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Ninguém me cutuca no Facebook – Nesta semana um dos vídeos mais vistos na internet, certamente, foi o do José Rossoni, aquele rapaz que, visivelmente estimulado por várias doses etílicas, expressou suas emoções e sentimentos, queixando-se: Ninguém me CUTUCA no Facebook.

Veja o vídeo:

Segundo informações publicadas na internet, José Rossoni, 22 anos, estava chateado com o fim do namoro de 4 anos e desabafou, dizendo que ninguém se interessava por ele, nem mesmo o “cutucava” no Facebook.

Cutucar é uma das funções para chamar a atenção de alguém nesta rede social.

Gostei muito do vídeo. Não sei se pelas mesmas razões das milhares de pessoas que já o viram na internet, mas gostaria de refletir com vocês, ainda que superficialmente, sobre algumas questões presentes no vídeo: alcoolismo, expressão de sentimentos e emoções, solidão e estímulos sociais.

Ninguém me cutuca no Facebook psicólogo em salvador

Para começar, que tal uma pergunta?

Por que será que, ao beber, algumas pessoas expressam mais facilmente seus sentimentos, medos e angústias?

Comumente ouço pacientes dizerem que só se emocionam, ou entram em contato com determinados sentimentos e, até mesmo, adquirem coragem para fazer algo (chorar, por exemplo), depois de beber.

O que muitos não sabem é que isso ocorre porque quando o nível de álcool no sangue aumenta, o cérebro humano diminui a ativação da região que controla nossa autocensura. Ou seja, quanto mais álcool, menos restrições.

Menos censura significa menos controle. E menos controle significa que não daremos tanta importância às críticas, aos vexames, aos medos, às regras, às punições e, principalmente, não pensaremos nas consequências de nossos atos.

Devido a isso podemos entender porque algumas pessoas só falam ou fazem determinadas coisas sob efeito do álcool. Ou porque são tão corajosas, ou emotivas, como no caso de Rossoni.

Ninguém me cutuca no Facebook terapia de casal em salvador

Outra coisa que me desperta a atenção sobre este vídeo é a existência de um novo mal social pouco discutido: a rejeição ou solidão digital. É muito comum falarmos da solidão relacionando-a ao “mundo off-line” e quase nunca falamos do “mundo on-line”.  Com a popularização do acesso à internet, principalmente com o “bum’ das redes sociais, esses comportamentos  e os novos males necessitam ser reavaliados.

Talvez seja interessante pensar nas redes sociais como sendo um espelho da vida real. O Facebook, por exemplo, reflete nossos padrões cotidianos. Há pessoas que se interessam por aspectos mais profissionais da rede, outras por atrativos mais lúdicos, há as que são mais populares e outras mais solitárias e menos procuradas, como é o caso do jovem Rossoni.

Ninguém me cutuca no Facebook psicólogo terapia de casal em salvador elidio almeida

Nesse sentido, podemos afirmar que as redes sociais representam padrões comportamentais do espaço “real” de socialização. O que antes acontecia nas praças e nos shoppings, mudou-se para as redes sociais. Da mesma forma que você tinha pessoas mais populares e impopulares, esse padrão também ocorre na dimensão digital. Embora saibamos que quantidade não deve ser utilizada para balizar a qualidade, tanto no ambiente real quanto no virtual.

Ninguém me cutuca no Facebook

O aspecto mais interessante dessa história do jovem Rossoni foram as consequências e os estímulos sociais que o vídeo lhe trouxe. Poderíamos começar a analisar desde o momento em que ele recebeu a atenção do irmão que filmou, conversou e se interessou pela história que estava sendo contada. Mas vamos nos ater a apenas dois pontos.

Você já parou para pensar a quanto tempo Rossoni estava guardando toda essa angustia? Segundo as informações do Facebook ele já estava cadastrado neste rede social há 03 meses, recebendo apenas uma cutucada, de sua melhor amiga, durante este período.

Ele conta em uma entrevista ter percebido que um dos seus amigos recebia muitas cutucadas e respondia as que lhe interessavam. Rossoni disse que, ao cutucar várias pessoas, apenas sua melhor amiga retribuiu (pois ele lhe pediu expressamente que ela fizesse isso). Daí, após visivelmente ter ingerido várias doses de alguma bebida etílica, com seu controle de censura pouco ativo, sem restrições sociais e sem  medo de ser criticado ou punido, o jovem expressou seus sentimentos e emoções.

Como conseguiu expressar o que sentia e, evidentemente, associou tal fato à ingestão de álcool, entendeu que deve beber para conseguir falar o que sente. Mas sabemos que essa não é a melhor forma e que a Psicoterapia pode auxiliar neste processo. Fica a dica!

Terapia de casal em salvador elídio almeida psicólogo

Ninguém me cutuca

Outro ponto que me chamou a atenção foram os estímulos sociais que Rossini obteve graças à veiculação do vídeo e à exposição “descontrolada” dos seus sentimentos. Antes do vídeo o rapaz possuía 93 amigos no Facebook. Após a exibição ele passou a ter 02 perfis com cerca de 5 mil “amigos” em cada um deles.

Antes havia apenas uma cutucada, implorada, da melhor amiga. Hoje ele lidera as listas e grupos daquela rede social, atingindo o limite máximo de cutucadas para um perfil. Antes, um anônimo atendente em uma loja de telefonia móvel, hoje, o vendedor mais conhecido em Porto Velho (RO) e uma celebridade instantânea da internet. Antes solitário no mundo virtual, hoje recebe cutucadas de garotas e garotos de todo o país. Hoje ele não pode mais reclamar: Ninguém me cutuca no Facebook!

Até o momento desta postagem, o vídeo já estava com mais de 1 milhão e meio de visualizações.

Será que isso não faz com que outras pessoas queiram aparecer e se tornarem populares nas redes? E será que não é este desejo que frustra tanto aqueles que não conseguem esse lugar sob os holofotes, sentindo-se, assim, rejeitados e solitários também no mundo virtual? Teremos fama para todos? Quanto tempo dura tudo isso? E a vida, como continua? Vamos refletir um pouco sobre isso?

Elídio Almeida

Psicólogo em Salvador, formado pela Universidade Federal da Bahia (UFBA) e especializado em Terapia de Casal e Relacionamentos (CRP). Possui também pós-graduação em Psicologia Clínica pela Universidade do Estado da Bahia (UNEB). Dedica-se à prática clínica, oferecendo acompanhamento terapêutico a casais, famílias e atendimento individual para adultos. Além disso, ministra cursos e palestras na área.

3 Comments

  • Elídio, em 1o lugar eu gostei de ver a caricatura feita por mim ilustrando seu texto. Todas as considerações são muito pertinentes p/ explicar o “fenômeno”, mas p/ mim chamou à atenção sobretudo a situação típica de uma “comédia de erros” que reverte em algo bom p/ o protagonista, no fim do episódio: a sinceridade contundente do José Rossoni e o “sujeito oculto” do irmão que conduz a filmagem sob pretexto de estar “vendo umas fotos”.
    Mas eu acho mesmo q é um dos “fenômenos de internet” mais emblemáticos q já surgiram, daí o sentido implícito na caricatura.
    Aproveito p/ convidar você e seu leitores a conhecer meu blog c/ + caricaturas de personalidades e clientes:
    http://marcelographics.wordpress.com
    Abraços!
    Marcelo de Souza

  • OIá Marcelo de Souza!
    Muito obrigado pelo comentário. Parabéns pelo trabalho e obrigado pela cessão da ilustração ao blog. Visitei seu blog e fiquei fascinado com seu acervo. Tive outra fonte para a caricatura do Rossoni, do contrário teria lincado seu blog como fonte, farei isso agora! De fato o vídeo do José Rossoni e suas lamúrias em função da falta de cutucadas do facebook me motivou a tecer aqueles comentários aqui no blog e espero que tenha provocado, ao menos, alguma reflexão nos nossos leitores. Mais uma vez obrigado e fica aqui a dica para todos que já viram a caricatura do Rossoni em meu texto, conhecer o blog do criador e todo a fantástico acervo do Marcelo de Souza:
    http://marcelographics.wordpress.com
    Forte abraço. Manteremos contato!

  • Davi Trindade disse:

    video de parceria de Marcelo Graphics e Davi Trindade
    http://www.youtube.com/watch?v=HaHEGF5Vv_0
    ninguem me cutuca – caricatura animada

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