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Segundo dados da PNAD-Contínua, 39 milhões de brasileiros sobrevivem em condições de subemprego. Tal categoria, diz respeito aos prestadores de serviços que não têm vínculo empregatício, bem como todos aqueles que vivem na informalidade. O conceito de subemprego não é novo, inclusive, é análogo a muitos relacionamentos amorosos. Afinal, muitas pessoas vivem namoros ou casamentos que facilmente poderiam ser classificados como sub-relacionamento. Isto é, um convívio amoroso no qual impera a fragilidade e precariedade dos vínculos entre os pares, além da evidente ausência de responsabilidade emocional entre o casal.

Infelizmente muitas pessoas vivem em relações precárias para apenas para dar uma resposta à sociedade
Infelizmente muitas pessoas vivem em relações precárias apenas para dar uma resposta à sociedade

O sub-relacionamento e a relação abusiva

O sub-relacionamento não deve ser confundido com a relação abusiva. Na primeira modalidade (sub-relacionamento), os pares frequentemente têm consciência e aceitam a precariedade da relação. Ou seja, para as pessoas que vivem relações amorosas desse tipo, qualquer sacrifício é válido para que a união seja mantida, apesar de todas as adversidades do convívio. Já na relação abusiva, é comum que uma das partes não tenha consciência dos abusos. Em outros casos, mesmo ciente dos abusos sofridos no relacionamento, ao menos uma parte não consegue agir ou acabar com a relação devido à insegurança generalizada, bem como ao medo de retaliações.

Em suma, no sub-relacionamento, todos esses aspectos são compreendidos como inerentes e necessários à sobrevivência do casal. Ou seja, todos esses abusos geralmente são vistos como um preço que naturalmente deve ser pago para que o namoro ou casamento se perpetue. Paralelamente, na relação abusiva os males são mantidos à custa das manipulações, chantagens e da coerção.

Condições e autoestima

A configuração e a existência de um sub-relacionamento não se dá ao acaso. Como qualquer outro convívio amoroso, sua construção e manutenção reflete, de algum modo, a trajetória pessoal dos pares que compõem o relacionamento. Desse modo, as referências de namoro/casamento trazidas pela história familiar e social dos pares, influenciam diretamente na estrutura afetiva do casal. Por exemplo, a referência pessoal trazida pelo modelo de relação apresentado dos pais. Não obstante, quando esses moldes são somados aos perfis emocionais de cada um, tem-se o tom da relação. Isso significa que as características pessoais somadas aos parâmetros de relação amorosa influenciam na vida do casal. Além disso, a baixa autoestima e poucas perspectivas para além daquele convívio, levam os pares a consentir com a ausência de bem-estar, consistência e felicidade na relação.

De maneira idêntica, essas pessoas acreditam que a precariedade do vínculo amoroso é algo normal dentro de um casamento. Na prática, amarguras como as traições e a renúncia da própria felicidade são condições para que a relação siga em frente. Não por acaso, tais acontecimentos frequentemente são relativizados ou plenamente aceitos. Isso é frequentemente observado nos casos em que as pessoas são infelizes, mas permanecem juntas pela mera conveniência de se manter numa relação.

Desse modo, o sub-relacionamento é um tipo de ligação similar ao subemprego. Em ambos, a relação é mantida superficialmente em função da conexão em si. Obviamente, sem maiores vínculos ou comprometimentos entre os agentes. Ou seja, tudo se resume ao cumprimento de deveres em toca de um possível retorno, ainda que seja apenas a crença que se vive uma relação. Por isso, o sub-relacionamento caracteriza-se por uniões pautadas em conveniências sociais, caracterizadas pela precariedade de elos emocionais, afetivos e de responsabilidade.

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As mulheres são as principais vítimas do sub-relacionamento

A triste herança histórico-cultural, ao lado da cobrança social para formar pares, bem como a limitação do relógio biológico para ter filhos, fazem das mulheres as principais vítimas do sub-relacionamento. Diante de tamanhas cobranças, muitas delas aceitam determinadas relações sem maiores critérios. Isso ocorre primordialmente para dar conta de demandas socialmente estabelecidas ou para cumprir um papel biológico. Obviamente os homens também são pressionados para formar famílias e ter filhos, mas não se compara à coerção sofrida por elas. Assim, as características inerentes aos relacionamentos como: respeito, felicidade, bem-estar, afeto, dentre outros, são frequentemente preteridos ou negligenciados pelas pessoas que se engajam em sub-relacionamentos.

Assim, para alterar essa triste realidade é necessário mudar toda a cadeia de construção e manutenção das relações na atualidade. É inadmissível que as pessoas continuem aceitando qualquer “pagamento” em prol de uma falsa percepção de vínculo. Isso vale tanto para as ligações amorosas, quanto para as empregatícias. Infelizmente, muitas pessoas são obrigadas a fazer escolhas precárias por questões de sobrevivência. Em outras situações, todos são vítimas de cobranças culturais que visam efetivamente dar respostas sociais a terceiros. Assim, mostra-se urgente a completa inversão dessa lógica de formação de pares em prol dos empregos, namoros ou casamentos melhores e saudáveis. Por isso, todos devem se questionar: viver num sub-relacionamento (seja ele qual for) vale a pena?

Elídio Almeida

Psicólogo em Salvador, formado pela Universidade Federal da Bahia (UFBA) e especializado em Terapia de Casal e Relacionamentos (CRP). Possui também pós-graduação em Psicologia Clínica pela Universidade do Estado da Bahia (UNEB). Dedica-se à prática clínica, oferecendo acompanhamento terapêutico a casais, famílias e atendimento individual para adultos. Além disso, ministra cursos e palestras na área.

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