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Você já ouviu falar em ghosting financeiro? Trata-se de uma adaptação do ghosting que conhecemos nos relacionamentos, que é simplesmente desaparecer sem dar explicações. Porém, neste caso, o termo tem a ver com dinheiro. Em síntese, no ghosting financeiro, a motivação para o sumiço geralmente não é falta de afeto, mas sim a dificuldade de lidar com vulnerabilidades econômicas e simbólicas ligadas às finanças, especialmente pelo medo de não ser aceito ou pelo receio de julgamento. O ghosting financeiro expõe como a nossa cultura associa valor pessoal à condição econômica. Assim, o dinheiro vira marcador de status, pertencimento, qualificador para os relacionamentos, valor pessoal e autoestima. Por isso, quando surgem dificuldades ou incompatibilidades financeiras, muita gente prefere sumir a admitir que não pode bancar um jantar, uma viagem ou mesmo um encontro simples. Isso é o ghosting financeiro.

Ao longo deste texto, reflito sobre o que sustenta esse movimento e como podemos enfrentá-lo.

Por que é tão difícil falar sobre dinheiro nas relações?

Antes de tudo, vale considerar que vivemos em uma sociedade que qualifica as pessoas pelo que elas têm. Nessa lógica, o dinheiro deixa de ser apenas meio de aquisição e se converte em símbolo de valor pessoal. Consequentemente, isso traz várias implicações para os relacionamentos, pois admitir limitações financeiras pode soar como fraqueza ou inferioridade. Desse modo, e não por acaso, o tema vira tabu, levando muitas pessoas a praticarem o ghosting financeiro e simplesmente desaparecerem.

No consultório, observo que esse sumiço raramente nasce da falta de interesse. Com frequência, ele é uma estratégia de autoproteção diante do medo de revelar fragilidades e se expor aos julgamentos. Em outras palavras, muitos sustentam a fantasia de que precisam impressionar financeiramente e, quando não conseguem corresponder à expectativa, desaparecem em vez de dialogar. Assim, o ghosting financeiro se instala onde faltam segurança emocional e espaços de conversa franca.

Ghosting financeiro: mulher brasileira triste e pensativa em uma cozinha simples, enquanto o parceiro sai de fininho pela porta.
O ghosting financeiro traz prejuízos para todos os lados. Quem pratica sofre com a vergonha e o medo do julgamento. Quem é ghosteado sofre pela ausência de informação e por não compreender a razão do abandono. Elídio Almeida: psicólogo e terapeuta de casal em Salvador.

Quais os impactos do ghosting financeiro nos relacionamentos?

De um lado, quem pratica o ghosting financeiro acredita estar se preservando; no entanto, acaba prisioneiro de vergonha, culpa e narrativas depreciativas que correm por fora da realidade. Do outro lado, quem é “ghosteado” permanece sem respostas e, diante do vazio, costuma criar hipóteses dolorosas: “não sou suficiente”, “não mereço afeto”. Como resultado, a autoestima se abala, a insegurança cresce e, em alguns casos, abrem-se portas para vínculos abusivos e relacionamentos tóxicos.

Em última análise, a falta de transparência corrói vínculos nos dois polos. Sem diálogo, a confiança se rompe e o silêncio deixa marcas emocionais duradouras. Portanto, o preço do sumiço é alto para todos os envolvidos. Porém a pessoa que é simplesmente deixada e sem quaquer resposta fica um sofrimento muito maior.

Como criar um espaço seguro para falar sobre dinheiro?

Para começar, é preciso reconhecer a pressão cultural que define pessoas pelo poder de consumo. A partir daí, vale desenvolver defesas saudáveis para que essa régua social não dite quem você é nem como se relaciona. Nesse sentido, a prática do comportamento assertivo ajuda muito: expressar sentimentos e limites com clareza, sem invalidar a própria perspectiva nem a do outro. Geralmente, processos terapêuticos bem conduzidos trabalham exatamente essas habilidades. Assim, a pessoa pode criar meior para compreender que o dinheiro deixe de ser gatilho de conflito e passe a ser tema possível de conversa e alinhamento de expectativas.

Além disso, cada pessoa traz história, valores e medos próprios. Por isso, pode ser útil contar com apoio profissional. O objetivo, aqui, não é eliminar diferenças, mas sim aprender a manejá-las de modo respeitoso e construtivo. Afinal, desaparecer não resolve divergências; ao contrário, costuma ampliá-las.

O que fazer quando o ghosting financeiro aparece?

Nunca é demais lembrar que autenticidade e cuidado sustentam vínculos saudáveis. Ser franco, dentro do possível, fortalece a confiança e oferece ao outro a chance de conhecer quem você é, inclusive seus limites. Paralelamente, críticas e julgamentos pouco ajudam: via de regra, só afastam. Logo, o caminho passa pelo equilíbrio entre transparência e empatia. Quando há acolhimento das vulnerabilidades e disposição para aprender juntos, os laços amadurecem.

Embora não seja simples, se a pressão por “alta performance financeira” estiver engessando suas escolhas, ou se o ghosting financeiro já tiver acontecido, vale buscar ajuda profissional. Ou seja, cuidar da saúde emocional é um investimento que protege a autoestima e favorece relacionamentos mais estáveis e honestos. O que voce pensa sobre isso?

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