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A propaganda mais recente do Boticário chamou a minha atenção e, prevejo, será mais uma fonte de polêmica viral nas redes sociais. Esta peça publicitária em questão retrata depoimentos de casais em processo de divórcio, explicitando os motivos pelos quais a “magia do relacionamento acabou”. Nesse contexto, a empresa, então, propõe uma “transformação” visual nas mulheres, visando reforçar a autoconfiança por meio da aparência, durante esse momento delicado de separação.

A aparência é essencial?

Contudo, é crucial analisar não apenas o suposto objetivo positivo de fortalecer a autoestima das mulheres. É essencial compreender como essa abordagem impacta os conceitos de relacionamentos saudáveis. Isto, pois, além de reforçar estereótipos machistas, a propaganda sugere a ideia equivocada de que a manutenção da aparência é essencial à sobrevivência dos relacionamentos. Essa visão é conservadora, injusta e irreal.

  • Aqueles que desistem do amor unicamente por conta das mudanças naturais que ocorrem, ou que atribuem grande valor a esse único critério em seus parceiros, muitas vezes se esquecem de que estão igualmente sujeitos às leis universais das transformações e ao julgamento alheio. Nesse ciclo, podem se tornar tanto vítimas quanto algozes, perdendo a oportunidade de enxergar além das aparências e valorizar as diversas dimensões do relacionamento.
  • Indivíduos que se esforçam incessantemente para manter uma imagem “linda” ou “belo” frequentemente acabam demonstrando uma preocupação excessiva com uma fachada superficial. Ao focar exclusivamente na manutenção dessa imagem, podem negligenciar aspectos fundamentais de sua personalidade e caráter. Isso sugere uma fragilidade, pois essa imagem artificialmente construída é passageira e demanda uma constante renovação, muitas vezes em detrimento de um desenvolvimento mais profundo e autêntico.


polêmica psicólogo em salvador elidio almeida
Pessoas que pensam que devem sempre estar “lindas” para manter seus relacionamentos se iludem em ambos os lados da relação:

As consequências de construir um relacionamento focado na estética

Em meu trabalho como terapeuta de casais, testemunho as consequências desse tipo de pressão na vida das pessoas. Na prática, construir um namoro ou casamento focados na aparência estética é uma estratégia problemática. Pessoas que configuram relacionamentos a partir dessa lógica precisam compreender que a verdadeira “magia” de qualquer relação está em enxergar e aceitar as pessoas como elas são. Ou seja, independentemente das mudanças naturais que ocorrem ao longo do tempo. Afinal, a obsessão por uma imagem superficial e temporária acaba por prejudicar não apenas os relacionamentos, mas também a saúde emocional dos envolvidos.

Relacionamento de aparência

Por isso, quero convidar você a refletir sobre o peso dado à aparência nos relacionamentos. Pois, é grande o contigente de pessoas que baseiam seu afeto primordialmente pela estética. Enquanto outros valorizam exclusivamente a aparência física como critério para construir e manter um relacionamento amoroso. Assim, homens e mulheres que têm essa postura correm o risco de se tornarem vítimas do mesmo julgamento superficial que impõem aos outros. Além disso, quem se esforça incessantemente para manter uma imagem perfeita muitas vezes negligencia o desenvolvimento de aspectos fundamentais de sua personalidade, como o vínculo afetivo.

De qualquer modo, a mensagem transmitida pela Boticário pode até ser ser bem-sucedida na divulgação de seus produtos. Contudo, abre brechas para reforçar a equivocada ideia de que a aparência está acima dos desafios inerentes ao relacionamento. Ou seja, pode, em consequência contribuir para distorce os meios pelos quais se constrói e se manem um relacionamento saudável e realista. Assim, convido você a assistir ao vídeo e refletir comigo sobre como a valorização excessiva da aparência pode impactar negativamente os relacionamentos amorosos.

Elídio Almeida

Psicólogo em Salvador, formado pela Universidade Federal da Bahia (UFBA) e especializado em Terapia de Casal e Relacionamentos (CRP). Possui também pós-graduação em Psicologia Clínica pela Universidade do Estado da Bahia (UNEB). Dedica-se à prática clínica, oferecendo acompanhamento terapêutico a casais, famílias e atendimento individual para adultos. Além disso, ministra cursos e palestras na área.

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