Na última semana de novembro, o psicólogo Elídio Almeida gravou entrevista para o programa TVE Esporte, da TVE Bahia. Elídio falou sobre a polêmica gerada pela curta frase que teria sito dita pelo meia Júlio Baptista na 36ª rodada do Campeonato Brasileiro, no Maracanã.
Polêmica: entenda o caso.
Durante a partida o jogador do Cruzeiro disse o que parece ser “faz logo outro” para o zagueiro adversário, exatamente no momento em que uma câmera registrava a cena. O fato que foi suficiente para gerar toda a polêmica e ganhar notoriedade em todos os veículos de notícias, pois muitas pessoas acreditaram que poderia ter havido algum combinado que pudesse manipular o resultado do jogo. Veja o vídeo abaixo:
Como você também pode ver – e o próprio jogador confirmou – a tão polêmica frase realmente foi dita, mas muita gente se precipitou na análise. Isso porque muita gente cometeu o mesmo erro que é feito diariamente em muitos contextos na vida das pessoas: a análise fracionada dos comportamentos. Ou seja, as pessoas observam um comportamento pontual e, a partir dele, tiram suas conclusões.
No caso do jogador, a própria cena em que a frase é dita transmite uma série de outras informações. Ainda assim, as pessoas se limitaram a fazer apenas a leitura labial do que foi dito. Basta observar como ele emite gestos e sinais de insegurança ao falar a frase durante o jogo. E o mesmo não se repete quando ele está sendo entrevistado pelo repórter após o jogo.
A entrevista, por sinal, apresenta condições mais adequadas para analisar o comportamento do jogador. Há o antes, o durante e o depois, criando uma cadeia de comportamento que favorece compreender as motivações para a ação e as consequências que esta ação trouxe ao contexto. Nela, podemos ver o jogador mais tranquilo, sem grandes sinais de insegurança e transmitindo seu entendimento e sua versão para o fato de forma mais favorável a entendermos que é pouco provável que ele realmente tivesse querendo entregar o jogo.
Ao bem da verdade, essa polêmica pode nos ensinar, dentre outras, duas coisas bastante interessante:
Primeiro, que devemos, antes de tirar conclusões, analisar melhor os fatos (o que aconteceu antes, quais foram as motivações que favoreceram a emissão do comportamento, por que isso se repete, quais as prováveis consequências, o que mantém esse comportamento, dentre outros aspectos). Talvez, fazendo análises mais sistêmicas poderemos obter respostas mais seguras. Segundo, essa polêmica toda nada mais é do que o reflexo da nossa sociedade atual, pois parece que nas mais variadas situações as pessoas tanto cometem erros brutais ao analisar ou tentar compreender os comportamentos alheios (maridos, namorados, amigos, familiares, colegas de trabalho…), como também são vítimas desses julgamentos de forma totalmente preconceituosa.
São coisas desse tipo que sempre discutimos na terapia comportamental: como muitas pessoas falham ao analisar comportamentos, acontecimentos e situações, sejam elas do presente, passado ou futuro. Por isso, é sempre importante irmos em busca de informações e compreensões mais consistentes e adequadas, para driblarmos as análises precipitadas e assim evitarmos problemas e limitações nos comportamentos e relações.