Personalidade Antissocial – Ouço com bastante frequência as pessoas falarem que fulana ou beltrano é antissocial. Sempre que posso, procuro saber o porquê do rótulo e no geral ouço coisas do tipo:
- “ele não gosta de sair”
- “não se enturma com ninguém”
- “só vive grudado nesse computador”
- “quando a gente sai, ele não desgruda desse celular e não dá atenção às pessoas”
Será que isso é suficiente para dizer que alguém com Personalidade Antissocial?
Tecnicamente, classificamos uma pessoa com personalidade antissocial quando ela age em prol do desprezo ou transgressão das normas da sociedade, frequentemente associado a um comportamento ilegal. Sentar à mesa de um bar ou restaurante com os amigos e dar mais atenção ao celular do que às pessoas presentes parece, sim, ser uma transgressão às normas do bom convívio social. Mas também não é necessariamente ilegal ou traz prejuízos como outras transgressões que poderiam ser apontadas. Ou seja, a intenção de quem tem esse comportamento pode ter outras motivações que não prejudicar os demais.
O comportamento antissocial
Ter comportamentos antissociais em algum momento não indica necessariamente um transtorno de personalidade antissocial (também conhecido como psicopatia ou sociopatia). Os verdadeiros indivíduos antissociais frequentemente ignoram a possibilidade de estar afetando negativamente outras pessoas e não conseguem usar a empatia para evitar o sofrimento dos outros.
Acontece que no dia a dia o termo antissocial é comumente aplicado para descrever pessoas com aversão ao convívio social, como pessoas com fobia social, introvertidas, tímidas ou reservadas; que de longe não deveriam ser classificadas como sendo de “personalidade antissocial”.
Personalidade Antissocial: filhos agressivos
Clinicamente, o termo antissocial aplica-se a atitudes agressivas contrárias e prejudiciais à sociedade, não a inibições ou preferências pessoais.
A questão é que parece haver uma confusão entre a propriedade do termo e a inadequação quanto à utilização na caracterização das pessoas que recebem este rótulo. Talvez até algumas pessoas reconheçam que o isolamento ou dificuldade no convívio social possa sim ser um fator desencadeado pela timidez, falta de confiança ou receio de não ser aceito pelas pessoas e grupo, por exemplo. Mas, ainda assim, o termo antissocial acaba sendo usado, como se estivesse de fato lidando com uma pessoa má, perversa e que oferece risco à sociedade.
Quando as coisas acontecem nessa linha, a vítima pode entender que as pessoas efetivamente não gostam dela, não a compreende e de certa forma despertam nela o desejo de se afastar cada vez mais ou até mesmo de vingança. É como se ela pensasse: “já que dizem que sou ruim, serei”. E assim as convivências e relações tornam-se cada vez mais desgastada e perigosa, podendo de fato ser construída uma pessoa psicopata (antissocial).
A psicologia ajuda?
O bacana é que seja o antissocial uma pessoa tímida ou efetivamente perversa, há tratamento.
Tratamentos medicamentosos têm sido muito eficazes para tratar os comportamentos antissociais em si, mas excelentes resultados podem ser obtidos através da psicoterapia.
Na terapia analítico-comportamental, o foco do tratamento está em levar o indivíduo a discriminar as ameaças de punição a si mesmo no ambiente para comportamentos transgressores e os benefícios de seguir certas regras. No tratamento, é contemplado um treino de assertividade, ênfase nos comportamentos mais adaptativos e na construção de novos repertórios estrategicamente planejados e funcionais.