Estudo realizado pela fundação Oswaldo Cruz, UFMG e Unicamp, revela aumento do consumo de bebidas alcoólicas durante a pandemia do novo Coronavírus. Segundo a pesquisa, 18% dos entrevistados relataram ter aumentado a ingestão de álcool nesse período. A justificativa para essa ocorrência seria a frequência com que os entrevistados se sentem tristes ou deprimidos. Embora essa constatação não seja recebida com surpresa, é necessário entender alguns aspectos em torno dela. Primeiro, é fato que algumas pessoas recorrem à bebida para lidar com as tensões emocionais, solidão e aflição. Em segundo lugar, é indispensável pensar nas consequências destas e das demais escolhas humanas para lidar com as questões psicológicas.
Bebidas alcoólicas e os dias iguais
Não é novidade que uma parcela significativa dos brasileiros mantém íntima relação com as bebidas alcoólicas. Em situações pré-pandemia, o consumo de álcool estava presente em festividades, comemorações e até mesmo no dia a dia de muitas pessoas. Para algumas, tomar uma cerveja no happy hour, serve para delimitar o fim do expediente semanal e a chegada do final de semana. Hoje, contudo, os dias estão sendo muito iguais. Dessa forma, levar o álcool para dentro de casa durante a quarentena pode ser uma forma de representar tais passagens. Mas, obviamente, não é apenas isso.
Tradicionalmente, alguns grupos fazem ingestão de bebidas alcoólicas rotineiramente. Esse hábito, além de lazer, costuma ser o principal recurso para lidar com os momentos de sofrimento e tensão emocional. Seja na “sofrência”, por uma dor de cotovelo, ou diante de situações angustiantes e de solidão, é comum a associação desses episódios com a ingestão de álcool. Em outras palavras, diante de tudo que a pandemia em curso representa, é esperado que parte do corpo social potencialize essa costume. Afinal, esta é uma época de exceção e para eles, beber é uma forma de lidar ou a amenizar os sofrimentos.
Duas faces da mesma moeda
Ainda que algumas pessoas encontrem alívio para seus sofrimentos e dissabores na embriaguez, é importante pensar nas torpes consequências deste ato. Em muitos casos, essa é a porta de entrada para quadros de alcoolismo, dependências químicas e evolução para outras drogas. Mais delicado ainda, há a possibilidade do usuário internalizar que essa é a única maneira de lidar com as dores emocionais e psicológicas. Seja como for, essas são rotas de fugas ou paliativos que não representam o tratamento adequados às questões.
Diante disso, é crucial compreender que todas as adversidades da vida devem ser tratadas com a devida responsabilidade. Recorrer a meios atenuantes, como o álcool, representa uma pseudoestratégia para mascarar a realidade. De maneira similar, esse método pode abrir precedentes para problemas ainda maiores, como a dependência química. Por isso, é fundamental pensar de forma mais ampla, pesar os desdobramentos dessa atitude e adotar comportamentos mais adequados. Isso inclui, especialmente, esse momento de exceção da pandemia em curso. Afinal, quando isso passar, certos problemas não precisarão ser enfrentados.