A resposta para essa pergunta deveria ser “sempre”. Há inúmeras justificativas para isso. Mesmo assim, muitos médicos relutam em procurar ajuda psicológica para tratar de suas questões emocionais. Esse fato tem gerado preocupação nas entidades de classe dos médicos e favorecido estudos acerca da qualidade de vida desses profissionais. Afinal, a medicina figura entre as profissões mais estressantes no mundo do trabalho. As condições para o desempenho da profissão, as cobranças pessoais e externas e os estereótipos da área têm impactado no bem-estar dos médicos. Tudo isso vem refletindo na relação desses profissionais com seus trabalhos e com sua vida familiar, social e afetiva.
Por que os médicos não gostam de procurar ajuda psicológica?
Muitos médicos relutam em procurar ajuda psicológica por vários motivos. Entre as principais razões, temos:
- Alguns sentem a obrigação de sustentar a imagem de “super-heróis” que a sociedade, os familiares e eles mesmos criam.
- Outros não têm boas referências dos trabalhos realizados por psicólogos. Muitas vezes, conhecem apenas a atuação do psicólogo hospitalar que compõe a equipe.
- Há os que entendem que procurar ajuda psicológica seria uma demonstração de fraqueza.
- Há também aqueles que negligenciam os sofrimentos emocionais, tamponando as questões mais delicadas com ações paliativas.
É fato que o dia a dia da profissão impõe aos médicos essa imagem de que não podem falhar. No entanto, devemos sempre lembrar que, por trás do jaleco e do estetoscópio, há sempre um ser humano sujeito a todas as condições humanas, inclusive o sofrimento emocional em determinadas situações. Por isso, não há nenhum demérito em buscar um profissional para tratar das questões emocionais, psicológicas e comportamentais.
Enquanto alguns médicos evitam admitir que estão doentes ou fragilizados emocionalmente, os bastidores mostram que a situação é bem delicada. Seja por vergonha ou por outros critérios pessoais ou sociais, poucas pessoas imaginam o drama que muitos médicos estão vivendo nesse momento. Muitas vezes, pode até ser o seu colega de plantão que está precisando de um suporte, mas raramente enxergamos.
O que dizem os estudos?
Durante uma década, as universidades Unifesp e UFPR, juntamente com a Uniad e o Cremesp, investigaram as questões relacionadas à saúde mental e emocional dos médicos. O estudo, ainda inédito no país, mostrou que a fragilidade da saúde psicológica dos médicos é preocupante. O resultado aponta que a causa da morte de 1,7% dos médicos paulistas entre 2000 e 2009 foi o suicídio.
Considerando que o suicídio é um comportamento extremo para lidar com um problema, temos que, em uma década, cerca de 2% dos médicos de um único estado no Brasil cometeu suicídio. Por isso, devemos nos questionar sobre como estão todos aqueles que estão inseridos nos mesmos contextos e em situações análogas Brasil afora e que não chegaram a esse extremo.
Mas por que se investiga tão pouco essa questão?
O motivo para isso é justamente a dificuldade que os médicos têm de detectar, expressar e buscar ajuda para o próprio sofrimento. Muitos protelam, e o acesso facilitado a medicamentos afasta essas pessoas de tratamentos eficazes. Não é comum para eles se colocarem na condição de pacientes. Ou seja, culturalmente, a fragilidade humana não é vista como algo intrínseco ao médico. Desse modo, as doenças e as questões emocionais e comportamentais dos médicos não são exploradas a fundo.
Por tudo isso, devemos sempre estar cientes de que aqueles que cuidam também precisam de cuidados.