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A separação de Sandy e Lucas Lima, após 24 anos de relacionamento, chamou a atenção da mídia e das redes sociais. O caso levantou um debate sobre a possibilidade de manter a amizade após o fim de um relacionamento amoroso. Tamanha repercussão deve-se, em paralelo, à maneira pela qual o ex-casal anunciou o término, manifestando intensão em manter uma relação de amizade mesmo com o fim relacionamento amoroso.

Será que todo fim de relacionamento precisa ser trágico?

A ideia de manter uma amizade com o ex é ainda atípica na sociedade, razão pela qual essa possibilidade geralmente causa muita estranheza e incredulidade. Por isso, é comum que as pessoas acreditam que, após o término de um relacionamento amoroso, é necessário romper completamente os laços com o ex. Isso se deve, em parte, ao fato de que a separação geralmente decorre de episódios de mágoa e decepções, como a descoberta de uma traição.

Na TV, Sandy e seu ex-marido afirmaram que um casal que tem filhos nunca se separa. Segundo tal perspectiva, os filhos representam um elo eterno entre aqueles que um dia estiveram juntos, mesmo que para isso a convivência precise ser ressignificada. Essa postura é, sem dúvidas, muito apropriada. Contudo, transformar essas palavras em ações práticas é um desafio significativo para os ex-casais.

Amizade após o fim do relacionamento: um desafio possível
Na tv, Sandy e seu ex-marido afirmaram que um casal que tem filhos nunca se separa, pois os filhos representam um elo eterno entre aqueles que um dia estiveram juntos, mesmo que para isso a convivência precise ser ressignificada.

Todo fim de relacionamento deve ser trágico?

A decisão de manter uma amizade após o término de um relacionamento amoroso ainda parece ilógica para a maioria das pessoas. O mesmo ocorre com os términos consensuais. Em razão disso, o caso de Sandy e Lucas Lima, além de ser um capítulo espetacular na vida de famosos, provocou uma grande repercussão. Assim, a repercussão do caso demonstra que a maioria das pessoas ainda não concebe a ideia de amizade entre ex. Consequentemente, diante do fim de um namoro ou casamento, muitas pessoas sentem a necessidade de encontrar motivos que justifiquem a inimizade. Seja na própria vida ou nos casos de terceiros. Nesse intuito, frequentemente, a primeira hipótese levantada costuma ser a temida ocorrência de uma traição.

Pessoas com esse perfil tendem a buscar razões que impossibilitem a amizade, ao invés de conceber a naturalização de um término consensual com a manutenção de uma relação amistosa. O próprio desfecho da relação de Sandy serve de exemplo para isso. Embora os motivos para o término sejam de foro íntimo, muitas pessoas relutam em acreditar em um desfecho natural. Sendo assim, é comum que as pessoas se apeguem a esse raciocínio raso e impulsivo no intuito de justificar o término de qualquer relacionamento amoroso. Segundo tal lógica, apenas um traição poderia levar ao fim de uma relação amorosa. Ou, pior, usam essa narrativa para colocar o outro no posto de inimigo.

Por que as pessoas duvidam da amizade com ex?

Uma explicação para essa dúvida reside no pensamento binário comum entre muitas pessoas, que tendem a dividir o mundo em categorias de amigos e inimigos. Quando um relacionamento amoroso chega ao fim ele frequentemente é analisado de modo inadequado e simplista. Assim, é natural que uma parte seja classificada como inimiga, levando a uma generalização injusta. Afinal, uma pessoa que já foi uma parte significativa de nossas vidas como um grande amor não deve, automaticamente, ser transformada em nosso maior adversário.

Mesmo diante dos desafios, existem dois tipos de amizade após a separação e vários desafios. Embora não seja um desfecho frequente, há dois tipos de amizades possíveis após a separação de um casal. O primeiro ocorre quando o casal já tinha uma relação de amizade paralela ao convívio amoroso. Assim, o fim do relacionamento amoroso geralmente não impede a continuação dessa ligação; pelo contrário, o casal opta por mantê-la, pois a amizade sempre foi uma característica fundamental no relacionamento. O segundo tipo de amizade ocorre quando ambos reconhecem a dificuldade de continuarem como um casal, mas optam pela cordialidade e pela co-responsabilidade. Esse modelo é especialmente praticado em função da assistência aos filhos ou por rotinas familiares e profissionais.

Separacao Sandy psicologo em Salvador Terapia de casal
Muitos ex casais querem continuar amigos. No entanto, transformar essas palavras em ações práticas é um desafio significativo para os ex-casais. Por essa razão, é pouco conhecido, ao passo que provoca incredulidade e estranheza para a maioria das pessoas em nossa sociedade.

A transição do ressentimento à amizade

Há situações que impossibilitam a manutenção de uma relação amistosa após o término. No entanto, para algumas pessoas, casos de traição e desonestidade seriam mais que suficientes para se afastar e cortar relações com o outro. Por outro lado, a manutenção da amizade entre casais que se separam pode encontrar uma maneira viável de existir. Talvez por isso a cantora Sandy salientou na tv sobre o propósito de amizade com o ex-marido. Afinal, os filhos são elos eternos entre os pais, o que requer, no mínimo, uma convivência respeitosa, mesmo que não seja uma amizade plena.

No entanto, a ideia de ser amigo do ex é desafiadora para muitas pessoas, mesmo quando há filhos envolvidos. Para manter a amizade, o casal precisa ter cultivado essa amizade antes, durante o relacionamento que chegou ao fim. Além disso, um dos grandes empecilhos reside nos casos em que o novo parceiro ou parceira não compreende e não aceita o apego ou convívio com o ex-amor. Pessoas desse grupo entendem que a convivência com o/a ex representa um ponto de insegurança. Isso faz com que muitas pessoas se sentam ameaçadas ao ponto de empreender esforços para dificultar a possibilidade de amizade entre ex-parceiros. De qualquer modo, é fundamental ter em vista que a construção de uma amizade e da confiança profunda não acontece da noite para o dia. Logo, a qualidade da comunicação desenvolvida pelo casal é, sem dúvidas, um divisor de aguas nessa questão.

A importância da comunicação antes, durante e depois da relação

Como já abordei em outros textos, a comunicação é um dos pilares de qualquer relacionamento, independentemente da sua configuração ou estágio. Portanto, embora ainda seja raro, acredito que seja possível, com o suporte adequado, ressignificar os traumas de uma separação. Dependendo das razões que levaram ao término, a construção ou manutenção da amizade após o fim do relacionamento é viável e pode representar bem estar a todos os envolvidos.

Por isso, a habilidade em comunicação, a expressão adequada dos sentimentos e emoções, bem como a habilidade para estabelecer combinados, desempenham um papeis fundamentais nos processos inerentes aos namoro ou casamento. Em razão disso, durante o acompanhamento que faço aos casais que atendo, desenvolver a habilidade de conversar e dialogar adequadamente é uma das principais estratégias adotadas na terapia de casal. Para aqueles que duvidam dessa possibilidade, recomendo o pensamento de Nietzsche: “Só se case com quem você gosta de conversar. Você vai precisar disso quando tudo mais passar”.

Elídio Almeida

Psicólogo em Salvador, formado pela Universidade Federal da Bahia (UFBA) e especializado em Terapia de Casal e Relacionamentos (CRP). Possui também pós-graduação em Psicologia Clínica pela Universidade do Estado da Bahia (UNEB). Dedica-se à prática clínica, oferecendo acompanhamento terapêutico a casais, famílias e atendimento individual para adultos. Além disso, ministra cursos e palestras na área.

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