Na Grécia antiga, diante da necessidade de explicar a origem da vida e os problemas da existência, surgiu a mitologia. Isto é, narrativas fantasiosas que se propunham a justificar e normalizar costumes ou interesses. De lá para cá o hábito de criar mitos sempre esteve a serviço de um propósito. Em razão disso, a mentira tornou-se comum, de modo que esse hábito deu origem a um transtorno psicológico chamado mitomania. Por isso, é importante diferenciar o mero ato de mentir da patologia associada a esse comportamento distópico.
Qual é a função da mentira?
A questão da mentira já foi abordada num post anteriormente publicado aqui no blog. Nele foi dito que as pessoas mentem pelo fato do contexto favorecer que tais narrativas sejam construídas. No entanto, o principal fator que contribui para que homens e mulheres mintam com tanta frequência são os “benefícios” que esse comportamento gera aos contextos em que é utilizado. Isto é, ao mentir, é comum que as pessoas colecionem algumas “vantagens” tais como fugir ou se esquivar de determinados problemas. Outros, contudo, obtêm, por meio da mentira, posições de destaque social, a exemplo do respeito, poder e admiração por parte dos outros. Por isso, é seguro dizer que a mentira, desde que o mundo é mundo, está a serviço de um propósito. Ou seja, ela é funcional, pois seu emprego visa atingir algum objetivo. Todavia, quando a mentira torna-se um hábito indiscriminado configura um transtorno psicológico chamado mitomania.
Nem tudo é normal na mentira
Histórias como as da mitologia grega, Pinóquio e João Grilo, do Auto da Compadecida, além da danosa prática de espalhar fake news, mostram como o ato de mentir tornou-se comum. Assim, o hábito e desejo compulsivo pelo descolamento da realidade configuram a mentira patológica ou mitomania. A principal característica desse transtorno é a tendência compulsiva pela fantasia e a criação de realidades paralelas. Desse modo, o mitômano é aquela pessoa que mente compulsivamente, sejam pequenas mentiras “inofensivas” até histórias mirabolantes e surpreendentemente detalhadas. Embora todo esse investimento esteja pautado numa suposta vantagem, é importante saber que tal prática é bastante danosa ao bem-estar pessoal, às relações e ao convívio social. Por isso, é necessário diferenciar a mentira pontual do quadro crítico desse comportamento.
O tratamento para a mitomania
Conforme dito anteriormente, a mentira faz parte da rotina da humanidade de tal modo que não é possível conceber um mundo fidedignamente realista e sem fantasia. Em outras palavras, todos mentem para driblar alguns problemas ou se livrar de algumas punições. Embora a mentira tenha essa função social e seja usada em determinados contextos pessoais, sabe-se que algumas pessoas não conseguem sair do modo fantasioso. Isto é, passam a maior parte da vida em uma realidade paralela, inclusive envolvendo e prejudicando outras pessoas. Por isso, o primeiro impacto no contexto de uma pessoa acometida pela mitomania é a quebra de confiança nas relações interpessoais, que ficam comprometidas ou são destruídas com o passar do tempo.
Além disso, com a reincidência das histórias fantasiosas, a pessoa se isola numa realidade que não existe, afastando-se do convívio social e das relações. Com base nessa constatação, é seguro afirmar que as pessoas que mentem para além da curva normal precisam de tratamento para se livrar da mitomania. Afinal, viver numa realidade paralela de maneira full time é um sintoma que evidencia transtornos mentais delicados Assim, no contexto atual, esse padrão comportamental deve ser tratado com a expertise dos conhecimentos contemporâneos, não com outros mitos e mitologias.
Sou de Salvador, estou em busca de um especialista que possa tratar a mentira compulsivo de uma pessoa da minha família que precisa de ajuda. Não sei a quem recorrer, por onde começar, não temos condições de arcar com custos financeiros altos, mas põe uma vida que estar sendo destruída pela mentira, estamos nos esforçando. Pode nos ajudar? Não temos muito mas o pouco que temos estamos dispostos a investir em um tratamento eficiente.