O “divórcio do sono”, que se refere à prática de casais dormirem em quartos separados para melhorar a qualidade do sono, tem se tornado um tópico cada vez mais discutido. Uma das razões para essa repercussão não está apenas relacionada à proposta de melhorar a qualidade do sono e o bem-estar daqueles que sofrem com distúrbios do sono e seus cônjuges. Na verdade, muitas pessoas se espantam e rechaçam o “divórcio do sono”, acreditando que os eventuais benefícios não compensam o esforço de dormir separado. Elas agem dessa maneira, tomadas pela lógica de que o casal deve dormir junto para validar e fortalecer o vínculo afetivo.
Contudo, vários estudos atestam os benefícios dessa estratégia, com consequências positivas e eficazes para o bem-estar do relacionamento amoroso. Por isso, a aplicação “divórcio do sono” no contexto brasileiro enfrenta desafios significativos, tanto no âmbito socioeconômico quanto cultural. Compreender essas dificuldades é essencial para avaliar a viabilidade e os impactos dessa prática que desafiam os casais que dormem mal.
Se eu durmo melhor, por que não?
O “divórcio do sono” vem sendo estudado desde 2006. Em países desenvolvidos, ele é adotado como estratégia para melhorar a qualidade do sono de pessoas que sofrem de algum distúrbio do sono, trazendo mais qualidade de vida para o relacionamento amoroso. Uma das bases de sustentação para o “divórcio do sono”, apontada pelos pesquisadores, é a melhoria da experiência de dormir. Estudos indicam que, mesmo que apenas um dos parceiros tenha problemas para dormir, seu companheiro ou companheira é fortemente impactado pela má qualidade do sono. Portanto, os resultados do “divórcio do sono” são percebidos tanto por quem enfrenta questões do sono quanto por seu cônjuge.
Além disso, há fartas evidências de que dormir mal afeta o humor, a qualidade de vida das pessoas e seus relacionamentos, especialmente os amorosos. Nesse sentido, as pesquisas apontam que a pessoa que sofre de distúrbios do sono fica menos preocupada e ansiosa quando seu parceiro ou parceira não está na cama, o que lhe proporciona benefícios ao sono. Por outro lado, o companheiro também dorme melhor sozinho. Sem dúvidas, isso traz mais qualidade de vida para o dia a dia, refletindo em melhorias na vida amorosa do casal. Por isso, muitos pensam: “se eu durmo melhor, por que não?”. Contudo, nem todos compartilham dessa visão.
Críticas ao “Divórcio do Sono”
Os estudos que investigam o “divórcio do sono” são unânimes em destacar a preocupação que as pessoas têm quanto à possível perda do vínculo afetivo e à desconexão do casal. Tal receio, segundo os pesquisadores, reside na lógica amplamente propagada no meio social, cultural e, especialmente, no âmbito religioso. De acordo com essa perspectiva, todo casal deve dormir junto para validar e fortalecer o vínculo afetivo. Além disso, pessoas fortemente influenciadas por essa ideia acreditam que o casal dormindo separado é um sinal de que o relacionamento está em crise ou de que não existe mais amor. Portanto, é comum que muitas pessoas se espantem com o “divórcio do sono”, critiquem e reprovem essa estratégia antes mesmo de conhecer seus benefícios.
Por outro lado, nem todos conseguem abraçar a ideia de dormir separado. Para muitos casais, do ponto de vista prático, o “divórcio do sono” é inviável. Até mesmo para aqueles que não são impactados ou conseguem superar essas barreiras ideológicas e socialmente construídas. Uma das razões para essa inviabilidade é bastante óbvia: demanda a necessidade de uma cama extra e, muito provavelmente, de um quarto extra também. Sem dúvidas, essas limitações de espaço excluem a maioria das pessoas, especialmente no contexto brasileiro. Esse cenário é agravado pela densidade populacional nas moradias, onde, de acordo com o IBGE, 85% dos brasileiros vivem com outras pessoas. Assim, a prática do “divórcio do sono” se torna impraticável para a maioria dos brasileiros devido à falta de espaço adequado.
Casal unido dorme junto, mesmo que durma mal
Outro fator relevante são as barreiras culturais e religiosas que imperam entre os brasileiros. Afinal, a maioria das religiões impõe normas e condutas para os casais, constituindo um dos principais obstáculos à implementação do “divórcio do sono” no Brasil. O país, predominantemente cristão, valoriza fortemente a unidade conjugal e vê a prática de dormir juntos como um símbolo de compromisso e proximidade. Essa visão é reforçada por valores religiosos que associam a separação durante o sono a problemas no relacionamento. Isso, certamente, desencoraja muitos casais a adotarem a prática de dormir em quartos separados.
Essa perspectiva cultural e religiosa cria um estigma em torno do “divórcio do sono”, dificultando sua aceitação e implementação. Com isso, afasta a adesão a melhorias na qualidade do sono daqueles que sofrem com os distúrbios do sono. Inclusive, tamanha é a influência desses conceitos religiosos que até mesmo profissionais que lidam com as dificuldades de sono de seus pacientes são afetados por essas ideias dogmáticas, que prezam pelo sono compartilhado em detrimento da qualidade dessa experiência.
Aliança do sono
Em face desses contextos e desafios, é essencial reavaliar a abordagem do “divórcio do sono” no contexto brasileiro. Por isso, acredito que a substituição do termo por “aliança do sono”, uma nomenclatura que enfatiza a parceria e a cooperação entre os cônjuges, seja uma solução mais adequada. Essa abordagem visa mitigar barreiras e resistências frente aos valores culturais daqueles que veem o sono compartilhado como uma forma de união do casal. Afinal, mesmo em lares onde a separação de quartos seria uma opção viável, muitos pares relutam em adotá-la devido ao estigma associado à ideia de separação implícita no termo “divórcio”. Assim, ao invés de sugerir a separação – temida pela maioria dos casais – o termo “aliança” ressalta a importância de uma parceria voltada para o bem-estar mútuo, incentivando uma reflexão mais aberta sobre os benefícios de dormir em quartos separados.
Para finalizar, é essencial que tanto os profissionais de saúde quanto a sociedade se envolvam em um diálogo aberto e bem-informado sobre as alternativas para melhorar a qualidade do sono conjugal. Tudo isso, respeitando as particularidades culturais, religiosas e socioeconômicas do Brasil. Somente através de uma abordagem inclusiva e respeitosa será possível desenvolver soluções que promovam a qualidade de vida e fortaleçam os relacionamentos entre os casais brasileiros.
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