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Recentemente lancei uma enquete no meu Instagram questionando as pessoas sobre qual seria o maior medo delas em relação ao próprio relacionamento. A partir disso, quero propor, por meio deste texto, uma reflexão importante sobre os impactos que o medo da traição e o medo da separação podem ter na forma como muitas pessoas constroem e vivem, de modo bastante comprometido, seus relacionamentos amorosos.

Ao todo, 241 pessoas participaram da enquete. Dentre as opções estavam: traição, separação, morte do parceiro ou falta de sexo. O resultado foi, no mínimo, surpreendente. Isso, porque, apenas 20% dos participantes disseram que o maior medo era perder o cônjuge por morte. Já 30% apontaram a separação como o principal temor. A falta de sexo apareceu com 7%. Mas 43% afirmaram que o maior medo era ser traído. Ou seja, somando os que mais temem a traição e a separação, chegamos a 73% das pessoas. Isso indica que, para a maioria, o pavor de ser deixado, rejeitado ou enganado é maior do que o medo da morte da pessoa amada.

Lógico que temer que algo ruim aconteça no relacionamento é absolutamente compreensível, e cada pessoa terá seus motivos para isso. No entanto, algumas vivem em função desse medo e, consequentemente, constroem e mantêm o namoro ou casamento à base dessa tensão, da desconfiança. Por isso, quem se identifica com essa vivência precisa conhecer outras possibilidades — bem mais eficazes — de construir um convívio amoroso saudável e duradouro.

E aí fica a pergunta: que tipo de amor estamos cultivando, se para algumas pessoas a dor da perda definitiva parece doer menos do que o impacto emocional de uma traição?

Não se iluda achando que você consegue impedir uma traição

Qualquer pessoa, homem ou mulher, pode trair. Isso é fato. Para que isso aconteça, basta surgir o desejo, a oportunidade e a decisão. É por isso que viver em função de tentar afastar possíveis ameaças de uma traição é, no mínimo, ineficaz.

Frequentemente digo isso aos meus pacientes e talvez você também precise refletir sobre isso: por maior que seja o receio de se deparar com uma infidelidade, nenhuma tentativa de controle será suficiente para impedir alguém que esteja disposto a trair. Além disso, é comum que pessoas inseguras tentem evitar que seus pares tenham vida social ou façam atividades sozinhos. Outras chegam a proibir contatos com amigos e pessoas consideradas “suspeitas”. Acreditam, equivocadamente, que, assim, estarão impedindo uma traição.

Mas, mais cedo ou mais tarde, se o outro quiser trair, vai trair. Nenhuma vigilância será capaz de impedir isso. Dito de outro modo: se você teme ser traído, o caminho não é o controle — é o fortalecimento do vínculo.

Isso, no entanto, não significa que a traição seja inevitável. Apenas reforça que a fidelidade não nasce da limitação, mas da escolha consciente.

Muitos casais vivem com o medo de se deparar com uma traição e não saber como lidar com a situação.
Muitos casais vivem com o medo de se deparar com uma traição e não saber como lidar com a situação. Elídio Almeida: psicólogo e terapeuta de casal em Salvador.

O medo da traição e suas armadilhas

Como psicólogo e terapeuta de casal, entendo que é natural querer proteger quem se ama. Nenhum problema com isso. O alerta se acende quando o medo deixa de ser pontual e passa a ocupar o centro da relação.

Nesses casos, o relacionamento deixa de ser construído a partir do afeto, da parceria e dos planos compartilhados — e passa a ser moldado pela vigilância, pela suspeita e pelo receio constante.

É aí que surgem comportamentos como:

  • exigir senhas;
  • vigiar redes sociais;
  • limitar amizades;
  • questionar cada saída ou compromisso.

Quem age assim acredita, ainda que inconscientemente, que pode evitar a dor de uma possível traição por meio do controle. Mas a verdade é simples (e dolorosa para alguns): quem quiser trair, vai trair — mesmo vigiado. E quem quiser ser leal, será — mesmo livre.

Portanto, o que sustenta a fidelidade não é a restrição, mas a escolha. E o que sustenta o relacionamento não é o medo, mas a confiança mútua.

Não seja um espantalho no seu relacionamento

A melhor estratégia para evitar a traição não é o controle, mas o cultivo de uma relação baseada em confiança e conhecimento mútuo. Casais que se dedicam a conhecer um ao outro de forma profunda e a nutrir o vínculo diariamente não precisam agir como espantalhos de lavoura.

A metáfora é simples: em plantações frágeis e desprotegidas, usa-se o espantalho como tentativa rudimentar de afastar predadores. Ele não protege de verdade — apenas simula uma presença ameaçadora. E, com o tempo, até os pássaros percebem que ele é inofensivo.

Do mesmo modo, relacionamentos frágeis muitas vezes recorrem a atitudes de controle, ciúmes excessivos ou vigilância constante para afastar o risco de uma traição. Mas isso não garante segurança real. Só cria uma falsa sensação de proteção.

Pessoas que confiam no vínculo que constroem entendem que, sim, os riscos existem — mas não organizam a relação em torno do medo. Em vez de tentar impedir os predadores a qualquer custo, concentram-se em fortalecer o próprio terreno.

Porque não é o medo que sustenta uma relação.
Não é o susto que impede uma traição. É o compromisso, a confiança eo cultivo.

Invista no vínculo, não no medo

Por fim, é fundamental destacar: não vale a pena viver um relacionamento alimentado pelo medo — seja ele qual for. Pessoas que vivem nessa condição acabam dedicando grande parte do seu tempo e da sua energia tentando afastar ameaças. E, geralmente, fazem isso muitas vezes sem perceber.

Portanto, o receio da traição, o medo da separação, a frustração com a falta de sexo ou qualquer outro temor passam a ditar as regras da convivência. Em vez de nutrirem o vínculo, vivem em função de neutralizar riscos. É por isso que construir uma relação sólida, baseada na confiança mútua, é tão urgente. Afinal, há muita gente que investe mais no medo do que no próprio relacionamento. Gente que conhece profundamente todas as possibilidades de ameaça — mas pouco sabe sobre quem está ao seu lado.

Dito de outra forma: há casais que sabem mais sobre traições imaginadas do que sobre os sonhos reais um do outro. E isso precisa mudar com urgência. Por isso, o convite que deixo aqui é direto: pare de investir no medo. Invista no relacionamento.

Inclusive, tem gente que sabe tudo sobre infidelidade — reconhece sinais, já decorou rotas do ciúme, leu mil textos sobre traição — mas não sabe dizer quais são os desejos atuais da pessoa com quem dorme todas as noites. Não sabe o que ela tem sentido. Nem o que tem sonhado. Nem o que tem temido. E isso, sim, é perigoso.

Quando nos dedicamos mais a investigar o risco do que a cultivar o vínculo, o amor vira uma guerra. E não um encontro.

Por isso, olhe para quem está ao seu lado com mais presença. Faça perguntas sinceras. Demonstre interesse genuíno pelo mundo interno do outro. E, acima de tudo, construa um espaço onde liberdade e compromisso possam caminhar juntos.

Porque, no fim das contas, não é o espantalho que garante a colheita. É o cultivo.
E quem cultiva bem, colhe com confiança.

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