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Todo país ainda acompanha os desdobramentos acerca do massacre ocorrido no bairro do Realengo, no Rio de Janeiro, na manhã de quinta-feira, 07 de abril de 2011.  No post Tragédia no Realengo: o que isso diz sobre nossa sociedade?”, falei sobre o estresse pós-traumático e a preocupação que devemos ter com o bem estar das testemunhas que sobreviveram a esta tragédia, com os pais que tiveram seus filhos assassinados nesse trágico episódio, alunos, professores, funcionários, amigos e tantas outras pessoas que já testemunharam situações semelhantes, além de toda sociedade que vive hoje o medo e o  pânico, em função de estar vulnerável à mesma situação.

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Desde as primeiras notícias do caso, muitas pessoas têm me perguntado quais são os impactos que esse massacre pode causar às pessoas que testemunharam, ou de alguma maneira, se veem na mesma situação de vulnerabilidade daqueles alunos, professores, funcionários da escola, pais e responsáveis. Lógico que os impactos serão os mais desagradáveis possíveis, mas vão ocorrer em função da história de vida de cada pessoa, ou seja, a maturidade, os apoios familiares, afetivos, sociais e o contexto em que ela vive.

Todavia, dada a magnitude do que aconteceu, no geral, as pessoas poderão desenvolver alguns transtornos como: aversão a qualquer coisa ou circunstancia que lembra o episódio traumático, fobias diversas, pânico, medo, comportamentos persecutórios e delirantes, introspecção, dentre outros. É possível dizer que todas elas enfrentarão algo que chamamos de estresse pós-traumático.

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O transtorno do estresse pós-traumático, ou também conhecido como TEPT, pode ser ilustrado pelo terrível massacre que ocorreu no Realengo, mas em outras ocasiões ele acontece quando uma pessoa vivencia um trauma emocional que causa grande impacto em sua vida.

É bom destacar que esse grande impacto é muito relativo e varia de pessoa para pessoa. Observe que falamos acima de pessoas que estiveram frente a frente e sobreviveram aos ataques de um assassino. O mesmo transtorno pode ocorrer com uma pessoa que sofreu uma tentativa de assalto, sequestro ou esteve frente a frente com um animal peçonhento, uma cobra, por exemplo. Esses traumas incluem, ainda, catástrofes naturais, agressão física, estupro, acidentes… e o trauma geralmente está relacionado a uma ameaça real (ou imaginária) à vida ou integridade física e psicológica da pessoa.

Existem alguns fatores que facilitam o desenvolvimento do transtorno do estresse pós-traumático- TEPT:

  • tipo de personalidade;
  • forma com que a pessoa lida com situações estressantes;
  • maneira como enfrenta as dificuldades cotidianas;
  • pouca habilidade para resolver problemas;
  • estar constantemente exposto a situações de risco.

O TEPT afeta a pessoa como um todo, trazendo perturbação, sofrimento e prejuízos significativos em muitas áreas da vida, seja no âmbito pessoal, social e profissional. O transtorno do estresse pós-traumático provoca sintomas fisiológicos, emocionais e comportamentais, sendo que na maioria das vezes eles ocorrem interligados ou simultaneamente.

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E o que sente uma pessoa que está com transtorno do estresse pós-traumático?

É importante destacar que as pessoas que passam por eventos traumáticos podem ou não desenvolver o Transtorno de Estresse Pós-Traumático. Todavia, as que o desenvolvem, podem começar a perceber seus sintomas logo após o evento ou ainda demorar até 06 meses para começar a apresentá-los. Estes últimos estão naquela situação em que  “ainda não caiu a ficha”.

O próprio caso dramático ocorrido em Realengo pode nos trazer significativos aprendizados para lidar com o estresse pós-traumático.

Hoje li uma reportagem onde sugeriram diversas ações para ajudar os alunos, familiares e comunidade a superar o trauma. Dentre as sugestões estava: transferir os alunos para outra escola, retardar as aulas, pintar a escola com cores alegres… Nada disso contribuíria para ajudar efetivamente essas pessoas. Não dá pra colocar tudo que aconteceu embaixo do tapete e negar a existência do passado, por mais terrível que ele seja. Toda pessoa que foi afetada por um evento traumático deve ser acompanhada por profissionais, ser apoiada e encorajada a encarar os fatos com o máximo de transparência possível. Todos precisam enfrentar esse medo pouco a pouco até, a superação, para que ele não se transforme num fantasma e seja reconstruído em outros contextos.

Nesso contexto, uma recomendação muito apropriada para lidar com essas questões de traumas pode ser vista no vídeo abaixo:

Gostei muito e endosso as palavras do sargento Marcos Alves: “Continuem nessa escola. Não abandonem essa escola. Aqui é que vocês vão encontra forças para superar essa dificuldade que nos passamos”. Falou e disse sargento! Sabemos que encarar uma realidade cruel como esta não será fácil, mas se, além da força de vontade, pudermos contar com orientações e acompanhamentos eficazes, tudo será  menos danoso. No entanto, sabemos que encarar tos fatos não é uma tarefa fácil. Por isso, se você estiver tendo dificuldades para superar um trauma, seja uma separação, um caso de morte, doença… não hesite em buscar ajuda profissional.

Elídio Almeida

Psicólogo em Salvador, formado pela Universidade Federal da Bahia (UFBA) e especializado em Terapia de Casal e Relacionamentos (CRP). Possui também pós-graduação em Psicologia Clínica pela Universidade do Estado da Bahia (UNEB). Dedica-se à prática clínica, oferecendo acompanhamento terapêutico a casais, famílias e atendimento individual para adultos. Além disso, ministra cursos e palestras na área.

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