Nos últimos posts, tenho chamado a atenção para o adoecimento psicológico dos médicos. Hoje, vou falar sobre os gatilhos para o suicídio na vida dos profissionais de medicina. O alerta deve-se, especialmente, às condições de trabalho que esses profissionais enfrentam em seu dia a dia. Afinal, o nível de estresse, as altas cobranças e as ansiedades vivenciadas têm gerado nos médicos transtornos emocionais, além de levar à estafa mental causada pela rotina de trabalho. Por consequência, interferido em suas vidas sociais e familiares.
A junção desses quadros tem desencadeado neles a Síndrome de Burnout. Casos mais graves desse distúrbio estão levando alguns médicos a cometer suicídio. Levantamento feito no estado de São Paulo na última década apontou que cerca de 2% das mortes de médicos foram decorrentes de suicídio. Por isso, devemos estar atentos aos gatilhos para o suicídio.
Mudança de comportamento. Um sinal de que algo não vai bem.
As mudanças de comportamento não são sinais exclusivos da classe médica. No entanto, é fundamental darmos a devida atenção a elas. Tais ocorrências podem indicar que algo não está bem. Muitas vezes, são mudanças sutis, mas se soubermos identificar e tratar a tempo, podemos evitar o pior, seja com um colega médico ou com qualquer outra pessoa.
De repente, algo estranho começa a acontecer. Aquele amigo ou colega de trabalho, conhecido por sua pontualidade, começa a chegar atrasado ao trabalho. Sua fisionomia não é mais a mesma, não ri mais, passa a maior parte do tempo isolado, não cuida da aparência como antes. Em princípio, são indícios de que algo não vai bem com ele. No caso dos médicos, outro comportamento destoa e merece especial atenção: o uso indiscriminado de antidepressivos e ansiolíticos. Muitas vezes, eles se apropriam de anestésicos do hospital para uso próprio. Em outras palavras, o acesso facilitado a determinados medicamentos passa a ser usado para fugir da realidade. Num dado momento, essa realidade parece ser tão insuportável que a pessoa resolve tirar a própria vida.
Mas o que leva um médico a se matar?
Essa é sempre uma pergunta difícil de se responder. Cada pessoa que tenta ou consegue tirar a própria vida encontra ao menos um motivo para isso. O importante para nós é saber que o suicídio nunca é unifatorial, mas multifatorial. Ou seja, a decisão de vida e morte não passa por um único ponto. Logo que trata-se de uma somatória de experiências, frustrações, traumas e anseios não correspondidos ou difíceis de serem alcançados.
O tema suicídio é sempre delicado. Já que revela-se uma atitude extrema para alguém que não está suportando determinados sofrimentos. Porém, os motivos não são os mesmos para todos. No casos dos médicos, os gatilhos para o suicídio podem estar relacionados à prática profissional. Esses profissionais possuem um contato íntimo e contínuo com a dor e o sofrimento. Logo que a proximidade com a morte, cobranças, medo de falhar diante das expectativas dos pares e dos pacientes também conferem pesadas emoções à rotina dos profissionais de saúde. Mas, os gatilhos para o suicídio também podem ter outras origens:
- questões de âmbito pessoal
- desavenças familiares
- dificuldades financeiras
- conflitos com a identidade sexual
- dificuldades ou rompimento de um relacionamento amoroso
- doença ou morte de um ente querido
- baixa autoestima
- sensação de não ser especial
- traumas sofridos na infância e/ou adolescência
- experiências traumáticas da vida adulta.
Gatilhos para o suicídio.
Os gatilhos para o suicídio são ainda mais acentuados quando a rotina da pessoa ocupa todos os espaços da vida, não deixando lugar para atividades prazerosas. Ou seja, a possibilidade de um adoecimento psicológico torna-se ainda mais potencial quando a pessoa deixa de ter atividades de lazer ou de estar com a família e os amigos.
Infelizmente, essa é uma rotina comum a muitos médicos e estudantes de medicina. É a partir de modos de vida como esse que surgem as principais causas que podem desencadear o suicídio: primeiramente, vêm os sinais de estresse, a ansiedade desmedida, a depressão e a fuga por meio do abuso de álcool e drogas, entre outros.
Ter uma família acolhedora, amigos à volta, uma crença ou religião e uma boa rede de contatos profissionais pode mudar o curso dessa tragédia anunciada.
A partir daí, podem surgir as ideações suicidas (pensamentos de morte). Quando esses pensamentos tornam-se recorrentes, tendem a se converter em uma tentativa real. No entanto, nem sempre a primeira é bem-sucedida, mas pode deixar sequelas. Como já falei aqui no blog, uma tentativa de suicídio anterior é um fator de risco para uma próxima. Desse modo, devemos sempre estar alertas a todos esses gatilhos, seja para buscar ajuda para nós mesmos ou para ajudar alguém que esteja próximo.
Trajetória de vida
Por isso, conhecer a trajetória de vida e a história da pessoa pode ajudar a responder algumas perguntas fundamentais. Nesse quesito, a psicoterapia é sempre um ato preventivo e terapêutico. Trabalhar os sentimentos e emoções pode levar qualquer pessoa a compreender melhor a realidade, buscar meios mais adequados para alcançar resultados e ter uma vida mais próspera.
Em suma, neste post, a atenção maior está voltada para os médicos. Uma pessoa de qualquer profissão pode está passando pelos mesmos dilemas. No caso dos médicos, os gatilhos para o suicídio e os fatores de risco podem encurtar o caminho dos médicos até o suicídio. O importante é sabermos que, em todos os casos, os fatores de proteção distanciam as pessoas que estão em sofrimento das tentativas ou dos atos suicidas. Similarmente, ter uma família acolhedora, amigos à volta, uma crença ou religião e uma boa rede de contatos profissionais pode mudar o curso dessa tragédia anunciada. Então, pense nisso e nunca hesite em buscar ajuda.