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“Cilada,” uma famosa música do grupo Molejo, conta a saga de um homem que, movido por uma forte sedução, se deparou com uma grande desilusão amorosa. Inclusive, a letra desta canção é pertinente para refletirmos sobre o “Love bombing,” um termo novo que descreve comportamentos antigos, presentes em muitos namoros e casamentos da atualidade. Neste post, abordo o “Love Bombing,” as ciladas que este fenômeno acarreta à saúde dos relacionamentos amorosos e sinais de alerta às possíveis vítimas dessa questão.

Para iniciarmos, é fundamental alinharmos o entendimento acerca do que é o “Love Bombing.” Também conhecido como bombardeio de amor, esse padrão comportamental pode ser definido como atos deliberadamente exagerados para demonstrar importância e amor. Ele ocorre especialmente no início de um relacionamento, e seu intuito é manipular o parceiro ou a parceira. Em outras palavras, trata-se de uma atitude na qual alguém busca encantar a outra parte, fazendo com que ela se sinta especial, amada e desejada de forma intensa. Este comportamento pode parecer romântico e genuíno, mas, muitas vezes, esconde a intenção de manipular para obter controle e satisfazer interesses.

Pode não ser amor, mas sim uma cilada

Todos sabem que no início de um relacionamento é comum que as pessoas tenham comportamentos estereotipados e exageradamente românticos. Isso porque é comum que os apaixonados invistam tudo para demonstrar afeto e conquistar o crush. Nesse sentido, não há nada de errado em agir dessa maneira ou se deixar levar por demonstrações profundas, intensas ou caricatas de afeto e romantismo. Tais comportamentos começam a ser problemáticos quando o amor é expressado de forma calculada para manipular o outro, como ocorre com o “love bombing.” Em outras palavras, trata-se de uma atitude na qual alguém busca encantar a outra parte, fazendo com que ela se sinta especial, amada e desejada intensamente. Por isso, o Love Bombing é algo sutil e frequentemente prejudicial. Ou seja, aquilo que parece o suprassumo da paixão pode ser uma tentativa de controle e outros males que podem prejudicar a outra parte e, consequentemente, o próprio relacionamento.

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Saber filtrar as demonstrações exageradas de amor pode fazer com que homens e mulheres não caiam nas ciladas do love bombing.

Por que o Love Bombing pode ser uma cilada?

Qualquer pessoa gosta de se sentir especial. Por isso, de modo geral, quem apresenta o perfil “love bombing” busca encantar o parceiro, fazendo com que ele se sinta diferenciada. Na prática, o manipulador procura fazer com que a outra parte sinta-se amada, desejada e superior a tudo que já tenha vivido antes. Nesse intuito, frases como “não consigo deixar de pensar em você,” “só quero te fazer feliz” ou “quero estar com você o tempo todo” podem soar inofensivas. Porém, às vezes, podem indicar um sintoma de que alguns limites saudáveis estão sendo ultrapassados. Ou pior, tudo isso pode estar sendo usado para manipular a outra parte.

Todavia, é importante destacar que nem todo comportamento “love bombing” é propositalmente manipulador ou camufla um transtorno de personalidade. Em muitos casos, as demonstrações exageradas de amor são os meios que uma pessoa consegue para disfarçar suas inseguranças pessoais e suas fragilidades emocionais. Do mesmo modo, podem ser demonstrações genuínas ou simplesmente refletir toda a paixão inerente aos momentos iniciais de qualquer relacionamento. Contudo, é fundamental considerar que tudo isso pode ser parte de uma estratégia de manipulação. Do mesmo modo, tais atitudes podem indicar um ciclo de abuso psicológico que só será descortinado em outros estágios do namoro ou casamento.

Como identificar as ciladas dos comportamentos abusivos?

Existem diversas formas de identificar comportamentos abusivos em um relacionamento amoroso. Porém, identificar esses pontos se torna muito mais difícil quando a manipulação vem através de demonstrações exageradas de afeto, típicas do “Love Bombing,” da vulnerabilidade emocional, características das pessoas apaixonadas e, claro, dos efeitos provocados pela sedução ao colocar a vítima numa condição de se perceber alguém especial.

Segundo um estudo da professora Claire Strutzenberg, da Universidade de Arkansas, o “Love Bombing” é uma estratégia usada inconscientemente. De acordo com a pesquisadora, esse é um modo de agir comum àqueles que têm traços narcisistas e de baixa autoestima. Assim, homens e mulheres que agem dessa maneira almejam a dependência e o retorno das afirmações para que compreendam que também são amados e desejados. Ou seja, exageram nas demonstrações de afeto para que a outra parte se sinta especial e retribua o vínculo afetivo e as demonstrações sentimentais. Por outro lado, as pessoas que tiveram poucos relacionamentos saudáveis em suas vidas são mais suscetíveis ao bombardeio amoroso. Isso faz com que o ciclo se feche e o processo entre aquele que bombardeia e o bombardeado seja instaurado e mantido, ainda que uma das partes se sinta, com efeito, muito sufocada.

Como saber se alguém está sendo vítima do Love Bombing?

Não existem indicadores objetivos para identificar o “Love Bombing” ou bombardeio do amor. Afinal, um mesmo comportamento pode ser inofensivo e até saudável em um relacionamento, mas problemático ou prejudicial em outro. No entanto, o primeiro sinal é observar se você se sente sufocada com o carinho e a atenção que está recebendo. Portanto, se você perceber que tudo é exagerado demais para ser genuíno, não subestime essa percepção, pois ela pode ser relevante. Além disso, há outros indícios que podem indicar que as demonstrações de afeto estão desproporcionais, como:

  • Expressar sentimentos como “eu te amo” ou sugerir compromisso prematuro, quando ainda não existem experiências que justifiquem esses passos no relacionamento, pode ser um sinal de alerta.
  • Dizer que deseja passar todo o tempo com você pode parecer romântico, mas também pode ser o primeiro passo para afastá-lo de amigos e familiares. Afinal, o isolamento é uma tática comum que abusadores usam para obter poder e controle.
  • Alguns elogios podem ser opressivos. Por exemplo, ouvir que você é a pessoa mais bonita do mundo ou que é tudo o que alguém sempre sonhou pode não ser tão romântico quanto parece. Esteja atenta a elogios exagerados que não parecem genuínos.
  • Receber muitos presentes também pode ser um sinal de alerta. receber muitos presentes pode tem a intensão criar uma dependência ou colocá-la em vulnerabilidade, especialmente se você se sente obrigada a retribuí-los de alguma forma. Fica a dica!
  • O “bombardeio” de mensagens e ligações excessivas é um comportamento comum a algumas pessoas. Contudo, deve servir de alerta se isso for feito no intuito de que o parceiro ou a parceira faça o mesmo.
  • O ciúme e a desconfiança em relação à sua fidelidade geralmente são estratégias usadas por abusadores para demonstrar seu “amor intenso” e fazê-la sentir-se culpada.
  • Cuidado às mudanças repentinas. Se o seu parceiro, de repente, passa de ser a pessoa mais amorosa do mundo para tratá-lo de maneira fria ou indiferente, é possível que ele esteja tentando manipulá-la.

Permita-se, porém com a devida cautela

No entanto, é importante ressaltar que devemos evitar ser excessivamente desconfiados, uma vez que muitas variáveis podem levar aos mesmos comportamentos. Isso ocorre porque, embora muitas pessoas possam encontrar os comportamentos mencionados em seus relacionamentos, a maioria delas experimentará essas situações sem qualquer manipulação envolvida. No entanto, quando esses padrões se tornam persistentes e causam angústia à pessoa que é alvo das demonstrações de afeto, é fundamental reconhecer tais ocorrências. Nesse caso, a pessoa deve considerar buscar ajuda para lidar com a situação. Independentemente disso, é aconselhável lembrar que um pouco de cautela nunca é excessivo e pode evitar ciladas.

Elídio Almeida

Psicólogo em Salvador, formado pela Universidade Federal da Bahia (UFBA) e especializado em Terapia de Casal e Relacionamentos (CRP). Possui também pós-graduação em Psicologia Clínica pela Universidade do Estado da Bahia (UNEB). Dedica-se à prática clínica, oferecendo acompanhamento terapêutico a casais, famílias e atendimento individual para adultos. Além disso, ministra cursos e palestras na área.

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