Síndrome de Gabriela – Em 1958, o escritor baiano, Jorge Amado – que completaria 100 anos em 2012 – publicou o romance Gabriela, Cravo e Canela.
Na década de 70, este romance inspirou duas produções artísticas que se somariam para imortalizar a personagem principal da trama – Gabriela – vivida na televisão pela atriz Sônia Braga e caracterizada pela poesia e versos de Dorival Caymmi, na música Modinha para Gabriela, interpretada por Gal Costa.
Atualmente, a Rede Globo apresenta um remake da novela com Juliana Paes no papel principal; levando o Brasil, mais uma vez, a conhecer Gabriela.
“Eu nasci assim,
Eu cresci assim,
E sou mesmo assim,
Vou ser sempre assim,
Gabriela. Sempre Gabriela”.
Dorival Caymmi (1975)
Os versos acima não se limitam apenas a ilustrar a obra de Jorge, mas têm sido usados com muita frequência para descrever um transtorno psicológico que, embora nunca tenha sido descrito com esses termos nos manuais e obras de referências à psicologia, faz parte da caracterização de um padrão comportamental tão presente e conhecido em nossa sociedade: a Síndrome de Gabriela.
Você conhece a Síndrome de Gabriela?
Muito comum, os sintomas da “síndrome de Gabriela”, acomete milhares de pessoas que acreditam que nasceram de um jeito e que nunca mais poderão mudar, demonstrando atitudes de negação da mudança e resistência àquilo que é novo ou diferente dos padrões estabelecidos e, até então, vivenciados por aquela pessoa.
Em outras palavras, é o estado doentio do ser humano em não acreditar que pode alterar o curso de sua vida e passa a viver em função do seu conformismo e pessimismo.
Você conhece ou lembra de Hardy, a hiena pessimista? Então, parece que Hardy tem a síndrome de Gabriela. Repare no comportamento dela. Algo familiar? Pois bem, é mais ou menos assim que uma Gabriela se comporta.
Como reconhecer uma pessoa com a síndrome de Gabriela?
No geral são pessoas pessimistas e algumas frases são típicas de pessoas acometidas pela “síndrome de Gabriela”. As mais usuais são as seguintes:
- “Vamos fazer assim, pois sempre fizemos desta maneira”;
- “Sei que isto é bom, mas prefiro fazer do meu jeito”;
- “Eu sinto muito, mas sou assim”.
- “Nem vou tentar isso, porque sei que não vai dar certo”.
- “Sou assim desde criança, nem vou perder meu tempo para tentar mudar”.
Dentre os motivos que fazem com que estas pessoas se comportem de tal maneira, está a baixa autoestima, o medo de suas ações não darem certo, de errar ou de receber críticas.
Um “gabriela” pode ser assim durante toda a vida e passar a falsa imagem de que se conhece muito bem e se aceita da forma como é, enquanto, muitas vezes, sua atitude é para esconder seu autodesconhecimento e um sofrimento que o acompanha em sua vida.
Costumo sempre dizer a meus pacientes no consultório que, para termos resultados diferentes, devemos ter comportamentos diferentes. Afinal, se continuarmos agindo como sempre fizemos, teremos sempre as mesmas respostas.
Deixar de aceitar mudanças ou se fechar completamente para elas, pode causar ainda mais problemas no futuro, seja no campo pessoal ou profissional. As consequências de tal comportamento é o não crescimento na carreira, isolamento social ou extrema dificuldade em estabelecer e manter relações. É importante destacar que quem tem esse comportamento prejudica não só a si mesmo, mas todas as pessoas envolvidas nos contextos em que a síndrome impera.
Para quem sofre com a “síndrome da Gabriela”, o caminho é repensar as atitudes e começar a mudar de postura e seus comportamentos. O processo de mudança nem sempre é fácil: exige trabalho, planejamento e força de vontade. Por isso, muitos preferem continuar fazendo as mesmas coisas no trabalho e na vida pessoal, perdendo a oportunidade de conhecer novos caminhos, amadurecer e descobrir novas possibilidades. Mas não é fácil abandonar por completo hábitos e pensamentos que já estão enraizados em terreno profundo. Para isso, é importante ir devagar, senão a transformação corre o risco de ser apenas superficial, e tudo pode voltar ao que era.
Nesse sentido, é sempre mais agradável e seguro, quando estas mudanças são orientadas e acompanhadas por um profissional. A psicoterapia comportamental tem ajudado muitas pessoas a ampliar seu repertório comportamental, conhecer e experimentar novos formas de comportamento e, consequentemente, novos resultados; trazendo para suas vidas mais bem-estar e saúde emocional.
Gostaria de saber se há algum livro ou artigo que fala sobre essa síndrome.