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“Bingo: o rei das manhãs” conta a controversa história de Arlindo Barreto, um dos intérpretes do palhaço Bozo. Em síntese, o filme mostra o sofrimento de Barreto que alcança o ápice da fama graças ao personagem, apesar de jamais ser reconhecido por estar sempre fantasiado. Na trama, Arlindo tenta camuflar seus sentimentos, pois eles são opostos ao que o público espera do palhaço. De maneira similar, muitas pessoas evitam demonstrar suas emoções, pois acreditam que isso seria um sinal de fraqueza ou desagradaria as pessoas ao seu redor. Além de equivocado, esse grupo precisa compreender que demonstrar sentimentos e emoções não é sinal de fraqueza. Ao contrário. Expressar aquilo que se sente representa bem-estar e segurança emocional

Sinal de algo errado

Assim como a maioria dos palhaços, algumas pessoas procuram sempre demonstrar bem-estar, alegria e provocar riso nos outros. Parte desse grupo acredita que o oposto disso seria demonstrar algum tipo de fraqueza e isso poderia desagradar os demais. Inclusive, assim como o ator que deu vida ao palhaço Bozo, essas pessoas podem estar em grande sofrimento psíquico, mesmo assim, gastam energia dobrada. Isto é, além de toda a dor do sofrimento originário,  a exemplo de um quadro de depressão, se esforçam para preformar de acordo com a expectativa da plateia. Tal lógica, além de equivocada, é desumana. Afinal, demonstrar sentimentos e emoções não é sinal de fraqueza. Tal atitude representa segurança psíquica e bem-estar. Por isso, quando uma pessoa não encontra condições para demonstrar aquilo que sente, isso pode indicar que existe alguma insegurança emocional ou o contexto estabelece empecilhos para que isso ocorra, bem como a união de ambos. Isso precisa ser trabalhado.

Demonstrar sentimentos e emoções torna a relação mais leve e segura. Caso tenha dificuldade para isso, procure ajuda profissional.
Demonstrar sentimentos e emoções torna a relação mais leve e segura. Caso tenha dificuldade para isso, procure ajuda profissional.

Demonstrar sentimentos não é sinal de fraqueza

No propósito de trabalhar a segurança emocional, é importante destacar que o sofrimento presente na maioria dos casos é relacional e ambiental. Isto é, cada comportamento parte de uma pessoa que tem marcas e expectativas da própria experiência. Associado a esses fatores, vale lembrar que cada um age num determinado contexto e é impactado pelo resultado dessa interação. Por isso, se a situação não for adequada e receptiva às manifestações de sentimentos e emoções, o resultado não será oportunizado ou proveitoso, levando a traumas, bloqueios ou supressão dos sentimentos e emoções. Desse modo, é imprescindível adotar medidas para melhorar o contexto onde o comportamento ocorre, refletindo segurança emocional e bem-estar na interação. Dito em outras palavras, aqueles que usam e adotam o pífio argumento de associar expressão de sentimentos e emoções a fraqueza estão se distanciando do real enfrentamento e superação dos sofrimentos psíquicos. Ou seja, continuam vivendo em prol da platéia.

Forte mesmo é quem assume o que sente 

Considerar que assumir posicionamentos e externalizar sentimentos e emoções é um sinal de fraqueza, é uma ideia inadequada. Pessoas seguras de si, de suas posições e suas relações lidam melhor com os contextos, inclusive em situações adversas. Por não ter consciência disso, ou não dispor de um contexto favorável, algumas pessoas, assim como Arlindo Barreto, investem num personagem que até pode fazer sucesso entre o público, porém não é a pessoa real e isso gera conflitos. Além disso, não adianta acreditar na falsa lógica que prega a expressão dos sentimentos e emoções como sinônimo de fraqueza. Afinal, não é descaracterizando ou invertendo o sentido do comportamento que vão vencer suas inseguranças. Na verdade, ao camuflar suas fragilidades ou aprisionando suas emoções dentro de si, dão provas que algo não está bem resolvido, dentro ou fora de si. Por isso, é seguro afirmar que “forte mesmo é quem assume o que sente. Tanto dores quanto amores”.

Elídio Almeida

Psicólogo em Salvador, formado pela Universidade Federal da Bahia (UFBA) e especializado em Terapia de Casal e Relacionamentos (CRP). Possui também pós-graduação em Psicologia Clínica pela Universidade do Estado da Bahia (UNEB). Dedica-se à prática clínica, oferecendo acompanhamento terapêutico a casais, famílias e atendimento individual para adultos. Além disso, ministra cursos e palestras na área.

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