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No post anterior ressaltei que o celular está no alicerce da crise conjugal de muitos casais (veja aqui). Afinal, é por meio do celular que surgem muitos casos de ciúmes, bem como muitas traições são descobertas. Todavia, neste momento, os smartphones assumem novamente o protagonismo, porém por uma razão inusitada: a moda do aplicativo espião. Isto é, diante de uma suspeita de traição ou na tentativa de se certificar da fidelidade do outro, muitas pessoas optam por instalar um aplicativo de espionagem no celular do seu par. Ou seja, uma tática para monitorar à distância todas as atividades do companheiro ou companheira.

Tal prática, demonstra que o casal já enfrenta problemas sérios no relacionamento e precisa de ajuda. Mesmo assim, ao invés de buscar uma terapia de casal, muitos veem no aplicativo espião uma forma de “realmente conhecer o parceiro“. Diante de tal decisão equivocada, perdem tempo e ainda pioram a situação do relacionamento. Afinal, sejam quais forem os achados do aplicativo espião, a confiança não será restaurada.

Sua vida é um livro aberto?

Já pensou se seu celular transmitisse tudo que você faz no dia a dia para seu companheiro ou companheira? Ainda que você não tenha nada a temer ou considere que sua vida seja um livro aberto, sugiro que faça essa assustadora reflexão. Seja como for, saiba que um aplicativo espião instalado no seu celular pode tornar público cada detalhe do seu cotidiano. Ademais, se isso lhe parece aterrorizante, compreenda que esta é uma realidade oferecida por muitos aplicativos de espionagem. Justamente por isso, esse recurso ilegal tem atraído milhares de pessoas inseguras que desejam monitorar cada passo do parceiro ou parceira.

Por isso, inegavelmente, a pessoa que recorre ou é vítima deste tipo de artifício não está vivendo num relacionamento saudável. Ou seja, individualmente ou de maneira conjunta, esse casal precisa de ajuda. Nesse sentido, o auxílio de um psicólogo, por meio da psicoterapia, pode fazer toda a diferença na implementação de ações adequadas a este fim.

Ter certeza que o outro é fiel

Mesmo não desejando para si tamanha violação de privacidade, bem como ao ter total ciência que tal prática é criminosa, homens e mulheres investem alto nesse modelo de espionagem. Dito de outro modo,  clandestinamente, instalam um aplicativo espião no celular alheio, de modo a vigiar – na surdina e à distância – cada passo do outro. 

O curioso é que muitas pessoas se valem do argumento de “apenas ter certeza que a outra parte é fiel”. Ou seja, tentam justificar esse ato indefensável, sob o argumento de construir confiança. Contudo, mesmo que confirmem suas hipóteses de traição e optem por continuar a relação, restará sempre a certeza que realmente não se conhecia adequadamente a outra parte. Ao passo que algumas pessoas, inclusive, não saberiam como lidar com eventuais descobertas colhidas pelo aplicativo espião. Isso é, por mais que duvidem da conduta do outro, geralmente esperam estar enganadas. Assim, uma vez que seja evidenciada qualquer conduta que deponha contra o relacionamento, parte significativa desse grupo não saberia como conduzir a questão posta. 

Assim a opção do aplicativo espião é sempre equivocada e pode piorar ainda mais a vida do casal. Afinal de contas, numa relação você confia ou não. Ou seja, não existe meio termo para a confiança. Aliás, nunca é demais lembrar que celular é um artefato pessoal e intransferível, questão que também abordei no ebook 25 mentiras sobre os relacionamentos (veja aqui).

Instalar um aplicativo espião no celular evidencia sérios problemas de confiança no namoro ou casamento. Há meios mais eficazes de salvar o relacionamento. Por exemplo, a Terapia de Casal.
Instalar um aplicativo espião no celular evidencia sérios problemas de confiança no namoro ou casamento. Há meios mais eficazes de salvar o relacionamento. Por exemplo, a Terapia de Casal.

Aplicativo de espionagem: um bode expiatório no relacionamento

Mesmo que o pretexto para instalar um aplicativo espião seja validar a existência da fidelidade no relacionamento, os danos dessa prática podem ser irreversíveis. Em outras palavras, aqueles que precisam espionar o celular do namorado ou marido para ter certeza se pode confiar, já não confia. Por conseguinte significa que a necessidade de invadir o celular da namorada ou esposa na surdina, assim como instalar um aplicativo espião são atos que por si só já evidenciam que não existe confiança nessa relação.

Em síntese, toda pessoa envolvida num relacionamento sabe que construir e manter uma relação de sucesso é um enorme desafio. Isso torna-se ainda mais complexo à medida que sinais de ciúmes, desconfianças, inseguranças e indícios de traições vem à tona. Assim, para salvar um relacionamento é imprescindível ter condutas adequadas. Por isso, depositar expectativas num aplicativo espião para sanar as questões de inseguranças e traições no relacionamento amoroso jamais será a melhor opção. 

Nesse sentido, nunca é demais lembrar que confiança é sempre um inteiro, não existe meio termo. Ainda assim, aqueles que precisam recorrer a qualquer artifício para testar ou construir segurança na relação, deve ter em vista que o casal necessita de ajuda profissional, não de um bode expiatório. De maneira similar, é fundamental saber como lidar com os passos seguintes no caso de eventuais descobertas desagradáveis. 

Aplicativo espião e origem da insegurança

No próximo post, vou falar um pouco mais sobre a origem da insegurança nos relacionamentos. Não perca! Veja também os demais textos desta série sobre aplicativos espiões.

  1. Aplicativo espião no celular: tudo que você precisa saber
  2. Espião no celular e a confiança pela metade
  3. Aplicativo de espionagem e a desconfiança fundamental
  4. O app espião e a compulsão desenfreada
  5. Aplicativo espião: primeiro vem a insegurança na relação
  6. Sinais que seu celular estar sendo espionado
  7. Aplicativo de espionagem no celular: você pode estar sendo vigiado e não sabe
  8. Espião no celular e as vítimas-algozes
  9. Aplicativo espião e os pontos cegos
Elídio Almeida

Psicólogo em Salvador, formado pela Universidade Federal da Bahia (UFBA) e especializado em Terapia de Casal e Relacionamentos (CRP). Possui também pós-graduação em Psicologia Clínica pela Universidade do Estado da Bahia (UNEB). Dedica-se à prática clínica, oferecendo acompanhamento terapêutico a casais, famílias e atendimento individual para adultos. Além disso, ministra cursos e palestras na área.

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