Sexualidade – A um tempo atrás fui procurado por um rapaz que havia descoberto meu blog e resolveu marcar uma consulta comigo. Na primeira sessão ele disse que gostaria de se conhecer melhor e superar algumas questões relacionadas à timidez e a sua vida profissional.
Cauteloso e muito esperto, ele procurou me analisar o tempo todo (gosto muito quando isso acontece nas primeiras sessões, pois entendo que é importante o paciente sentir-se seguro e ter confiança no terapeuta para falar sobre seus problemas).
Ainda tímido, em um dado momento ele comentou que se sentia atraído por pessoas do mesmo sexo e que não estava lidando bem com isso. Queria ajuda, pois já havia tentado encontrar explicações religiosas, científicas, culturais e todas as informações ainda não haviam lhe trazido paz.
Lembro-me como se fosse hoje: seus olhos com tímidas lágrimas, seu corpo todo encolhido numa poltrona e o desconforto de quem fala sobre sua sexualidade pela primeira vez. Ele disse que tinha feito vários planejamentos sobre o que falar naquela primeira sessão e em nenhum deles cogitou a possibilidade de falar sobre sua orientação sexual. Todavia, disse que, de algum modo, sentiu-se seguro para expressar sua angústia e sofrimento.
Ali criava-se um vínculo terapêutico que resultaria um dos mais satisfatórios casos que já passou pelo meu consultório.
Após um ano e meio de terapia, no qual todas as semanas nos encontrávamos para as sessões, tivemos avanços fantásticos e ele pode conhecer mais a si mesmo e desenvolver várias habilidades que certamente contribuíram para seu bem-estar.
Em uma dessas sessões ele chegou ao consultório com um embrulho muito bonito e dali tirou a obra artesanal que ilustra este post, dizendo que era um presente de agradecimento por tudo que ele pôde desenvolver na terapia.
No objeto, repleto de significados, figura um garoto que quebrou cadeados e correntes, saiu do armário e mostra com orgulho sua orientação sexual. Também havia a expressão de gratidão “armários são para roupas…“, além do laptop aberto na minha fanpage no Facebook. Ele havia pensado em cada detalhe!
De fato fiquei muito feliz com o presente que hoje ocupa um lugar muito especial em minha estante, juntamente com outros “troféus”. Sim, para mim, enquanto profissional, é um troféu repleto de muita simbologia e que traz consigo uma história de superação da qual tenho muito orgulho de ter em meu portfólio.
Publicizar esse caso, cumpre não somente a função de compartilhar com meus leitores e seguidores mais um episódio de sucesso em minha carreira profissional, mas também de convidar a todos para uma reflexão acerca de como muitas pessoas ainda vivem na escuridão e no mofo dos armários da vida. São armários familiares, religiosos, culturais, profissionais… que tornam a vida de muitas pessoas artificiais, tristes e repletas de sofrimento.
Penso que precisamos quebrar correntes, cadeados e regras que só limitam a vida das pessoas e trazem sofrimento. Independente se a questão versa sobre a sexualidade, traumas, medos, fobias ou outros comportamentos. Com a devida compreensão e a superação, as pessoas serão mais felizes, adquirirão confiança e viverão melhor ao se conhecerem mais profundamente.
É muito gratificante saber que a Psicoterapia tem ajudado pessoas como este jovem a viver melhor.
A ele e a todos os demais, que por qualquer motivo visitaram o blog e depositaram confiança em meu trabalho, meus sinceros agradecimentos.
Ao rapaz, meus votos de pleno sucesso. Fico feliz pela sua felicidade.