O convívio entre pais e filhos mudou significativamente nos últimos anos e, em muitos casos, é possível identificar um fenômeno popularmente conhecido por “geração canguru”. Pessoas desse grupo caracterizam-se por prolongar a convivência na casa dos pais. Especificamente, trata-se do caso de jovens adultos que continuam morando com os pais, mesmo tendo condições para viver sozinhos. Por isso a alusão ao canguru: animal símbolo da Austrália em que os filhos se agarram à bolsa protetora da mãe. Embora cada situação deva ser analisada em sua particularidade, é importante compreender os casos de dependência e insegurança emocional. Além disso, é importante elucidar os fatores que contribuem para que uma pessoa se torne um representante da Geração Canguru.
Sair de casa para ter liberdade e autonomia
Em vários momentos da vida pais e filhos se questionam sobre até quando devem viver sob o mesmo teto. Inclusive, esse costuma ser um ponto de conflito entre alguns membros da família. Para se ter ideia, antigamente, os meninos – e principalmente as meninas – só deixavam a casa dos pais quando se casavam. Embora controverso, os padrões familiares da época impunham tal condição. A partir dos anos 60, morar sozinho tornou-se um sonho de consumo dos adolescentes, pois era uma das maneiras de ter liberdade e viver as próprias aventuras. Hoje, contudo, devido a influências da modernidade, esse modelo é menos frequente. Isso é confirmado por algumas pesquisas que indicam que mais da metade dos jovens brasileiros não deseja sair da casa dos pais. Afinal, em tempos de liberdade total, não faz mais sentido para os membros da Geração Canguru ter que se mudar para experimentar a autonomia.
Seja como for, é fato que a chegada da fase adulta oferece a possibilidade de experimentar a independência e emancipação. Em muitos casos isso pode se dá pela sensação de ter a própria casa, sobretudo imprimir nela a identidade e hábitos, casando ou morando sozinho. Dito em outras palavras, um espaço pessoal e relativa distância dos pais pode favorecer a construção de independência e maturidade emocional. Porém, nem sempre os jovens e os pais veem tal possibilidade desta maneira. Por exemplo, muitos jovens consideram cômodo viver com os pais e retardam a saída de casa no intuito de poupar mais dinheiro antes de alçar seus próprios voos. Outros contudo, sentem-se inseguros para tal ato.
Em paralelo, muitos pais demandam que os filhos estejam por perto, pois se sentem mais protegidos ou em condições de controlá-los. Ou seja, em todos os casos há questões emocionais que impactam e configuram a geração canguru e elas precisam ser compreendidas e trabalhadas.
Geração Canguru e dependência emocional
Os meios para uma pessoa seja um representante da Geração Canguru são diversos. Em todos eles há ações e interesses que contribuem para o prolongamento da coabitação entre pais e filhos. Nesses casos, é possível verificar que ao menos uma das partes envolvidas costuma estar satisfeita com a situação. Por exemplo, a mãe que é superprotetora se sente bem em ter o filho sempre sob sua guarda. Do mesmo modo, o filho, que, para poupar uma grana ou por se sentir inseguro, prefere morar mais tempo na casa dos pais. Assim, o ponto central desse modo de relação reside no fato haver ou não bem-estar. Ou seja, quando esse modelo de convivência é explícito, acordado e bem administrado entre as partes, geralmente não há problema. Todavia, quando ocorre o oposto a situação costuma ser inadequada e gera sofrimento a uma das partes ou a todos envolvidos nesse modo de relação.
Muito além da comodidade
Desse modo, é fundamental analisar a questão de casa pessoa tida como membro da Geração Canguru, sobretudo considerando a relação familiar. Por meio dessa análise será possível compreender e encontrar melhores formas de agir diante de fenômenos tão delicados que impactam a todos. Por exemplo, é frequente os jovens tidos como membros da geração canguru, desenvolverem transtornos emocionais e comportamentais como a síndrome do Peter Pan. Tal síndrome caracteriza-se pelo medo de crescer, pois aqueles acometidos por esse quadro não se sentem preparados para encarar a vida adulta. Em todo caso há prejuízos não só no desenvolvimento pessoal como também no profissional. Por isso, vale ressaltar sobre a importância de considerar as consequências de cada escolha. Somente assim pais e filhos terão vidas mais adequadas e produtivas.
Sou uma jovem de 27 anos e comecei a trabalhar aos 16 anos. Já trabalhei numa sapataria, em lojas, numa parafarmácia e em call centers. Em todos estes trabalhos fui bem sucedida, visto ser, e citando colegas e chefes ‘uma pessoa inteligente, trabalhadora e atenciosa’. Claro que falta dizer que nunca deixei de estudar por isso, todos estes trabalhos foram em part-time e trabalhos de férias para ajudar a pagar os estudos: Licenciei-me com boa nota e concluí um Mestrado com melhor média ainda. E posso dizer que deu bastante trabalho. Acabado o mestrado consegui trabalho durante quase um ano como bolseira de investigação científica. Trabalho duro, para quem não sabe, pois além de exigir muito mentalmente, também é fisicamente exigente, tendo mesmo tido vários dias de trabalho de 13 horas, alguns fins de semana e ainda levava trabalho para casa (trabalho este sempre feito com vontade, sem nenhum queixume). Terminados os primeiros meses deste contracto foi renovado por mais 4 meses. Terminado este período deixou de haver dinheiro para renovar contracto e fiquei desempregada. (cont.)
Sempre vivi em casa da minha mãe (que é mãe solteira e não é rica), e nos ultimos meses fui ajudando com uma parte do meu ordenado (bolsa). Agora estou desempregada e não posso ajudá-la, em vez disso sou eu quem precisa de ajuda. Nunca tive direito a qualquer subsídio, nem de desemprego, pois como bolseira não tenho direito a nada disso. Nos anteriores trabalhos nunca tive acesso a um contracto superior a 6 meses, pelo que apesar de já ter descontado para a segurança social, nunca tive direito a subsídio de desemprego. (cont.)
Procuro activamente trabalho, vou fazendo pequenos trabalhos mal pagos para me manter (dobrar circulares, etc). Tentei arranjar trabalho em lojas (não é um sonho, mas até as coisas se ‘endireitarem’) mas não consegui porque, apesar de ter alguma experiência, tenho ‘demasiadas qualificações’ e sou olhada com alguma reserva pelas gerentes e funcionárias. Nem para trabalhar nas limpezas me querem, mesmo sabendo eu limpar e passar a ferro (coisas que sempre fiz em casa desde os meus 13 anos). (cont.) Entretanto fiz alguns pequenos cursos de formação profissional para adquirir novas competências. Fazer outra licenciatura está fora de questão porque não há dinheiro e, com esta idade eu preciso é de trabalhar para poder construir a minha vida! Não tenho carro (é uma despesa fixa que não posso pagar). Não posso casar. Não posso pedir um empréstimo. Até tenho ideias de negócio mas não me concedem empréstimo: não tenho bens nem fiador. Não posso ainda ser mãe. (cont.)
Além de tudo isto e a contribuír para a minha revolta, sempre que vou a qualquer repartição pública vejo: pessoas (efectivas) que não trabalham bem, nem se esforçam por melhorar, atendem mal as pessoas e têm limitações a vários níveis. Não falam línguas, não percebem quase nada de informática, não se actualizam e, muitas vezes, nem percebem muito do que estão a fazer. Ora, posto isto… não quero ouvir comentários do género: ‘eles que se façam mas é à vida’… que ‘só por serem licenciados querem grandes empregos’, que ‘estes jovens não trabalham e só querem viver à custa dos pais’! Por mais que existam alguns jovens assim são, de facto, uma pequena minoria e tal argumento não deveria servir para ANIQUILAR UMA GERAÇÃO INTEIRA! (cont.) Falam de pessoas que se fizeram uma licenciatura, se esforçaram de alguma maneira para ter uma vida condigna …uma VIDA À QUAL TÊM DIREITO… pessoas que se têm esforçado até então e nunca tiveram direito a nada! Não estamos a falar de pessoas que nunca quiseram fazer nada na vida, nem que se encostam a subsídios de insersão social ou de desemprego, que nunca se quiseram esforçar porque ‘estão bem como estão’. (cont.) Toda a minha vida me esforcei (e vi a minha família esforçar-se), toda a minha vida trabalhei para poder vir a ter algo mais que ‘uma vida em casa da mãe’… em todos os trabalhos que fiz, fi-los o melhor possível, mesmo não gostando do que estava a fazer. Sou supostamente inteligente (com um QI de 151, querendo isto dizer o que quer que seja…) mas pelos vistos não sou é ESPERTA! Porque apesar de todo o esforço, nunca tive direito a nada! E ainda penso em ir trabalhar para fora. Mas até para isso tenho que primeiro arranjar um trabalho qualquer por cá para poupar algum dinheiro, para não ir sem nada – porque NADA é o que eu tenho! (cont.)
Que país é este onde além de não haver um único governante confiável … ainda tenho de ver e ouvir comentários estúpidos de pessoas que vêm a realidade de uma forma deturpada, ora através de lindos óculos cor de rosa: ‘jovens façam mas é outra licenciatura, e outra, e mais outra…pode ser que acertem’; ora de alguém que certamente ocupa um cargo quentinho qualquer: ‘não tenho nenhuma formação em particular, terminei o meu 10º ano, arranjei um taxo e aqui fiquei…nem tive de me preocupar … e daqui vocês não me podem tirar…não é que eu seja muito bom profissional mas… tenho os meus direitos laborais de EFECTIVO’… enfim… Em suma, que país (e que gente) de merd*! … e não peço desculpa pela ‘indelicadeza’! Eu tenho direito a construír uma vida, tenho direito a ter um emprego condigno que me permita fazer planos a um prazo mais longo do que os 3 meses de um contracto num call center qualquer… tenho direito a poder ter a minha casa … tenho direito a poder ser mãe… tenho direito a poder VIVER! E são estes os direitos FUNDAMENTAIS que estão a negar a uma geração inteira! Já não posso mais. É TEMPO DE AGIR!
Olá Ana!
Obrigado pelo comentário. Embora você relate sua trajetória e fale de suas angustias não ficou claro para mim a proposta do seu texto. Se desejar poderemos conversar sobre o tema.
Olá Ana!
Obrigado pelo comentário. Embora você relate sua trajetória e fale de suas angustias não ficou claro para mim a proposta do seu texto. Se desejar poderemos conversar sobre o tema.
Oi, Elídio, eu sou psicóloga como vc e achei a sua análise do tema muito interessante e pertinente.Parabéns!
Abraços
Guenia
CRP 05/3644
Olá Guenia!
Obrigado pela visita e pelo comentário!
Abraços também.