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Por que gostamos tanto de Música? Dentre tantas possibilidades, entre elas o fato das músicas geralmente serem pareadas* com eventos marcantes da nossa vida. Mas por que isso acontece?

* Parear é uma nomenclatura técnica da psicologia comportamental – pareamento de estímulos – comumente usada para referir-se ao condicionamento de algum comportamento ocorrido na presença de dois ou mais estímulos. Na prática, funciona mais ou menos assim: a maioria das crianças adoram brinquedos, mas nem todas gostam de alimentar-se. Daí uma lanchonete esperta tem a idéia de vender um sanduíche que vem acompanhado de um brinquedo super legal, logo as crianças passam a adorar o sanduíche daquela lanchonete. Mas sanduíche não é o melhor alimento para criança, concorda? Daí essa mesma lanchonete passa a dizer que seu sanduíche é saudável, rico em tudo que uma criança precisa para se desenvolver. Pronto, dessa forma o sanduíche está também associado a saúde, convence os pais e todos ficam satisfeitos. Percebe como um único elemento foi pareado (associado) com outros elementos? A força disso é tamanha que as crianças podem passar a dizer que adoram o sanduíche (quando antes elas adoravam apenas os brinquedos) e os pais seguem a mesma linha.

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Não paro de ouvir música isso é um problema psicológico?

Bem, voltando à questão da música. Essa identidade com as músicas tem, além do fato delas estarem pareadas com acontecimentos importantes da vida (por exemplo, a música que estava tocando no momento do seu primeiro beijo), elas conseguem transformar em palavras muitos dos nossos sentimentos. Sentimentos que nem sempre conseguimos traduzir ou expressar com facilidade. É aquela enorme sensação que a música fala por você.
É como se aquela letra ou canção conseguisse traduzir exatamente aquilo que você sente, como se fosse sua história ali retratada ou ainda como se fosse você mesmo dizendo ou agindo daquela forma. Ou seja, você se projeta na música e vive aquela fantasia.
Por isso – também – gostamos tanto e cada vez mais das músicas. Pois essa sensação de saber que alguém traduziu seu pensamento ou que você conseguiu encontra as palavras que representam fidedignamente seus pensamentos é muito confortante e lhe traz uma sensação muito agradável. Porém, devemos ter um pouco de cuidado com isso.
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ALEXITIMIA: A DIFICULDADE PARA EXPRESSAR EMOÇÕES E SENTIMENTOS.
A priori, essa identificação com as músicas pode não ter nada demais, mas em alguns casos essa fixação por músicas pode esconder uma deficiência do repertório de habilidades sociais e pessoais, que pode vir a se tornar algo grave. Inclusive com o desenvolvimento de um transtorno psicológico e mental, como é o caso da depressão e das síndromes da ansiedade. Isso pode ocorrer quando a pessoa avalia-se incapaz de falar o que pensa ou expressar-se para outras pessoas, como medo de falar em público, por exemplo.
O principal indicativo para isso é você perceber que, aos poucos, está deixando de falar ou expressar seus sentimentos e emoções de forma direta. É quando você expressa-se menos través de suas próprias palavras de maneira espontânea; ficando assim condicionado a expressar seus sentimentos apenas através da fala ou palavras de terceiros.
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Um exemplo disso são aquelas pessoas que não conseguem declarar seu sentimento e seu amor por alguém e – quando ela encontra uma música que fala exatamente o que ela está sentindo ou aquilo que ela gostaria de fazer ou dizer, prefere usar este recurso em detrimento de assumir o papel principal desta ação.
Vale lembrar que as músicas têm um alto potencial de catarse e deve, primordialmente, ter essa função em nossa vida. A dica principal para não ter problemas na expressão dos seus sentimentos é que você procure ser o mais espontâneo possível e pouco a pouco possa treinar e construir essa habilidade de falar aquilo que você sente sem precisar necessariamente usar uma música ou qualquer outra bengala para isso. Obviamente isso não é uma tarefa fácil, porém, costuma trazer muito mais autonomia, segurança e autoconfiança par lidar com diversos eventos que envolver expressão de sentimentos e emoções em nossa vida. Experimente.

Elídio Almeida

Psicólogo em Salvador, formado pela Universidade Federal da Bahia (UFBA) e especializado em Terapia de Casal e Relacionamentos (CRP). Possui também pós-graduação em Psicologia Clínica pela Universidade do Estado da Bahia (UNEB). Dedica-se à prática clínica, oferecendo acompanhamento terapêutico a casais, famílias e atendimento individual para adultos. Além disso, ministra cursos e palestras na área.

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