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Dizem que casa de “ferreiro o espeto é de pau”. Hoje me faço valer desse ditado popular para abordar a temática da Frustração e a importância da mudança de comportarmentos. Em minha experiência como psicoterapeuta, já consegui ajudar várias pessoas a superar e resolver seus problemas. Contudo, até pouco tempo atrás, eu me sentia angustiado por não conseguir ser eficaz com essa ajuda para algumas pessoas próximas. Isso me deixou reflexivo. Mesmo sabendo que nem tudo é possível, chegou um momento em que senti a frustração por não ter sucesso na resolução de um caso relativamente simples. E é sobre esse caso que quero falar para vocês que seguem e acompanham meu Blog.

Quando decidi estudar psicologia, além do interesse em conhecer mais sobre o comportamento humano e, através desse conhecimento ter uma profissão, queria também ter uma função social. Ter uma função social é diferente de ter um status social. Isto é, de alguma forma, eu queria prestar um serviço que fosse útil às pessoas e à sociedade, independentemente do reconhecimento social que isso pudesse trazer.

frustração escada-rolante psicólogo em salvador

Não é milagre

Certamente você já tinha ouvido o ditado popular que diz que “santo de casa não faz milagres”? Pois bem, há algum atrás, minha mãe começou a sentir fobia de escada rolante; e isso começou a trazer muitos incômodos para ela. Somado a isso, temos que as escadas tradicionais não são bem-vindas, dada as limitações da idade e elevadores panorâmicos estão descartados no trajeto dela.

Agora, imagine uma ida ao shopping onde os principais acessos entre os andares são feitos pelas escadas rolantes, a maioria dos elevadores são panorâmicos e as escadas tradicionais possuem designers futuristas e pisos de vidro que causam extremo desconforto para ela. Quais seriam as possíveis soluções?

  1. Deixar de ir aos Shoppings?
  2. Ir apenas aos lugares onde não tenham escadas rolantes?
  3. Enfrentar o problema e tentar resolvê-lo?

A primeira sugestão foi logo descartada, afinal, privar minha mãe de ir a um lugar que ela gosta seria uma frustração extremamente desagradável, além do mais, a sorveteria favorita dela fica num shopping e não teria a menor graça levar sorvete do shopping pra casa, não é verdade?

A segunda até pareceu mais aceitável, pois poderíamos ficar apenas no primeiro piso do shopping; e ela mesma sugeriu irmos a um deles que tem várias lojas legais e duas sorveterias no térreo. E se tiver uma promoção no 3º andar, como é que vai experimentar e comprar um vestido, por exemplo? Assim, ficamos com a terceira opção, enfrentar e resolver o problema.

Frustração exige mudanças de ações par melhores resultados.

Tudo parecia fácil, porém, não foi bem assim que as coisas aconteceram. O problema é que as investidas pareciam não estar trazendo as respostas que eu esperava e comecei a desconfiar que estava fazendo algo errado. A frustração profissional foi tão grande que pensei que minha excelência profissional só teria efeito com pessoas desconhecidas e que não poderia ajudar parentes e amigos. Felizmente, mudei de ação e passei a me dedicar com mais atenção, racionalidade e profissionalismo ao caso. Fiz descobertas surpreendentes.

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Em nível de procedimentos para resolver o problema, estava tudo correto, a questão é que a relação mãe-filho teve um papel muito importante neste caso. A condição de filho me fez ter acesso privilegiado às informações sobre a origem do trauma e me dava condições de poder fazer um acompanhamento mais intenso. Todavia, eu não era o terapeuta dela, era o filho, e isso demandou uma abordagem diferenciada para poder aplicar técnicas e procedimentos, com vistas a atingir os objetivos de melhora.

Outra coisa que reparei, foi que estava sendo muito exigente comigo e com ela também, embora eu soubesse que as técnicas e procedimentos demandariam um tempo lógico para surtir efeitos. Quis, já nos primeiros momentos, fazer tudo ao mesmo tempo e colher resultados imediatos. Ainda assim, alguns resultados dessa superação até foram evidenciados, mas meu alto nível de exigência fez com que eu não os percebessem e provavelmente não tenham sido valorizados.

É preciso envergar os avanços.

Isso lembra um caso que tive, onde a mãe trouxe a filha para o consultório com queixa de que ela não falava nada dentro de casa. Segundo o relato da família a jovem “entrava muda e saia calada”. Iniciamos a psicoterapia e duas sessões depois a menina chegou em casa e disse um tremendo palavrão para a mãe. Imediatamente, a frustração da mãe a faz ligar e dizer que vai suspender as sessões de psicoterapia, pois a filha havia piorado.

Expliquei para ela que aquele não era um sinal de piora, mas sim de melhora e superação. Ou seja, antes a garota não falava nada, agora ela já expressa o que sente. Muito embora ela precise aprender a expressar seus sentimentos de forma adequada. Parece que o mesmo aconteceu comigo no caso de minha mãe. Acho que eu não estava observando os pequenos sinais de melhora e sim, querendo resultados mais substanciais.

Então, fiz as adequações necessárias ao andamento do caso, passei a ser mais parcimonioso com as expectativas de melhoras e investido cada vez mais nas técnicas e procedimentos para limar de vez a fobia que ela sentia. Inicialmente, discutimos sobre os riscos reais existentes na utilização de uma escada rolante, fizemos muitas observações e aproximações sucessivas, conversamos com técnicos de manutenção, experimentamos escadas menores, depois as maiores, até o momento em que ela se sentiu à vontade para subir e descer sozinha qualquer escada. 

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O aprendizado

Com isso, quero salientar que devemos ficar sempre atentos aos pequenos sinais de melhora e comportamentos adequados a cada situação. À medida que eles forem acontecendo, devemos reforçá-los. Desse modo é possível conscientizar e encorajar as pessoas a ir em frente. Este é o modelo para mães, pais, irmãos, amigos e, claro, pacientes.

Vale lembrar que a superação de alguns traumas é como aprender a andar. Isto é, primeiro exploramos o ambiente, engatinhamos, depois ficamos em pé. Somente depois damos os primeiros passos com algum apoio, até termos confiança em experimentar os primeiros passos sozinhos. Finalmente depois os passos vão ficando mais firmes, seguros até conseguirmos alçar corridas de pequenas, médias e longas distâncias.

Minha mãe, estou orgulhoso de você! Um beijo!

Elídio Almeida

Psicólogo em Salvador, formado pela Universidade Federal da Bahia (UFBA) e especializado em Terapia de Casal e Relacionamentos (CRP). Possui também pós-graduação em Psicologia Clínica pela Universidade do Estado da Bahia (UNEB). Dedica-se à prática clínica, oferecendo acompanhamento terapêutico a casais, famílias e atendimento individual para adultos. Além disso, ministra cursos e palestras na área.

7 Comments

  • Camila disse:

    Amei Elídio!!!Espero que um dia eu consiga correr, porque conseguir ficar em pé mas, voltei a engatinhar.

  • CAIO MUNIZ - MIUDNS disse:

    Muito lindo, Elídio! Parabéns pelo texto, pelo profissionalismo e por esse lindo amor à sua mãe. Abração, amigo.

  • Ivan Brafman disse:

    Boa tarde, Elídio!
    Antes de tudo, quero ressaltar e enaltecer seu cuidado e amor de filho por sua mãe. Parabéns!
    Talvez, no caso exposto – no princípio deve ter ocorrido por força do seu envolvimento emocional (inevítável e compreensível) -, uma certa determinação mais contundente gerada por seu objetivo imediatista de querer sanar o problema da sua mãe. Já que seu intuito era resgatar o sagrado direito dela poder continuar desfrutando de ir e vir ao shopping, quantas vezes quisesse: subindo e descendo as escadas rolantes, sem bloqueios e fobias. E não esqueça: “Santo de casa faz milagre sim”. E fez, pois foi graças à sua intervenção profissional, que o problema foi solucionado.
    Imagino, o quanto deve ter sido desconfortável, para sua mãe e muito mais para você, ter que superar e vencer este desafio dentro do âmbito familiar. Deve ter te deixado, terrivelmente, incomodado.
    Mais para alegria de ambos: mãe e filho, prevaleceu a satisfação de um resultado feliz e, hoje, com certeza as visitas na sorveteria devem ser constantes, assim como as compras em outras lojas, não importando se o destino da busca do que se quer está no primeiro ou no nono andar do shopping.
    Um forte abraço. Ivan Brafman – Rio de Janeiro.

  • Olá Ivan!
    Verdade, hoje estamos muito mais feliz com a resolutividade destes caso que foi de superação para ambos.
    Um abraço e obrigado!!

  • Rosana disse:

    Elídio
    Sou bancária a 20 anos e estou muito infeliz,frustada com a profissional, vou para o banco carregando um fardo imenso, quero ter uma nova profissão e não sei por onde começar, tenho 41 anos…acha que sou velha demais para o mercado de trabalho em uma nova atividade profissional…Como posso melhorar minha auto-estima….

  • Olá Rosana, bom dia!
    Obrigado pelo contato. Responderei diretamente no seu email.
    Um abraço.

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