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Nos últimos anos muitas empresas, em especial as do segmento de perfumaria e cosméticos, apresentaram temáticas inclusivas em suas campanhas publicitárias para o Dia dos Namorados. Na prática, ao evidenciar os relacionamentos LGBTQIA+ e outras configurações amorosas não convencionais em suas ações de marketing, essas empresas promoveram e bancaram muitas discussões sobre os convívios amorosos distintos da heteronormatividade. Graças a essa iniciativa, diversos formatos de relacionamentos ganharam protagonismo. Em consequência disso, pessoas e casais historicamente postos à margem da sociedade, sentiram-se motivadas a assumir novos posicionamentos sociais. 

O poder das campanhas publicitárias no combate ao preconceito

Como todos sabem, sou psicólogo e me especializei em Terapia de Casal e Família. Isso me levou, naturalmente, a atender, em meu consultório, um grande quantitativo de pessoas recorrem à psicoterapia com angústias e necessidades de melhoria em sua vida amorosa, afetiva e sentimental.

Conviver diariamente com essa realidade é para mim algo muito gratificante. Por meio da minha atuação clínica, pude compreender como o dia 12 de junho era data de muita tristeza e sofrimento para diversos casais. Afinal, ao longo dos anos, vários formatos de relacionamento foram excluídos socialmente das celebrações do Dia dos Namorados. Por isso, fico muito feliz com o posicionamento público de algumas empresas que agem de modo a dar mais visibilidade e prestar o devido reconhecimento à pluralidade dos vínculos amorosos existentes na sociedade. Isto, pois, sou testemunha do impacto que ações dessa natureza têm nas pessoas, suas relações afetivas e na convivência social. No entanto, nem tudo são flores.

Desde o início desse movimento de inclusão racial, social e de gênero, surgiram demasiadas e equivocadas polêmicas. Infelizmente, muitas pessoas ainda se incomodam diante da existência e do protagonismo de gays, lésbicas, negros, gordos, cadeirantes e outros corpos. Todavia, o fato é que, em grande medida, deve-se a elas, as empresas, a visibilidade dada à gama de configurações de relacionamentos amorosos que antes eram silenciadas e excluídas das celebrações ao Dia dos Namorados.

Como resultado dessas intervenções, muitos ganhos sociais e individuais são percebidos. De modo especial, muitos daqueles que vivenciam relacionamentos amorosos não normativos passaram a ter menos sofrimento psíquico e emocional. Afinal de contas, passaram a ser representados e, com efeito, se sentiram mais integrados à sociedade. Tudo isso, evidentemente, demonstra o poder das campanhas publicitárias no combate ao preconceito.

Em sua campanha publicitária (2022) para o Dia dos Namorado, O Boticário evidência casais gays e outras configurações amorosas.
Em sua campanha publicitária para o Dia dos Namorados 2022, O Boticário evidência casais gays e outras configurações amorosas.

Muito além da polêmica

Apesar do posicionamento dessas empresas levantar polêmicas, é indiscutível que também geram frutos muito positivos à sociedade e aos indivíduos. Não por acaso, a cada ano que passa, o tema provoca menos cólera, especialmente nas redes sociais. Além dessa constatação, o Dia dos Namorados passou a ter cada vez mais diversidade e novos corpos passaram a ocupar espaços. Antes, no entanto, restaurantes e festas voltadas aos namorados eram ocupados, quase exclusivamente, por pessoas de um único perfil de relacionamento afetivo. Por isso, não restam dúvidas que o posicionamento dessas empresas contribui para integrar a pluralidade das pessoas e dos relacionamentos à sociedade. Esta postura integra e ameniza o sofrimento daqueles que foram historicamente excluídos de uma data que se propõe a celebrar o amor e a união entre os casais. Também, contribui para que todos com estas ações tenham mais autoconfiança, melhorem sua autoestima e desenvolva mais segurança emocional.

Em razão disso, todas as empresas que ultrapassam seu natural interesse de ganho financeiro, recorrendo aos seus espaços e sua influência para combater o preconceito, merecem aplausos. Afinal, são poucos os agentes sociais que, mesmo prevendo embates e polêmicas, colocam o dedo nas feridas e injustiças sociais. Nesse ensejo, feliz Dia dos Namorados a todos e viva ao amor, do jeito que for.

Elídio Almeida

Psicólogo em Salvador, formado pela Universidade Federal da Bahia (UFBA) e especializado em Terapia de Casal e Relacionamentos (CRP). Possui também pós-graduação em Psicologia Clínica pela Universidade do Estado da Bahia (UNEB). Dedica-se à prática clínica, oferecendo acompanhamento terapêutico a casais, famílias e atendimento individual para adultos. Além disso, ministra cursos e palestras na área.

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