Skip to main content

Quase 80% dos brasileiros ouve música todos os dias (fonte). Associado a isso, estima-se que 71% das gravações dos últimos 50 anos falam sobre amor (fonte). Assim, não por acaso, estilos musicais populares como o sertanejo, brega, arrocha e todas as demais sofrências, fazem o maior sucesso no país. A grande questão é que os relacionamentos retratados na maior parte dessas canções, referem-se à vida a dois como sinônimo de sofrimento. Desse modo, muitas pessoas têm sua vida sentimental construída a partir da falsa lógica que impera nas paradas do sucesso musical. Ou seja, amar é sofrer.

Por que gostamos tanto de música? 

Num dos posts do meu blog procurei discorrer sobre essa questão. Em resumo, a música é um dos meios pelos quais as pessoas conseguem expressar seus sentimentos e emoções com mais facilidade. Contudo, conforme visto acima, as canções também cumprem o papel de formar conceitos. Isto é, devido à ênfase musical dada aos episódios de traição, ciúmes, insucesso amoroso e, obviamente na dor de cotovelo, é ponto pacífico que a música incute nos brasileiros a cultura de que amar é sofrer. Do mesmo modo, as letras e melodias fomentam e generalizam a ideia leviana de que o relacionamento amoroso é sinônimo de sofrimento. Contudo, a música não está sozinha nesse campo.

Será que amar é sofrer? Muitas pessoas vivem infelizes em seus relacionamentos. Elas precisam compreender que amor não deve ser sinônimo de renúncia e sofrimento.
Será que amar é sofrer? Muitas pessoas vivem infelizes em seus relacionamentos. Elas precisam compreender que amor não deve ser sinônimo de renúncia e sofrimento.

Amor é uma construção social

Compreender que o amor é uma construção sociocultural, remete a muitos conceitos que permeiam a trajetória da humanidade. Isto é, devido aos ensinamentos propagados ao longo da vida, parece natural para muitas pessoas que sofrer é uma condição para se viver um amor. Por exemplo, não rara são as associações que pregam regras como: “para amar você precisa merecer. E para merecer você tem que comer o pão que o diabo amassou“. Nesse sentido, figuram histórias como Romeu e Julieta, Cinderela, assim como as histórias de amor retratadas nas novelas e séries contemporâneas. Isto é, todas elas mostram que amor é sofrer. Justamente por isso que essas personagens atravessam verdadeiros calvários até que possam, enfim, amar.

É uma loucura acreditar que amar é sofrer

Igualar o amor ao sofrimento é uma atitude danosa. Embora haja casos legítimos de amores e relacionamentos tóxicos, é fundamental que as pessoas aprendam a discernir e separar o joio do trigo. Por isso, todos devem questionar o conceito de amor sofrível amplamente fomentado e sedimentado por meio das musicas e pelo corpo social. Afinal, muitas canções, histórias e regras culturais propões narrativas que generalizam eventos e realidades particulares. Ainda assim, cada vez mais pessoas se identificam e engrossam o coro que prega ideais equivocados como: 

  • “todo homem trai”
  • ciúme é prova de amor
  • “toda mulher tem que ser submissa ao marido”
  • e, claro, “amar é sofrer”.

Tais posturas e pensamentos criam pessoas infelizes, controladoras, maníaco-depressivas e, evidentemente, relacionamentos tóxicos. Por isso, é crucial combater essa cultura. Afinal, como disse recentemente no meu Instagram: “Relacionamento é para ser equilibrado. Se for para passar raiva, é melhor dobrar lençol de elástico“. Para finalizar, proponho que você pense sobre seus últimos relacionamentos. Neles o amor estava associado a algum tipo de sofrimento? Se a resposta for sim, espero que você se proponha viver uma próxima experiência de forma leve, tranquila e sem dor. Isso sim é amar. Afinal, como diz Ângela Rô Rô, na canção ”Simples Carinho”, é melhor duvidar desse tipo de amor.

Elídio Almeida

Psicólogo em Salvador, formado pela Universidade Federal da Bahia (UFBA) e especializado em Terapia de Casal e Relacionamentos (CRP). Possui também pós-graduação em Psicologia Clínica pela Universidade do Estado da Bahia (UNEB). Dedica-se à prática clínica, oferecendo acompanhamento terapêutico a casais, famílias e atendimento individual para adultos. Além disso, ministra cursos e palestras na área.

Deixe uma resposta