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Minha mãe gosta muito de plantas e tem uma coleção com espécies belíssimas. Sem dúvidas, isso fez com que eu sempre estivesse rodeado por elas. Desde minha infância até os dias atuais, seja em minha casa ou no trabalho, as plantas estão por todos os lados. Confesso que não tenho o mesmo zelo e o manejo que dona Mariá tem com elas. Mesmo assim, é comum que todos que chegam lá em casa, ao meu consultório, notem a minha pequena floresta indoor. Inclusive, quando penso sobre minha experiência com as plantas, observo como ela reflete a maneira como algumas pessoas se questionam a respeito do desfecho de alguns relacionamentos. Afinal, nem sempre as razões que levaram ao fim da relação são igualmente compartilhadas entre as partes, gerando questionamentos e angústias a pelo menos um dos lados envolvidos nessa questão.

Sobre faltas e excessos

Evidentemente o meu gosto pelas plantas foi herdado da minha mãe. Assim, de modo similar a ela, tenho diversos exemplares espalhados por todos os meus ambientes. Isso faz com que todos que chegam às nossas casas sejam recebidos pela beleza e aconchego das nossas “florestas”. Eu, no entanto, ainda pelejo para manter algumas espécies vivas. Isto, pois, já desisti das suculentas e dos cactos. Afinal, todos que passaram por mim não resistiram. Inclusive, nunca saberei se por falta ou excesso de água.

Essa angústia pessoal é análoga ao que ouço dos meus pacientes que não compreendem as possíveis  razões que culminaram no fim dos seus relacionamentos. Em outras palavras, muitos sofrem por terem se deparado com o “adeus” de seus pares, sem que tenha ficado claro as motivações desse desfecho. Do mesmo modo, muitos homens e muitas mulheres não compreendem como suas relações chegaram ao fim. Isto, se por falta ou excesso de algo. Com isso, sofrem por não terem percebido o declínio do namoro ou do casamento, pois perderam o time para intervir no intuito de reverter a situação. Fatos assim ocorrem devido à ausência de perícia para analisar o curso do relacionamento, bem como pela falta de feedbacks após a “morte” da relação. Afinal, assim como no cultivo das plantas, nem sempre conseguimos saber se fomos deixados por que colocamos “água” demais ou de menos. 

Relacionamentos e plantas: se precisar, busque por ajuda

Conforme já abordei em diversos posts aqui no blog, muitas pessoas têm dificuldade para falar sobre seus sentimentos. Inclusive, tamanho obstáculo pode ocorrer justamente pelo fato do companheiro ou companheira ser uma pessoa muito crítica, castradora, agressiva e punitiva. Logo, diante de uma convivência com esse perfil, vários homens e mulheres sofrem, se calam, a relação definha e o término ocorre, sem que os motivos sejam percebidos ou compartilhados igualmente entre as partes. Dessa maneira, a pessoa deixada costuma vivenciar longos períodos de questionamentos, angústias e doses elevadas de ansiedade e sofrimento.

Por isso, recomendo que as pessoas tentem, à medida do possível, partilhar suas percepções no dia a dia da relação. Isso é fundamental para não perder o time da construção de um relacionamento saudável. Do mesmo modo, tal atitude pode contribuir para eliminar possibilidades de términos angustiantes, em que uma das partes fica no vácuo pela ausência de respostas. No entanto, se o casal encontrar dificuldades para dialogar sobre o convívio, aconselho fortemente que ambos reflitam sobre alguns pontos. Dentre eles, é fundamental ponderar se a ausência dessa comunicação ocorre por uma dificuldade pessoal de um dos lados ou pelo modo crítico, castrador e tóxico como o outro age e reage às tentativas de diálogo. Sem dúvidas, tais reflexões ajudarão a cuidar melhor das plantas e dos relacionamentos. Uma dica para isso é buscar ajuda de quem entende do assunto. Por sinal, é isso que me auxilia muitíssimo com as minhas plantas. 

Elídio Almeida

Psicólogo em Salvador, formado pela Universidade Federal da Bahia (UFBA) e especializado em Terapia de Casal e Relacionamentos (CRP). Possui também pós-graduação em Psicologia Clínica pela Universidade do Estado da Bahia (UNEB). Dedica-se à prática clínica, oferecendo acompanhamento terapêutico a casais, famílias e atendimento individual para adultos. Além disso, ministra cursos e palestras na área.

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