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A pandemia do novo coronavírus impõe a todos um contexto de medo. A incerteza do futuro ou a angústia do presente não deixam dúvidas que esse momento provoca danos e graves alterações psicológicas indiscriminadamente. Quando esses fatores são somados ao desgaste emocional provocado pelo distanciamento social, podem surgir comportamentos compulsivos, bem como precedentes para alguns vícios. Isso toca especialmente aqueles que podem ficar em casa nesse momento. Afinal, além da rotina alterada, também precisam lidar com o tempo ocioso. 

Diante desse cenário, muitas pessoas recorrem ao uso excessivo da tecnologia, redes sociais, do álcool ou das compras. Para este grupo, tais atitudes representam um meio de lidar com esse contexto adverso. Contudo, há nessa ação um problema iminente, geralmente negligenciado, mas que merece atenção. Ou seja, essas rotas de fuga podem favorecer a instalação de um hábito danoso ao abrir precedentes para alguns vícios e compulsões.

Tudo é ampliado

Recentemente, dei uma entrevista ao jornal Correio* falando sobre os desafios que os casais enfrentam na quarentena. Veja aqui. Na reportagem destaquei que, naturalmente, os problemas pessoais ganham uma proporção maior nesse período de pandemia. Ou seja, as questões que antes estavam adormecidas vem à tona e pioram ainda mais nesse contexto. De maneira similar, todos os dilemas cotidianamente vivenciados são agravados neste momentos de reclusão social.

Justamente por isso que o medo e angústia frente ao futuro desperta em algumas pessoas tendência aos vícios e compulsões. Esses  comportamentos danosos surgem como uma tentativa de driblar essa nova e complexa experiência imposta pela pandemia. Todavia, não é uma exclusividade desse momento. O mesmo pode ocorrer em qualquer evento que impacte emocionalmente em cada pessoa: morte, desemprego, solidão… independente do vetor.

Ocorre que é difícil identificar, dimensionar e sair desse ciclo vicioso sozinho. Assim, inadvertidamente, muitos tentam preencher essas lacunas com bebida, pornografia, drogas, compras, comida. Tudo isso não passa de tentativas desesperadas de lidar como a ansiedade e com as diversas questões psicológicas do momento. Assim, ainda que alguns encontrem alívio momentâneo por essas vias, esses paliativos não resolvem efetivamente as perturbações emocionais e psíquicas. Ao contrário, abrem brechas para que isso se torne um hábito. Da mesmo modo, tal prática pode evoluir para um vício.

Entre os vícios e compulsões que podem decorrer da pandemia estarão relacionados ao consumo de álcoól.
Entre os vícios e compulsões potencializados pela pandemia, estará o consumo de álcool.

Vícios e compulsões: tudo junto e misturado

O distanciamento social decorrente da pandemia, embora necessário nesse momento, produz muito mal-estar. Nesse contexto, todos estão privados de atividades sociais que faziam oposição à necessidade de estar em casa. Com isso, os lares unificaram (quase) todos os tipos de afazeres: trabalho e lazer, por exemplo. Desse modo, parte significativa da população entrou num estado elevado de aflição e estresse. Infelizmente, nem todos conseguem conduzir esse cenário de forma adequada e adotam paliativos que abrem caminhos para os vícios e as obsessões

Diante disso, cabe um alerta: pense nas consequências de suas escolhas. É certo que todos esses transtornos decorrentes da pandemia vão passar. Por isso, você não precisa prolongar tamanhas adversidades em sua vida. Embora o cenário não seja favorável, é importante buscar meios mais adequados para atravessar esse momento angustiante e delicado. Desse modo, qualquer atitude paliativa ou ineficaz deve ser colocada em xeque. Assim, os vícios e os comportamentos compulsivos serão evitados. Para isso, é fundamental pensar nos reflexos das escolhas que estão sendo feitas agora.

Elídio Almeida

Psicólogo em Salvador, formado pela Universidade Federal da Bahia (UFBA) e especializado em Terapia de Casal e Relacionamentos (CRP). Possui também pós-graduação em Psicologia Clínica pela Universidade do Estado da Bahia (UNEB). Dedica-se à prática clínica, oferecendo acompanhamento terapêutico a casais, famílias e atendimento individual para adultos. Além disso, ministra cursos e palestras na área.

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