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No post sobre microtraição e redes sociais, falei sobre como os aplicativos de paquera estão impactando nos relacionamentos de muitos casais. Veja aqui. Hoje, volto a falar sobre os aplicativos de paquera. Desta vez, mostrando como eles podem prejudicar a autoestima e aumentar o risco de depressão de seus usuários.

Atualmente, quando alguém decide conhecer uma nova pessoa a fm de iniciar um novo relacionamento, os aplicativos de paquera surgem como uma das primeiras alternativas de investimentos. Ainda que os mais tradicionais relutem em concordar, esta é uma realidade inegável dos dias atuais. Independentemente se a intenção é tentar um relacionamento sério ou apenas uma transa casual, os aplicativos de paquera estão entre as primeiras opções.

Justamente por isso, os números de adesão aos aplicativos e sites de paquera só aumentam. Neles, pessoas de várias idades, gêneros e interesses vão à caça. Da mesma forma, se tanta gente busca esse recurso para iniciar uma paquera ou conhecer novas pessoas, certamente elas estão obtendo resultados. Ou seja, caso as pessoas não estivessem obtendo resultados nos aplicativos de paquera, estes já teriam sido extintos. Apesar disso, pouco se fala sobre alguns efeitos ocasionados pelo uso dos citados aplicativos. Entre eles, a rejeição. Sim, precisamos compreender como uma rejeição repercute em nossa autoestima e quais consequências ela pode trazer.

aplicaivos de paquera terapia de casal em salvador Elidio Almeida

A rejeição no relacionamento

Quando uma pessoa é rejeitada nos aplicativos de relacionamentos, ela pode ter sua autoestima afetada. Da mesma forma, isso abre precedentes para aumentar o risco de algumas doenças mentais, a exemplo da depressão.

Tinder registra diariamente 1,6 bilhão de visualizações nos perfis de seus usuários. Posteriormente, isso leva a 1,5 milhão de encontros por semana. Ou seja, uma média de um ou dois encontros por usuário a cada semana. Segundo um estudo publicado pela Universidade Norueguesa de Ciência e Tecnologia, a cultura de conexão do Tinder não é mais a mesma; agora, as pessoas utilizam o aplicativo para conseguir relações sexuais de curta duração, o que indica uma queda na busca por relacionamentos sérios.

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Quem usa aplicativos de paquera tem autoestima baixa.

É o que indica estudo publicado no American Psychological Association. Segundo o estudo, homens e mulheres que usam aplicativos como Tinder ou sites de relacionamentos têm mais baixa autoestima do que pessoas que não participam dessas comunidades. De acordo com a autora da pesquisa, os usuários dos aplicativos de relacionamento informam menos satisfação com o próprio corpo e aparência. Outra constatação observada é que, depois de um tempo, os usuários desses aplicativos podem começar a se sentir despersonalizados e descartáveis. Isso é preocupante.

Antes de deflagrarmos uma guerra contra os aplicativos de paquera, devemos refletir sobre alguns pontos. Como já falei em outros posts aqui no blog, a vida on-line segue os mesmos padrões de comportamento da vida off-line. Entretanto, o que muda, talvez, seja a velocidade e a proporção de como as coisas acontecem. Porém, a essência e a função desses comportamentos são as mesmas.

Fazer essa ressalva nos leva a entender que a insatisfação com o corpo e com a aparência não é uma exclusividade de quem usa os aplicativos de paquera. Assim sendo, o culto que temos aos corpos perfeitos e às aparências (no sentido mais amplo da expressão) é algo visto também no mundo off-line. Ou seja, muitas pessoas também se sentem despersonalizadas e descartáveis fora dos aplicativos de paquera. Nessa questão, com toda a certeza, o que muda é a proporção com que isso acontece.

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Paquera no mundo on-line off-line.

No mundo off-line, numa festa por exemplo, você pode paquerar ou investir na conquista de apenas três ou quatro pessoas, em média. No mundo on-line, nos sites e aplicativos de paquera, no mesmo intervalo, você consegue abordar dezenas de pessoas. Obviamente, a rejeição é proporcional. Isso porque há uma repetição no mundo on-line daquilo que vivemos no mundo off-line.

Mas, por que as pessoas usam cada vez mais os aplicativos de paquera em relacionamentos? A resposta é simples. O mundo on-line faz com que as inseguranças das pessoas sejam manipuladas com mais facilidade:

  • Há aqueles que se deixam levar pela forma como o outro se apresenta.
  • Muitos tomam como verdade ângulos de imagens, descrições e aparências físicas.
  • Nem sempre existe limite para a conquista (nudes, exibicionismo, promessas…).

Tudo isso leva muitas pessoas a perder os filtros da realidade ou não pensar nas consequências dos seus atos. Ao passo que, quando as coisas fogem ao controle, os estragos são enormes. Prova disso são os recorrentes nudes e vídeos íntimos vazados na internet.

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Ademais, como sempre pode haver uma pessoa ciente de que a paquera ou o encontro dificilmente evoluirá para algo mais sério, promessas, jogos de sedução e exigências não reconhecem limites na paquera on-line. Entretanto, no mundo off-line, isso costuma ser diferente, pois a gama de informações costuma ser maior e mais precisa. Em outras palavras, você consegue ter acesso a muitas outras informações que não apenas aquilo que a outra pessoa está tentando mostrar. Prova disso é o fato das coisas evoluírem mais lentamente na intimidade dos encontros off-line. Esse é um dos fatores que faz com que as pessoas se frustrem menos no mundo on-line. Tudo costuma ser muito objetivo e direto. Inclusive os descartes e a rejeição.

A dor da rejeição afeta a autoestima e aumenta o risco de depressão

Todo mundo sabe que se sentir rejeitado não é uma sensação agradável. Isso independe se ocorre no mundo on-line ou off-line. Todavia, como a experiência on-line costuma ser maior, a proporção da dor dessa rejeição é ainda mais impactante. Isso tem dilacerado a autoestima de muita gente. Várias pessoas, mesmo sem perceber a causa, estão deprimidas e enfrentando sérios problemas não apenas do ponto de vista emocional e psicológico. 

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Na prática, funciona mais ou menos assim: a maioria das pessoas sai com alguém que conheceu num aplicativo de paquera e acha o encontro muito bom. Mas, ao tentar entrar em contato com a pessoa novamente, não há qualquer retorno. Ela sente-se rejeitada ou começa a achar que fez algo errado. Desse modo, passa a se sentir culpada pelo “fracasso do encontro“. Talvez ela não tenha percebido que aquele encontro não passaria disso.

Essa sequência pode tornar essa pessoa ainda mais vulnerável novos fracassos amorosos. Assim, na tentativa de fisgar alguém para chamar de seu, ela, pouco a pouco, vai se despersonalizando completamente para atender aos anseios dos outros. Aí se instala um cenário completamente delicado, depreciativo e depressivo.

Se essas palavras lhe são familiares de alguma forma, é hora de repensar suas atitudes. Somente com comportamentos adequados, podemos ter sucesso em nossos relacionamentos. O primeiro passo é chamar para si a responsabilidade sobre os acontecimentos que te envolvem. Culpabilizar os aplicativos de paquera não resolve nossos problemas. Sites e aplicativos são ferramentas que, se usadas com sabedoria, podem agregar. No entanto, se ainda não desenvolvemos a habilidade de investir num relacionamento no mundo off-line, o estrago se repetirá no mundo on-line. Desse modo, os prejuízos na autoestima e o aumento do risco de depressão serão sempre proporcionais à experiência que temos. Pense nisso!

Elídio Almeida

Psicólogo em Salvador, formado pela Universidade Federal da Bahia (UFBA) e especializado em Terapia de Casal e Relacionamentos (CRP). Possui também pós-graduação em Psicologia Clínica pela Universidade do Estado da Bahia (UNEB). Dedica-se à prática clínica, oferecendo acompanhamento terapêutico a casais, famílias e atendimento individual para adultos. Além disso, ministra cursos e palestras na área.

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