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Avaliação Psicológica. Esta semana saiu resultado da avaliação psicológica do Ministério Público da Bahia. Muitos candidatos ficaram indignados após verificar que não constavam na lista dos “recomendados”. O resultado foi divulgado na última terça-feira, dia 31/03/2015.
Obviamente, depois de ter obtido excelentes resultados nas fases anteriores do concurso, a maioria dos candidatos ficou perplexa e indignada. Tudo isso porque descobriram que foram desclassificados do processo seletivo com o rótulo de “não-recomendados”. Obviamente cabe recurso a este resultado. Por isso os candidatos não contemplados devem ficar atentos a alguns procedimentos nesta etapa.
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Como psicólogo, afirmo e afianço que os testes psicológicos podem sim apresentar os resultados a que se propõem. Entretanto, para que isso ocorra, uma série de condutas devem ser asseguradas para que a avaliação produza resultados confiáveis e de qualidade. Uma dessas condutas – se não a fundamental – em meu entendimento, é a ampla observação dos comportamentos apresentados pelo candidato. Isso significa dizer que uma boa avaliação psicológica deve verificar em diversos momentos e contextos distintos os dados investigados. Obviamente tais achados devem ser comparados e/ou respaldados nos instrumentos psicométricos. Não obstante deve demonstrar dados projetivos das habilidades cognitivas, comportamentais e da personalidade do candidato.
Mesmo confiando nesses instrumentos, entendo que a forma como convencionalmente a avaliação psicológica vem sendo empregada não colhem dados confiáveis. Da forma como vem sendo usado apenas produzem informações pontuais e descontextualizadas. Isso desfavorece o candidato e desqualifica publicamente todo um trabalho científico por trás desses instrumentos psicológicos.
No caso do concurso aqui abordado, verifiquei o edital e os pressupostos dos procedimentos que foram adotados na avaliação psicológica. Embora respaldados pelas normas e resoluções do CPF – Conselho Federal de Psicologia – causou-me estranheza algumas simplificações do processos avaliativo como. Por exemplo, a existência de apenas duas categorizações para os candidatos que foram submetidos a avaliação psicológica: “recomendados” e “não-recomendados”. Desse modo, quem teve a classificação “recomendado” avançaria no processos seletivo e os “não-recomendados” seriam desclassificados.
Normalmente, processos mais antenados, nesse item, por exemplo, ampliaria a categoria “não recomendados” para: “inaptos” ou “inaptos temporariamente”; como ocorre nas avaliações psicológicas do DETRAN, por exemplo. Isso oferece aos candidatos inaptos temporariamente a possibilidade de uma nova avaliação. No caso do MP/BA, pelo que compreendi, os candidatos poderão apenas solicitar devolutiva e entrar com recurso contra a avaliação.
Aos candidatos que tiveram a surpresa do “não recomendado” e vão solicitar a entrevista devolutiva tenho uma dica. Seria importante que vocês tivessem em mãos no momentos da devolutiva um outro laudo de avaliação psicológica recente, para verificar se a “não recomendação” apontada pela banca examinadora do concurso trata-se de uma percepção e interpretação pontual. Um laudo comparativo pode favorecer ou refutar a conclusão da banca examinadora. Por isso, creio que vale a pena procurar um profissional qualificado, com conhecimentos e experiência na área. Se for possível, seria importante realizar uma avaliação, caso não a tenha feito nos últimos meses.
Outra dica. Como a avaliação psicológica tem uma linguagem muitas vezes restrita aos profissionais da área, cabe verificar se seria possível o acompanhamento de um psicólogo. Isso pode facilitar comunicação e entendimentos do feedback da devolutiva.
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Por fim, não devemos perder de vista – avaliadores e avaliados – que “um teste psicológico se propõe a descrever ou mensurar as características e processos psicológicos envolvendo a emoção/afeto, cognição/inteligência, motivação, personalidade, atenção, memória etc.”, conforme reza a resolução 002/2003 do CFP.Assim, em última análise, o teste psicológico busca obter uma amostra comportamental objetiva e padronizada da pessoa avaliada. Característica que por si só já dá indícios de que tal avaliação – principalmente para seleção de um servidor público – não deve ser feita à toque de caixa; ressaltando que num processo como esse, torna-se praticamente impossível a padronização da avaliação e que isto influi diretamente no resultado do candidato.
Por exemplo, podemos imaginar que uma avaliação dessas é distribuída para dezenas ou centenas de pessoas em diversas salas, embora todas realizem os mesmos testes e recebam as mesmas instruções, podemos supor também que algumas variáveis podem agir distintamente sobre os candidatos que, obviamente, possuem personalidades, reações e subjetividades também distintas. Não é a toa que há um movimento para que os instrumentos psicológicos sejam usados exclusivamente para fins psicoterapêuticos em detrimento da função eliminatória em concursos públicos e processos seletivos em geral.

Elídio Almeida

Psicólogo em Salvador, formado pela Universidade Federal da Bahia (UFBA) e especializado em Terapia de Casal e Relacionamentos (CRP). Possui também pós-graduação em Psicologia Clínica pela Universidade do Estado da Bahia (UNEB). Dedica-se à prática clínica, oferecendo acompanhamento terapêutico a casais, famílias e atendimento individual para adultos. Além disso, ministra cursos e palestras na área.

2 Comments

  • Maria Santos disse:

    Sou psicóloga, e observei outros absurdos relacionados a esta avaliação psicológica,em específico.Um dos maiores, é a não realização da entrevista,qualquer psicólogo que tenha estudado o minimo sobre o assunto,deveria saber que não existe avaliação psicológica sem a entrevista.Outro,é a não leitura das instruções dos testes através dos respectivos manuais,como você mesmo citou no artigo,por se tratar de instrumentos científicos,qualquer variável pode interferir no resultado,inclusive uma palavra empregada erroneamente.A leitura seria mais interessante ainda,pois a maioria desses profissionais não possuem domínio suficiente sob os instrumentos.Fico aliviada em saber que existem outros profissionais ,como você, “de olho” nessas avaliações realizadas em concursos públicos.Porém, fico triste em ver que muitos outros contribuem para que a avaliação psicológica seja mais mal vista ainda do que é.

  • Olá Maria!
    Obrigado pelas suas palavras, foram muito reconfortantes! Realmente esse concurso pecou muito na avaliação psicológica de seus candidatos e lamentavelmente não é um caso isolado. Penso que além dos prejuízos causados a profissão do psicólogo, há um prejuízo igualmente danoso aos candidatos que são submetidos a estas avaliações truculentas, ineficientes e ineficazes. Abraços e mantenha contato!

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