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Nesse quinto post da série sobre os aplicativos espiões, vou abordar na questão o ciúme e da insegurança. Para iniciar tal questão, ressalto que a desconfiança é uma inquietação que acomete a maioria dos relacionamentos e, claro, deve ser tratada na origem. Nesse sentido, como já debati noutras publicações, é um equívoco acreditar que o causador dos problemas nos relacionamentos é o ciúme. Na verdade, primeiro vem a insegurança, seja ela motivada por elementos reais ou fantasiosos. Em outras palavras, o ciúme é apenas uma consequência de um contexto no qual a confiança deixou de imperar no relacionamento. Assim sendo, quando alguém investe num aplicativo espião para comprovar se o parceiro ou parceira é fiel, apenas evidencia a instabilidade presente na relação. Isto independente das provas que possam ser encontradas. Desse modo, mesmo que a traição não seja comprovada, raramente a pessoa volta a confiar no seu par. Afinal, a confiança não é automaticamente restaurada por ausência de evidências de traição.

Mudança de comportamento na relação

Frequentemente, os primeiros sinais de alerta que indicam instabilidade na relação são as mudanças de comportamento. Ou seja, “de repente” seu namorado ou namorada adota algumas condutas que antes não eram apresentadas. Nesse mesmo sentido, surgem atitudes suspeitas ou que, de alguma forma, demonstram que um comportamento incorreto e comprometedor pode estar acontecendo. Por exemplo:

  • sempre evitar atender o celular na presença do marido ou da esposa.
  • deixar aparelho desligado durante longos períodos do dia.
  • incongruência em episódios da rotina, como ser visto num local distinto quando havia dito que estava no trabalho.
  • atividades e interações suspeitas nas redes sociais.
  • sempre que está com o companheiro ou a companheira, desliga o celular.
  • possuir um chip secreto, dentre outras atitudes.

Desse modo, é razoável que a outra parte sinta-se insegura, de modo a procurar entender a razão de tamanhas alterações comportamentais. Ocorre que, a partir desse ponto, muitas pessoas tentam eliminar os sintomas, em detrimento de ir em busca da causa em sua raiz. Ou seja, adotam uma séria de atos investigativos ou inibidores dos comportamentos estranhos. Por exemplo, é comum que proíbam o par de estabelecer contato com determinadas pessoas vistas como ameaças à segurança da relação.

As restrições

Em alguns casos, essa restrições podem evoluir para algumas variáveis como:

  • compartilhamento de todas as senhas de celular, e-mail e redes sociais.
  • determinar que o outro cancele todas as redes sociais. 

Nesse hiato, há também aqueles casais que se expõem ao ridículo de criar um perfil conjunto nas redes sociais. Tudo isso para tentar driblar a incerteza na relação ou afastar medo da traição. No entanto, indiscutivelmente, a primeira opção para tentar blindar o casamento ou afastar o fantasma da infidelidade, é aderir à cultura do aplicativo espião. Contudo, seja qual for a escolha, todos esses artifícios são improdutivos, pois não lidam com a raiz do problema fundamental da relação: a insegurança.

Instalar um aplicativo espião no celular evidencia sérios problemas de confiança no namoro ou casamento. Há meios mais eficazes de salvar o relacionamento. Por exemplo, a Terapia de Casal.
Instalar um aplicativo espião no celular evidencia sérios problemas de confiança no namoro ou casamento. Há meios mais eficazes de salvar o relacionamento. Por exemplo, a Terapia de Casal.

O aplicativo espião e a crença de blindar o casamento

Ainda que muitos casais adotem certas práticas no intuito de “blindar o casamento”, é crucial que percebam que alguns esforços intervêm apenas nos sintomas. Ou seja, determinar que o namorado ou namorada compartilhe senhas ou o perfil das redes sociais jamais impedirá que algum ato de infidelidade ocorra. Tampouco, tais investidas estabelecerão  a confiança entre o casal. Na verdade, essas ações apenas contribuem para que outras proibições sejam impostas, ultrapassando o limite do aceitável para o sucesso do relacionamento. Algumas atitudes similares a estas, até incentivam a traição. Por exemplo, existem aqueles que se valem do famoso “levar a fama sem tirar proveito” e acabam traindo, ainda que usando como justificativa a acusação ou suspeita prévia.

No entanto, diante desse contexto as pessoas inseguras miram logo o celular, pois notam que seus pares passam muito tempo com o aparelho. Assim, diante dessa observação “assustadora”, elas partem logo para violar a privacidade do companheiro ou da companheira. Daí vem a crença que ali pode conter alguma informação relevante sobre a mudança do comportamento ou as atitudes suspeitas. Assim, conforme dito anteriormente, não têm dúvidas sobre instalar um aplicativo espião.

Do método rudimentar ao mais moderno

Não faz muito tempo que, para acessar o celular do esposo ou da esposa, algumas pessoas faziam verdadeiros malabarismos. Isto é, copiavam ou memorizavam a senha, esperava por um momento de distração e furtavam o celular. Hoje, com o advento dos aplicativos espiões, em tese, as coisas tornaram-se menos complexas. Basta apenas fazer essas manobras uma vez, instalar um aplicativo espião e acompanhar tudo, tudinho do seu aparelho pessoal. Por isso que as pessoas que convivem com a insegurança na relação amorosa, veem nesses apps um forte aliado para saber o que o parceiro tanto faz no celular. Por essa razão, os métodos rudimentares para tentar monitorar e controlar a vida do parceiro deram lugar ao método mais moderno: um aplicativo espião. O curioso que é até mesmo esse recurso não contribui para que a segurança na relação seja (re)estabelecida. Geralmente ocorre o oposto.

Independentemente do meio escolhido para evitar a insegurança na relação, é fundamental que a questão seja sanada na sua origem. Justamente por isso que os métodos rudimentares e modernos são falhos, pois atuam apenas no sintoma da questão. Ainda assim, o aplicativo espião atrai muitas pessoas que convivem com a insegurança em relacionamentos amorosos. Afinal, com os recursos oferecidos pelo aplicativo espião, elas acreditam que estão no controle da situação, simplesmente pelo fato de poder acompanhar em tempo real tudo que o outro faz. Todavia, o app não evita que a traição ocorra, muito menos traz segurança à relação.

Aplicativo espião: Quando não existe confiança

Dentre aqueles que utilizam os aplicativos de espionagem, há um grupo que acredita que jamais encontrariam algum demérito do companheiro ou companheira. Frequentemente se frustram. Para esse nicho de pessoas, a opção pelo aplicativo espião visa comprovar a fidelidade da outra pessoa. Com isso, buscam provar para si mesmas que as inseguranças não passaram de paranoias. Todavia, quando a suspeita é confirmada, o mundo vem abaixo.

Quando uma relação passa por tamanha situação, isso revela que o casal pulou etapas essenciais na construção do relacionamento. Dito de outro modo, avançaram sem se conhecer devidamente. Não por acaso, existe tanta insegurança e vínculos frágeis. Assim, todos aqueles que precisam recorrer a esses artifícios de espionagem evidenciam que não existe confiança na relação. Isso por si só já deve ser um ponto de reflexão.

No próximo post,  vou detalhar um pouco mais sobre a estrutura desses aplicativos de espionagem. Não deixe de ler esse e os demais textos da série sobre os aplicativos espiões. Veja aqui os posts anteriores:

  1. Aplicativo espião no celular: tudo que você precisa saber
  2. Espião no celular e a confiança pela metade
  3. Aplicativo de espionagem e a desconfiança fundamental
  1. Aplicativo espião no celular: tudo que você precisa saber
  2. Espião no celular e a confiança pela metade
  3. Aplicativo de espionagem e a desconfiança fundamental
  4. O app espião e a compulsão desenfreada
  5. Aplicativo espião: primeiro vem a insegurança na relação
  6. Sinais que seu celular estar sendo espionado
  7. Aplicativo de espionagem no celular: você pode estar sendo vigiado e não sabe
  8. Espião no celular e as vítimas-algozes
  9. Aplicativo espião e os pontos cegos
Elídio Almeida

Psicólogo em Salvador, formado pela Universidade Federal da Bahia (UFBA) e especializado em Terapia de Casal e Relacionamentos (CRP). Possui também pós-graduação em Psicologia Clínica pela Universidade do Estado da Bahia (UNEB). Dedica-se à prática clínica, oferecendo acompanhamento terapêutico a casais, famílias e atendimento individual para adultos. Além disso, ministra cursos e palestras na área.

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