, a moda dos selfies tem demonstrado que muitas pessoas agem com muito egoísmo em tais fotos e que isso pode ser um reflexo de seu modo de vida.

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Um desses casos é o famoso selfie feito no funeral de Nelson Mandela, em que aparecem o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, o primeiro ministro do Reino Unido, David Cameron e Helle Thorning Schmidt, primeira ministra da Dinamarca. Parte da população mundial considerou o ato um desrespeito ao momento fúnebre e considerou que as autoridades não estavam com pesar pela morte do líder africano e pareciam apenas estarem cumprindo um papel político. Um comportamento contraditório com as declarações e discursos.

Algo da mesma categoria aparece uma compilação de fotos do site tumblr, com selfies feitos com moradores de rua (veja). Mesmo que alguns considerem ‘normal’, parece estranho ter no mesmo ambiente pessoas sofrendo enquanto outras pousam alegremente. Não é verdade?

Alguns casos chegam a ser tão bizarros que devemos nos perguntar o que há com essas pessoas? Existe algo errado com elas? Falta controle emocional? Elas têm algum transtorno psicológico?

Selfie mostra o egocentrismo das pessoas.

Talvez você até esteja achando alguns desses selfies bizarros, mas certamente já riu, achou engraçado, inusitado, curioso ou até mesmo diferente alguma dessas fotos. Além de, provavelmente já ter curtido ou compartilhado em suas redes sociais. Com isso, não tenha dúvidas: você também estimulou essa pessoa a repetir mais e mais vezes esse comportamento.

Digo “também”, pois você não só aprovou e estimulou a foto, mas todos os comportamentos atrelados a ela. Ainda que inconscientemente, você inevitavelmente estimulou o surgimento de mais fotos dessa categoria, como também o egocentrismo e a forma como essa pessoa se comporta nesses contextos.

A priori, pensar dessa forma pode ser estranho, mas não tenha dúvidas, com isso, aos poucos, vamos dia após dia, ação após ação, selfie após selfie, perdendo nossas características humanas: empatia, sensibilidade aos outros e sintonia com o contexto no qual vivemos.

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A mulher acima foi fotografada tirando uma foto na Brooklyn Bridge, em Nova York, nos Estados Unidos. O problema é que ela decidiu registrar, além do seu rosto, um homem que estava tentando pular da ponte.

Dentre tantos problemas atrelados a esses selfies sem noção, o mais grave, além da questão do egocentrismo e falta de sensibilidade ao contexto. Também está a questão de como as pessoas estão perdendo a habilidade de pensar nas consequências dos seus comportamentos.

Num texto anterior aqui no blog, falei do perigo de se expor demais nas redes sociais, mostrando como muita gente se expõe desnecessariamente e abre precedentes para vários riscos para sua vida. Muitas pessoas precisam recuperar ou aprender urgentemente essas habilidades, para não sofrer consequências significativamente danosas aos seu convívio social.

Claro que isso demanda empenho de todos – de quem faz e de quem entra em contato com esse efeito. Se as pessoas continuarem a reforçar comportamentos inadequados, eles só tendem a crescer. Talvez isso seja mudado quando aprendermos a compreender, estimular e valorizar aquilo que traz efetivamente bons resultados para todos os envolvidos no contexto. Faça sua parte e lembre-se: assim como selfie e egocentrismo, quem curte e compartilha, também estimula e aprova! 😉

Elídio Almeida

Psicólogo em Salvador, formado pela Universidade Federal da Bahia (UFBA) e especializado em Terapia de Casal e Relacionamentos (CRP). Possui também pós-graduação em Psicologia Clínica pela Universidade do Estado da Bahia (UNEB). Dedica-se à prática clínica, oferecendo acompanhamento terapêutico a casais, famílias e atendimento individual para adultos. Além disso, ministra cursos e palestras na área.

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