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[polldaddy poll=”7814478″] Pois bem. Na bíblia, Romanos 7:2, está escrito que “a mulher casada está ligada a seu marido enquanto ele viver”, razão pela qual o casamento é visto, por muitas pessoas como algo indissolúvel. Essa, por exemplo, é a opinião do pastor Claudio Duarte, que ganhou as redes sociais esta semana, após a popularização de um vídeo de suas pregações. Veja.

Parece engraçado, mas na verdade o pastor fez um tremendo desserviço não só para o marido que decidiu aconselhar-se com o religioso. Talvez por reconhecer nele uma figura de liderança, como também ser para os demais casais que vivem sob as regras coercitivas impostas pela religião. E ainda para com os que aprendem nessas instituições religiosas que tais regras são certas, inquestionáveis e que devem ser temidas para evitar as punições.
Observe os aplausos no plano de fundo do vídeo. Eles não só sinalizam que a regra deve ser aceita, como também cumprem o papel de difundi-la, respalda-la e perpetuá-la. Com tamanha coerção, até entendemos o medo e os esforços que muitas pessoas investem para serem aceitas nesses grupos.
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Regras são prejudiciais ao casamento

Todos nós vivemos numa sociedade controlada por regras. Dizer que nossos comportamentos são controlados por regras é dizer que existe uma tendência das pessoas seguirem instruções sociais, culturais, legais e umas das outras, no intuito – claro – de obter ganhos e também evitar punições. Por exemplo, quando estamos perto de um radar e a placa informa que a velocidade máxima permitida é de 80km/h, a regra deixa claro que se passarmos numa velocidade superior seremos punidos. No entanto, se dirigirmos dentro do limite, evitaremos as consequências negativas.
Esse mesmo princípio tem sido usado, desde os primórdios da humanidade pelas religiões e instituições de poder, para angariar seguidores fiéis e ter controle sobre as pessoas. Ou seja, sob a ameaça de punição severa, conseguir que as pessoas façam exatamente o que a elas for imposto, sem qualquer questionamento e sem liberdade de escolha. Uma pena!
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Sabemos que quando um casal – ou uma das suas partes – cogita a possibilidade ou decide pela separação, é porque as coisas não estão muito bem no relacionamento. E é claro que isso é perfeitamente possível. Assim como qualquer outra relação, a convivência pode nos trazer experiências e percepções que podem nos levar a mudar de opinião e repensar a sua continuidade.
Mesmo já tendo tido várias tentativas de superação ou ajustes das diferenças, inclusive relevando alguns atritos, buscando ajuda profissional ou até mesmo recorrendo a ajuda dos seus líderes religiosos, como parece ter sido o caso da piada relatada no vídeo acima, muitos casais chegam ao ponto em que enxergam apenas a separação como solução para os problemas. O que nem sempre é verdade.

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Agora, imagine uma pessoa que, por qualquer razão, decide terminar a relação e de repente se vê obrigada ou coagida por uma regra (no caso do vídeo uma regra da religião) a permanecer nesse casamento? Já imaginou se diante de todas a dificuldades ela resolver seguir a regra? Será que o casal será feliz? A regra fará um milagre na vida do casal e tudo ficará perfeito, como nos contos de fada? Creio que não. Penso que, por mais fé que o envolvidos possam ter, a relação em si ficaria fadada ao fracasso, desentendimentos, falta de desejo e harmonia conjugal.
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Agora pense em você fazendo algo do como beijar sua esposa, seu marido, seu namorado ou sua namorada. Será que você beijaria da mesma forma, se ao invés de um beijo espontâneo, você fosse obrigado a beijar determinada pessoa numa total imposição? Creio que não. Penso que beijar contra própria vontade deve ser horrível. Agora imagine beijar, fazer sexo, dormir e acordar todos os dias ao lado de alguém justamente por se sentir obrigado? Entendo que foi exatamente isso que o pastor fez no caso do vídeo.
Quando ordena que sua ovelha seja morta, que tenha um AVC (acidente vascular cerebral), uma parada cardíaca, parece que o pastor está colocando a regra ditada em Romanos e faz isso usando o tradicional compromisso dos casamentos: até que a morte os separe! Se naquele momento a pessoa se vê obrigada e coagida a escolher apenas entre as opções de morrer e continuar casado (ainda que infeliz), parece óbvio que a segunda será a menos pior entre as opções.
Lamentavelmente, tem sido assim que muitas pessoas têm feito suas escolhas e tomado as decisões sobre suas vidas, inclusive a decisão de permanecer ou não num relacionamento. Nesses casos, as decisões estão controladas pelo medo, pela pressão emocional e social do grupo, pela angústia e pela opressão.
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É como se não houvesse outra escolha entre ser castigado e sofrer. O que aparentemente daria no mesmo, configura que numa delas o sofrimento é instantâneo e a carga emocional e psíquica é bem maior e por isso muitas pessoas preferem que ele venha em doses homeopáticas.  Mas o resultado é sempre o mesmo: fica sempre algo mal resolvido que certamente vai explodir noutro momento e de forma muito mais brutal.
Na minha experiência como terapeuta de casal, tenho visto, como já disse aqui no blog antes (veja), que muitos casais procuram a psicoterapia comportamental como último recurso antes de decidir ou não pela separação. Alguns, após o processo até optam por efetivar a separação, mas antes disso percorremos um interessante caminho para entender o histórico do casal, quais são as dificuldades enfrentadas, qual a opinião de cada um sobre os fatos, o que fizeram nos momentos de crise, como tentaram solucionar os problemas.
Enfim, buscamos encontrar a raiz dos problemas para assim o casal tomar a decisão mais adequada em função do(s) problema(s) em si e não pelos sintomas dos desentendimentos, brigas e regras que em muitos casos não são úteis às particularidades do casal. Experimente ter um casamento feliz.

Elídio Almeida

Psicólogo em Salvador, formado pela Universidade Federal da Bahia (UFBA) e especializado em Terapia de Casal e Relacionamentos (CRP). Possui também pós-graduação em Psicologia Clínica pela Universidade do Estado da Bahia (UNEB). Dedica-se à prática clínica, oferecendo acompanhamento terapêutico a casais, famílias e atendimento individual para adultos. Além disso, ministra cursos e palestras na área.

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